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Nene Moletta morreu em 1.º de agosto
Nene Moletta morreu em 1.º de agosto| Foto: Arquivo da família

Ao percorrer a Nicola Pellanda, principal rua do Umbará, se destaca a visão da Paróquia São Pedro, igreja matriz do bairro. A imponente estrutura é ladeada por uma torre de 54 metros de altura e um barco dentro do qual se vê a representação do padroeiro São Pedro apontando para seguir em frente. Mais de 50 anos separam uma construção da outra, mas o que as une são as mãos da família Moletta, cujos integrantes foram responsáveis por erguer ambas – e tantas outras na região. José Nevir Moletta, empresário do ramo da construção que faleceu no dia 1.° de agosto, aos 68 anos, teve como sua última obra o barco, e colaborou por décadas com obras da igreja.

A torre foi construída pelo pai dele, Irineu Moletta, e inaugurada em 1957 como complemento da atual estrutura da igreja, que data de 1939. Seguindo as instruções que o arquiteto João de Mio enviava por cartas da Itália, Irineu colocou de pé a estrutura em 11 meses, e depois de subir até o topo para instalar o para-raios em meio a uma violenta ventania, prometeu que nunca mais subiria até ali. Mas a história da família com a construção civil não começa aí. Foi o avô de Irineu quem veio da Itália para Curitiba e passou a fazer trabalho braçal em obras da região.

As gerações posteriores sempre se envolveram com a área de trabalho, e José Nevir, mais conhecido como Nene Moletta, seguiu os passos tocando sua empresa de construção que desenvolvia uma variedade de projetos, mas principalmente residências. Compartilhava com o pai a característica de, ao observar o terreno onde ergueria uma estrutura, já visualizar o projeto pronto. Porém, diferente de Irineu, jamais desenhava seus planos, mantinha tudo na cabeça e nos pedidos que fazia à equipe.

A família lembra que os clientes e arquitetos ficavam impressionados com a capacidade de realização prática dele, que completou apenas o Ensino Fundamental e trabalhava feito adulto muito antes de concluir os estudos, assim como os irmãos. A maior parte do que aprendeu foi na lida diária, com o pai e com um ou outro livro que consultava em casa. O resultado desse aparente dom natural foi uma corrente de confiança forjada por quem recomendava seu trabalho e convites para que sua mão de obra fosse "exportada" para outras localidades brasileiras.

"Metade do que foi construído no Umbará tem o dedo dele", conta o irmão Ivo Moletta. Desde o antigo salão de cinema até o conserto do teto de uma igreja no Osternack, seu jeito exigente de coordenar era conhecido pela comunidade. Sempre ligado à administração de atividades ligadas à igreja, era incapaz de negar um pedido de ajuda na engenharia, e se ofendia caso o amigo ameaçasse pagar pelo conselho, que muitas vezes resolvia problemas na obra.

A rua fechada onde mora a maior parte da família - e que ficou conhecida na cidade pelo espetáculo de luzes de Natal, idealizado pelo irmão Antônio Vani Moletta em 1997 - sempre foi um tubo de ensaio para os projetos criativos dele e dos parentes. Lá o que reina é o capricho. Cada fonte, escada ou jardim é ornamentado pela atenção aos detalhes. A gruta ao final da rua, que se transforma em estrebaria para receber o presépio, foi montada pedra a pedra por Nene, sem usar uma única pá de concreto. A bordo de uma máquina, ele brincava com pedras de até 12 mil quilos como se fossem feitas de isopor, até encontrar o ponto certo que as faria encaixar e formar a estrutura.

Gostava de ver a família unida, de mutirões em que todos ajudavam e de uma boa festa. Fosse numa festa surpresa pelo aniversário de alguém querido ou pela aprovação do filho no vestibular, não poupava esforços para reunir quem amava. Tinha carinho especial por sua criação de galinhas e, para ele, o passeio perfeito era caminhar pela natureza, onde chamava pelo nome toda espécie de árvore que avistasse. Em um lugar onde se colecionam histórias como se fossem figurinhas douradas de um álbum, ele é protagonista de inúmeras.

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