A cidade de Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, abriga uma criação incomum de animais. É aos pés do Morro Anhangava que o empresário Davi Lima dos Santos, 38 anos, cria 130 lhamas, animal símbolo da Cordilheira dos Andes, típico de países sul-americanos como Bolívia, Chile, Argentina, Peru e Equador.
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A criação, que tem acompanhamento veterinário semanal, começou em 2001 por curiosidade do empreendedor. Quando tinha 21 anos, Davi foi a uma chácara em Piraquara, também na região de Curitiba, onde uma lhama era vendida por R$ 2,5 mil.
“Eu não tinha dinheiro suficiente e precisei emprestar do meu irmão. Comprei o animal e uma semana depois vendi por R$ 5 mil”, relembra Davi, dono da Lhamas Brasil, empresa que vende em média 15 filhotes por mês ao preço de R$ 7,5 mil cada.
O empreendedor, que sempre conviveu com bichos, viu nos mamíferos andinos a oportunidade de negócio. Mas nem ele imaginava que no Brasil havia tantos interessados por lhamas. Tanto que para atender a demanda, em 2003, Davi comprou 12 fêmeas e um macho de outro criador do Brasil para procriar.
“Como é para criação, é preciso que tenham mais fêmeas que machos. A gestação desses mamíferos dura quase um ano e eles só têm um filhote por vez”, explica. Em 2008, ele importou mais 60 animais do Chile para deslanchar de vez a criação.
Animal doméstico nos Andes, a lhama ainda é exótica em terras brasileiras. Da mesma família dos camelos, elas vivem entre 18 e 25 anos, têm a pelagem longa, da qual é possível extrair lã, medem entre 1,40 m e 2,40 m e podem chegar a pesar 150 kg.
A adaptação dos animais para o clima da região metropolitana de Curitiba, em especial o próximo da Serra do Mar, onde fica a propriedade em Campina Grande do Sul, não foi difícil. “Como as lhamas são preparadas para viver em lugares de climas extremos, a adaptação com o clima da região sul não foi difícil”, explica o criador.
Davi ainda explica que entre a lã e a pele do animal há uma espécie de termômetro que permite o organismo da lhama se adaptar a temperaturas tão opostas como o frio de -20°C e o calor de 50°C.
A criação inusitada acabou chamando a atenção de clientes do todo o Brasil. Os principais compradores estão em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Por mês, são vendidas, em média, 15 lhamas - todas filhotes. “Não vale a pena vender as adultas porque são reprodutoras. Por isso, vendo somente os filhotes”, afirma o criador.
Compradores
Mas, afinal, quem quer comprar uma lhama? “Algumas pessoas têm cachorro e outras preferem lhamas”, brinca o empresário.
Segundo Davi, muitos clientes adquirem os animais após viagem pela América do Sul. “Quando voltam para casa, eles começam a pesquisar quem vende lhamas e me encontram”, explica o empresário, que mantém um site de vendas e uma página no Facebook com contatos.
E, apesar do grande número de procura, Davi não vende os filhotes para qualquer cliente. “Só vendo para quem quer ter o animal para estimação, não para comê-los. Tenho muito amor pelos bichinhos e não consigo imaginar vender uma lhama para alguém que queira consumir o bicho. Não importa quanto dinheiro me ofereçam”, enfatiza. Apesar de a carne de lhama ser servida em alguns países andino, o animal também fornece lã e é usado para transporte de carga.
A impressão que as lhamas deixam entre quem se interessa por tê-las é tão boa, aponta Davi, que boa parte dos clientes leva mais de uma. “Às vezes eles chegam e dizem que vão levar no máximo cinco. Mas quando veem que o bicho é calmo, tranquilo, levam mais de dez”, relata.
A cor também pesa na escolha de quem vai adquirir uma lhama. “As pampas [com mistura de cores] são as mais procuradas. Pode vir o cliente e levar 16 lhamas, mas tem que ter uma colorida no meio”, conta Lima.
Para deixá-las ainda mais atraentes, o criador coloca brincos sem arame nas orelhas dos animais. E muitas delas também ganham nomes. “Boto nomes de atrizes e atores famosos. Como o Toretto, personagem interpretado pelo ator Vin Diesel no filme Velozes e Furiosos”, explica.
Criação
Davi garante que a lhama não dá muito mais trabalho do que criar um carneiro, por exemplo. “Lhamas são animais muito inteligentes e retornam o carinho que você dá para elas. Claro que não são como cachorros, que te esperam ansiosos quando volta para casa. Mas são extremamente carinhosas”, explica.
A alimentação também não é nada de outro mundo. As lhamas comem capim, feno e ração. No entanto, se acostumadas desde pequenas, podem comer frutas e vegetais, com preferência para as mais doces. “Tem gente que cria lhamas dentro de casa e serve frutas e vegetais na mesa, junto com a família”, conta Davi.
Para manter as 130 lhamas, Davi conta com a ajuda da mulher, Marta Trindade, e do filho Miquéias Lima, que apesar da pouca idade, 15 anos, já toma frente dos negócios do pai. Todos os dias, a família alimenta os animais adultos com ração e os filhotes com leite integral de vaca.
“Com 15 dias de vida, os filhotes já largam da mãe e começam a mamar leite integral de vaca na mamadeira. O desmame acontece com um pouco mais de um mês e então eles podem ser vendidos”, explica.
Sobre a fama de as lhamas serem estressadas e até cuspirem nas pessoas, Davi é enfático: elas são dóceis e dificilmente espirram seu muco, só quando se sentem ameaçadas. “As lhamas só cospem como mecanismo de defesa. Elas são muito calmas. Passo meses entre elas sem que se irritem desse jeito”, garante.
Moda lhama
Nos últimos meses, outro fator tem colaborado com Davi na venda das lhamas. A onde do animal andino na moda, estampado em roupas, pijamas, materiais escolares e até decoração só vem ajudando a Lhamas Brasil.
“Essa moda da criançada gostar de lhama chamou tanta atenção que aumentou minhas vendas. Tive que importar mais 130 lhamas adultas para reproduzir”, conta o criador.
“Eu acho que a moda das lhamas vai ficar por bastante tempo. Afinal, são animais que existem de verdade e as crianças se identificam. Diferente dos unicórnios, que não existem”, compara a esposa de Davi.
Vendo a tendência de mercado, Marta passou a costurar roupas com diversas estampas do animal e logo irá criar uma marca para difundir a ideia.
Já Davi está de olho novamente na fauna da Cordilheira dos Andes. Até o fim de 2019 ele pretende começar outra criação inusitada, de alpacas, mamífero da mesma espécie da lhama, mas cuja pelagem é mais longa e macia.
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