O tradicional prédio Belvedere da Praça João Cândido, em Curitiba, completou três anos de portas fechadas em maio. O imóvel do bairro São Francisco, que chegou a ser alvo de uma pequena ‘guerra’ na cidade, deve continuar às moscas ao menos até o início de 2018, para quando foi remarcada a nova data de instalação da Academia Paranaense de Letras (APL) no edifício. Quem convive perto do imóvel centenário teme que, até a lá, o uso da área por usuários de drogas, que voltou a preocupar, se torne ainda mais frequente.
Desde que foi desocupado pelo Centro Estadual de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis (Centro Pop Rua), em maio de 2014, o acesso ao prédio ficou descontrolado. Sede da primeira emissora de rádio do Paraná, chamada PRB-2, o casarão foi alvo de vândalos e virou mocó. Teve a fachada revitalizada, mas as pichações voltaram a se avolumar.
“A gente até vê guarda passando e circulando aqui, mas ele [Belvedere] continua assim, abandonado. Sempre tem pessoal de rua usando, fumando ali”, comenta o segurança particular Renato Rodrigues, de 53 anos, que trabalha perto da Praça João Cândido. A praça está no mapa da Operação Saturno, criada para manter ações permanentes de proteção em áreas estratégicas de Curitiba e evitar, segundo o próprio prefeito Rafael Greca, a formação de uma cracolândia na cidade.
Na manhã da última quinta-feira (22), a reportagem esteve no local e constatou que havia sinal de arrombamento na porta de entrada, embora o prédio estivesse trancado. Nos cerca de 40 minutos que a equipe permaneceu por ali, ninguém foi visto entrando ou saindo do casarão, mas roupas e calçados jogados na varanda em frente ao prédio indicavam uso recente do espaço.
O porteiro João Carlos Soares, de 59 anos, que quase sempre passa ao lado do Belvedere a caminho do trabalho, relata que o consumo de drogas é frequente, principalmente a partir das 22 horas. E acrescenta que o que mais assusta os frequentadores da praça, já que os assaltos não chegam a ser comuns na região, é mesmo a situação vulnerável gerada pelos usuários de entorpecentes. “Tem que ver isso aí depois das dez horas [da noite]. É muito degradado”, comenta.
Segundo o porteiro, a grande quantidade de pedintes, principalmente nos fins de semana, também costuma deixar os bancos da João Cândido vazios. “Sempre tem gente que aborda, pede moeda. E se você diz que não tem eles reclamam. Esse lugar aqui já foi bom, mas agora não dá pra vir. E se não for feito nada vai ser invadido de novo”.
A Polícia Militar (PM) afirma que faz policiamento preventivo, ostensivo e repressivo no bairro São Francisco, onde está o Belvedere, mas acrescenta que só detém suspeitos se há flagrante de crime ou delito. “Se esta pessoa não estiver cometendo nenhum ilícito, o ato de “dormir na rua” não é responsabilidade da Polícia Militar”, diz a nota enviada pela corporação.
A Guarda Municipal e a Fundação de Ação Social (FAS) foram procuradas, mas não responderam aos questionamentos da reportagem.
Novela
A novela da revitalização do Belvedere de Curitiba e da Praça João Cândido deveria ter ganhado um novo capítulo na última quinta-feira (22), com a assinatura do convênio que vai viabilizar a transferência de R$ 1,2 milhão em recursos de potencial construtivo da prefeitura para a restauração do espaço. Conforme o Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o encontro, no entanto, teve de ser reagendado para a próxima quinta (29).
“A prefeitura garantiu verbalmente que a verba vai sair. Assinaremos o convênio e, a partir disso, começamos a licitação para a obra. Acho que em 2018 vamos estar lá”, disse o presidente da Academia Paranaense de Letras Ernani Buchmann.
Mesmo em meio à crise financeira – que tem provocado episódios tensos com servidores municipais contrários à aprovação do projeto de ajuste fiscal nos moldes atual – a prefeitura garante, contudo, que os recursos para a revitalização da futura sede da APL não vão enfraquecer os cofres públicos.
Isso porque, segundo o Ippuc, o valor da restauração, que também vai ser feita em conjunto com a Fecomércio, é uma sobra dos recursos aplicados no restauro da subsede do Ministério Público do Paraná (MP-PR), na Avenida Marechal Floriano Peixoto.
A concessão do uso do espaço do Belvedere à APL foi determinada em uma lei estadual sancionada em dezembro de 2014. Pelo convênio firmado com o governo do Paraná, o prédio deverá ser um núcleo de ações de educação com ênfase na história do estado e nas áreas de língua e literatura nacional.
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