O furto dos registros de recalque, os chamados hidrantes, usados pelo Corpo de Bombeiros em caso de incêndio tem sido um transtorno para os administradores de edifícios no Centro, em Curitiba. Feitos com peças de bronze, eles ficam na calçada para uso de água em caso de emergência e atraem ladrões por causa do comércio clandestino ou para trocas em pontos de tráfico de drogas. Na semana passada, pelo menos dois prédios comerciais tiveram prejuízos com os furtos. Em um deles, o Edifício Augusta, na Alameda Dr. Muricy, o rombo nas contas do condomínio foi de aproximadamente R$ 6 mil, entre peças e custo com o desperdício de água.
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O contador Carlos Roberto Rodrigues, 74 anos, é síndico do Augusta há 25 anos e conta que o edifício foi furtado no último domingo à noite, por volta das 23h40. Rodrigues diz que os crimes ocorrem de tempos em tempos na região central. “É sempre o mesmo modo de agir. Eles chegam, olham se o hidrante é de bronze ou de latão, e avisam os outros do grupo se a peça é de valor. Usando ferramentas, eles vêm e retiram as peças”, conta ele.
O furto foi registrado pelas câmeras de segurança do condomínio. Nas imagens, é possível visualizar a ação da "gangue do hidrante": o motociclista se aproxima do local do hidrante, que fica sob uma tampa de ferro, próxima da porta de entrada do prédio. Depois, os outros suspeitos começam a trabalhar na retirada das peças do registro de recalque. A cena faz parecer que são técnicos trabalhando em algum reparo. Por isso, segundo o síndico, as pessoas não percebem que um furto está em andamento. “Chegam na maior cara de pau. De moto e capacete, ninguém vai reconhecer”, diz o síndico. O Augusta é um prédio comercial de 20 andares, mais sobrelojas e seis lojas térreas. “Todos ficaram um dia sem água, até que contornássemos parcialmente o problema”, reclamou.
Somente na quinta-feira passada veio a solução definitiva para a falta de água, com a instalação de peças novas no registro de recalque. “Há mais ou menos oito meses, o relógio da água também foi furtado. Nesse caso, o prejuízo foi menor porque a Sanepar faz uma média de consumo na hora de cobrar a conta”, disse Rodrigues.
A administração do Augusta calcula que tenham sido desperdiçados 73 mil litros de água, desde o furto no domingo até a chegada de uma funcionária na manhã de segunda-feira. “É praticamente um terço do que nós gastamos no mês. Tudo isso, por causa do furto, foi desperdiçado em um dia. Quando a servente chegou aqui, pela manhã, estava um caos. São R$ 6 mil de prejuízo, contando com o novo equipamento”, reclamou o síndico.
Troca por drogas
O Edifício Tibagi, na Rua Marechal Deodoro, passou pelo mesmo problema de furto na madrugada da última quarta-feira. Suspeitos também chegaram de moto e capacete. “O porteiro notou as batidas lá fora e verificou que o hidrante tinha sido furtado. Como vimos rápido, não tivemos muito custo financeiro, mas o serviço do hidrante não fica disponível para o uso da água em um caso de emergência. Isso compromete a nossa segurança e ficamos preocupados. O prédio tem 12 andares e uma grande circulação de pessoas”, disse o cartorário Erik Rodrigues, 34 anos, síndico do condomínio. “Por enquanto, sem contar com o vazamento de água, gastamos R$ 700 com a troca dos equipamentos”, relatou.
O empresário Paulo Zambrano, 40 anos, dono da Zambra Prev, empresa de materiais de prevenção de incêndio, conta que é comum esse tipo de furto para derretimento de peças ou trocas em pontos de drogas. “Pelo que escutamos por aí, é o que geralmente eles fazem. Infelizmente, há esse tipo de mercado”, aponta o empresário. Segundo Zambrano, a instalação desses equipamentos é feita utilizando peças que podem ser de bronze ou latão. “Vai depender da tubulação que passa entre o prédio e a calçada. Se for de cobre, usa peças de bronze por padrão. Se for de ferro, usa o latão como material. O que eles roubam é o disco de registro de gaveta bruto, a curva macho e fêmea e o adaptador de rosca onze fios. Eles podem ser de bronze”. Ainda de acordo com o empresário, o custo da instalação desses equipamentos varia entre R$ 600 e R$ 800.
O que diz a PM
A Polícia Militar foi questionada sobre as ações para combater o furto de registros de recalque no Centro e também se há incidência desse tipo de crime em outros bairros de Curitiba. Em nota, a PM informou que: “A 1ª Companhia do 12º Batalhão faz o patrulhamento na região Central com viaturas e módulos móveis, em pontos-base que são determinados por conta das estatísticas de crimes. A PM está diuturnamente empenhada em prestar o melhor serviço possível à população e todas as vezes em que é acionada pelo 190 ou quando as equipes policiais são abordadas na rua, faz o atendimento. Os casos serão analisados para que ações policiais específicas possam coibir esses crimes”.
O Corpo de Bombeiros também foi procurado pela Tribuna do Paraná para detalhar a utilização dos registros em situações de emergência, porém, a reportagem não obteve resposta da corporação.