| Foto: Arquivo da família

O pai adormecido toda noite com um livro na mão. Essa é uma das memórias mais marcantes que as filhas de Pericles Rodrigues Borges, que faleceu na última segunda-feira (03) aos 81 anos, vítima de complicações de uma pneumonia, têm dele. A fome pelos livros e pelo aprendizado moveu esse jornalista prático – aquele que não tem formação acadêmica na área, mas que prova seu profissionalismo pelo trabalho ao longo dos anos – que se tornou editor-chefe do mesmo jornal em que começou como jornaleiro, no Pará.

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O início de sua vida lhe exigiu garra. Criado apenas pela mãe faxineira, já que os irmãos e o pai morreram em decorrência da gripe, foi alfabetizado aos dez anos. Desde a entrada na escola percebeu que precisava sempre estar entre os alunos de destaque, como que para provar que, apesar de tardio, ele também podia ser brilhante. Era sempre o melhor aluno nas disciplinas, além de ganhar medalhas de remo e tênis de mesa.

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A família que cuidava do jornal O Liberal, onde ele começou a carreira na imprensa, percebeu naquele jornaleiro seu potencial de criação e investiu nele. Isso, sua inteligência e talento nato para a escrita, garantiu sua trajetória como jornalista, com passagens por diferentes veículos de comunicação, como a Rede Manchete e o Valeparaibano. Ocupou funções como colunista social e editor do caderno de turismo, o que brotou nele o gosto por viajar que o acompanharia por toda a vida.

Seja nas viagens ou em visitas a locais históricos, demonstrava o conhecimento que adquiriu por suas constantes leituras explicando o que aconteceu em cada local com tantos detalhes que isso lhe dava ares de guia turístico. Também se graduou em Direito, mas nunca exerceu a profissão.

Além do Pará, viveu no Rio de Janeiro e em São José dos Campos (SP) antes de se mudar, já aposentado, para Curitiba, no início dos anos 90. Se apaixonou pela beleza e limpeza da cidade durante uma de suas viagens turísticas além da educação dos moradores, segundo ele mesmo dizia. Além disso, viu na cidade a oportunidade para que as filhas, algumas em idade de vestibular, pudessem morar numa capital e ter acesso a uma boa educação.

Eterno namorado, era comum vê-lo andando de mãos dadas com a esposa, Regina, pela Rua Padre Anchieta, no Bigorrilho, mesmo que fosse para ir ao mercado. “Minha loirinha”, como ele a chamava, recebeu inúmeras poesias como homenagem, muitas delas em um livro que ele publicou com textos com esse e outros temas. “Ele dizia ‘eu te amo’ todos os dias para ela”, conta a filha e pedagoga Ana Gabriela Simões Borges.

Era sempre lembrado por sua extrema gentileza. Sensível aos mais necessitados, estava sempre pronto a ajudar quem precisava. Sua inteligência e uso das palavras também eram muito lembrados. “As pessoas contam que nunca sabiam como responder as felicitações de aniversário que ele dava porque nada saía à altura”, lembra Ana Gabriela. Dizia que se não era para elogiar uma pessoa ou dizer algo agradável, era melhor não dizer nada.

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Nessa vida de grandes paixões, também tinha lugar para a música. Tocava piano e levava sua gaita para qualquer lugar, esperando uma oportunidade de animar alguma festa com ela. Cozinheiro de mão cheia, tinha especial gosto pela culinária paraense. Comia açaí (o tradicional do Pará) todos os dias, enchendo as malas com a fruta congelada toda vez que visitava o estado.

Pericles deixa esposa, quatro filhas chamadas Ana e três netos.