Da alfabetização à luta pela progressão da carreira no magistério, Izaias Ogliari era uma referência na educação| Foto: Arquivo da Família

Milhares de professores foram às ruas de Curitiba em 1978 em busca de direitos, acompanhando um movimento nacional de greve em plena ditadura militar. Naquele ano, o presidente da Associação de Professores do Paraná (APP-Sindicato), era Izaias Ogliari. Depois das manifestações, ele foi interrogado pela polícia sobre os motivos da paralisação. Como resposta, apenas colocou em cima da mesa seu contracheque, mostrando que os professores buscavam um salário que os valorizasse e uma carreira que sinalizasse futuro. Izaias carregou até o fim a luta pelo magistério, ao falecer aos 80 anos, no dia 25 de novembro, vítima de uma doença degenerativa.

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O caminho que o levou ao ensino começou na cidade natal, Videira (SC), onde frequentou uma escola rural. Adolescente, mudou-se para Jundiaí (SP) para estudar em um seminário. De lá veio a Curitiba, graduou-se em História Natural pela UFPR e passou a lecionar em diferentes escolas. A carreira começou em 1961, no Colégio Bom Jesus. Na época, poucos profissionais se interessavam pela parte de alfabetização dos pequenos. Izaias assumiu então o beabá, e a partir daí lecionou do primeiro ao quarto ano no antigo ginásio e depois embarcou também no ensino para o segundo grau.

Em paralelo às aulas de biologia, ciências e matemática, que muitas vezes tomavam manhã, tarde e noite, passou a frequentar reuniões e assembleias da Associação de Professores com a esposa, a professora de artes Regina Maria do Nascimento Ogliari. Algumas das principais lutas da época que os dois participaram foram pela progressão para o magistério e pela aposentadoria, assunto que mobilizou a ida em caravana para Brasília. "Lutávamos para o professor ser compreendido e para que tivesse condições de uma habilitação forte. O Izaias queria que tivessem uma carreira condicionada à vida profissional deles", relembra Regina.

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Izaias foi presidente da APP por três gestões e organizou sete congressos nacionais. Sua preocupação não era apenas com os estudantes e professores, ele pensava em todos os atores que faziam o ensino acontecer no Paraná, como os responsáveis pela merenda escolar, zeladores, professoras normalistas e demais profissionais sem os quais uma escola não funciona. Foi presidente da Associação Paranaense de Administradores Escolares (APADE), da Confederação dos Professores do Brasil, do Conselho do Magistério e da Federação de Entidades de Servidores Públicos do Paraná.

Durante sua trajetória, passou por diferentes governos, sempre mantendo a cordialidade e o diálogo e repetindo que não servia à política, governantes específicos ou partidos, e sim à educação. Foi membro do Conselho do Magistério da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Combateu a má informação para o consumidor na Coordenadoria de Orientação e Proteção ao Consumidor (CODEC), órgão que precedeu o Procon-PR.

Bastante ligado ao bairro Água Verde, onde morou por toda a vida, mantinha contato constante com os vizinhos, inclusive com a Arena da Baixada, a uma quadra de sua casa. Atleticano roxo, não perdia a chance de fazer uma visita. No tempo livre, lia. Religioso e solidário, "sempre se preocupava com o próximo, nunca pensou apenas nele mesmo", conta o filho, também professor, Cláudio Luís Nascimento Ogliari.

Além do reconhecimento contido na rotina de consultas profissionais e entrevistas, o respeito que inspirava veio por meio de homenagens, como a Ordem Estadual do Pinheiro, com a qual lhe foi conferido o grau de Comendador. Às brincadeiras dos amigos sobre como se referir a ele agora, se preferia ser chamado de Comendador Izaias, ele respondia: "Antes de tudo, professor". Izaias deixa esposa, cinco filhos, quatro netos e duas bisnetas.