Yara Sarmento: uma vida de luta pela valorização dos artistas

É tarefa impossível falar de artes cênicas no Paraná sem citar o nome de Yara Sarmento, falecida em abril aos 78 anos. Além de atriz, bailarina de dança flamenca e dubladora, foi diretora artística do Teatro Guaíra, uma das fundadoras e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão no Estado do Paraná (Sated-PR) e uma das idealizadoras do Troféu Gralha Azul. Ativista, lutou pelas leis de incentivo à cultura e pela profissionalização dos artistas e técnicos de teatro.

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Trabalhou no Teatro Guaíra – que passou de Fundação a Centro Cultural – de 1983 a 2010, quando se aposentou. De 1983 a 1985 foi diretora artística, na gestão de Oraci Gemba. O período se destacou pela criação da Orquestra Sinfônica do Paraná e pelos holofotes nacionais e internacionais conquistados pelo Balé Teatro Guaíra ao apresentar O Grande Circo Místico, espetáculo criado especialmente para a companhia, musicado por Edu Lobo e Chico Buarque e que chegou a ser performado no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

A partir de então, Yara continuou no Guaíra em cargos de assessoria, sempre prezando pela excelência e pelo respeito aos profissionais e ao teatro. “Tinha um caráter e um senso de justiça extraordinários. Adorava o Guaíra e tratava todos com muita dignidade”, relembra o ator e diretor Christo Dikoff, que trabalhou com ela tanto no Guaíra quanto no Sated.

Com Delcy e Edson D’Ávila e Aluísio e Luciana Querobim, foi uma das fundadoras do Sated, que começou como associação e visava defender os direitos da classe envolvida com as artes cênicas. A partir da sua instituição, com proposta de Waldir Manfredini, foi criado o Troféu Gralha Azul, maior premiação de reconhecimento dos profissionais do teatro no estado. No ano passado, o prêmio chegou à 38ª edição.

Na Assembleia Nacional Constituinte, em 1989, representou os interesses das entidades nacionais dos profissionais das artes cênicas. “Ela acreditava na cultura e nos artistas como algo transformador, amava isso e dedicou a vida a essa causa. Com uma inteligência acima da média, tinha um caráter inquestionável. Todos que a conheceram, na vida profissional ou pessoal, têm gratidão a ela”, conta Eliane Berger, atual presidente do Sated-PR.

Toda essa trajetória foi engrenada no Paraná em 1971, após seu retorno do Rio de Janeiro e São Paulo, onde morou por alguns anos por causa do ofício de atriz. Em 1964, a moça que nasceu e cresceu em Antonina, litoral do Paraná, criada até os dez anos pela avó, rumou para o Rio de Janeiro, onde estouraria como contratada da emissora recém-criada Rede Globo. Rumou para a antiga capital do Brasil já com bagagem de experiências artísticas em Curitiba, além de um diploma de Direito pela Universidade Federal do Paraná: atuou na Academia de Danças Espanholas de Bárbara Grand até a mudança e participou como bailarina de programas da TV Paranaense e da TV Paraná.

Fez programas vespertinos de apresentação, teleteatro com Sérgio Britto e até apresentação de telejornal. Entre as quatro novelas em que atuou na emissora estão A Moreninha e Um Rosto de Mulher. Em seguida trabalhou na TV Tupi e na Continental e continuou se apresentando no teatro em produções como Onde Canta o Sabiá, com Marília Pêra e Gracindo Junior, considerado o primeiro espetáculo pop do Brasil. Em São Paulo a partir de 1967, trabalhou em peças, teleteatros, no programa Silvio Santos e lecionou por dois anos para crianças surdas e com problemas de comunicação verbal.