Olexij (no meio) com seus irmãos: lembranças da vida na Ucrânia para as gerações mais novas.| Foto: Arquivo da família

Dos tempos em que o futuro era incerto e a comida era pouca, ficaram na memória de Olexij Jedyn os aprendizados. Mas não só. Ficaram também lembranças leves de uma criança que colhia frutas e pescava com os amigos nos alpes austríacos. Ele nasceu na Ucrânia em 1937 e passou com a família a época trágica da Segunda Guerra Mundial. Antes de imigrar com os pais e irmãos para o Brasil em 1948, passou alguns anos em um campo de refugiados na Áustria. Olexij faleceu no dia 19 de setembro sem parecer guardar rancores ou traumas, mas perpetuando relatos sobre esse importante momento histórico.

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A guerra fez com que a família criasse raízes em diferentes locais. Os pais Andreas e Paraska tiveram os filhos mais velhos, Olexandra e Olexij, na Ucrânia. Depois veio Peter, nascido em Lienz, na Áustria, e o caçula Gregório, no Brasil. Apesar de terem viajado de navio para o Brasil com várias outras famílias ucranianas na mesma situação, grande parte da família, tios, tias, permaneceram na terra natal. A correspondência era constante nos anos após a chegada e Olexij ajudava a escrever as cartas que serviam de consolo para a saudade.

Instalados em uma comunidade ucraniana em Paulo Frontin, município do Sul do Paraná, os Jedyn trataram de tocar a vida. Trabalharam com agricultura, na fabricação de sapatos, com mecânica e consertos em geral. Além do trabalho, Olexij gostava de se reunir com os amigos para jogar futebol ou vôlei. As crianças ajudavam nos afazeres, mas o estudo delas era prioritário para os patriarcas. A mudança para Curitiba se deu aos poucos, mas em 1969, no dia em que o Apollo 11 pousou na Lua, os últimos integrantes da família terminaram de fincar a bandeira na cidade.

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Na capital, Olexij assumiu de vez o ofício com o qual já ocupava parte do tempo em Paulo Frontin, o de eletricista de veículos. O trabalho se unia à paixão da juventude por carros antigos e o automobilismo. Com um amigo piloto, chegou a construir um veículo para corrida que deu suas voltas por aí e garantiu diversão aos amigos, mas não foi muito mais longe do que isso.

A bordo de carros ou de sua lambreta - que virou uma lenda na família - viajava para o litoral do Paraná para pescar, para os Campos Gerais visitar conhecidos ou outros locais que lhe parecessem interessantes. “Conforme o tempo passou, ele se aquietou, mas gostava de rememorar a vida e sempre teve algo pela linha do horizonte, de saber o que havia além do horizonte”, conta o irmão Peter Jedyn. Esse espírito de aventura lhe garantiu fama entre os sobrinhos, que adoravam ouvir suas histórias.

Além das revistas sobre Opalas e Mavericks que guardava na juventude, era um fã da leitura de livros. Fosse em português, ucraniano, russo, bielorrusso, ou alemão, lia de tudo um pouco, desde coleções de mistério a livros de aventura. Generoso e solidário, tinha uma disposição inesgotável para auxiliar família, amigos, ou quem quer que precisasse de sua ajuda. “Era aquele cara que tira a própria camisa para dar para o outro”, relembra a sobrinha e afilhada Larissa Jedyn.

Seu jeito de contar, com bordões e estilo próprio, permanece na memória. Fosse sobre as pescarias no rio Drava, que corta Lienz, sobre o canto e teatro praticados na escola austríaca, sobre a conserva de melancia cuja receita ninguém soube reproduzir ou sobre dividir o pouco pão que tinham com outras vítimas da guerra que pediam pelo caminho de trem até o campo de refugiados, as histórias que contou durante toda a vida dão conta de manter a memória de Olexij viva. Hoje, esses relatos são reproduzidos como tesouros pelas gerações mais jovens da família.

Olexij deixa esposa e três filhos.

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