A conclusão do prolongamento da Rua Agamenon Magalhães, esquematizado para ligar os bairros Jardim Botânico e Capão da Imbuia ao Tarumã, em Curitiba, esbarra em um imbróglio. De um lado, a prefeitura avançou na execução da obra sem antes desocupar a área incorporada ao projeto. Por outro, famílias que terão de deixar suas casas alegam posse legítima dos terrenos e questionam falta de diálogo para resolver o impasse. Enquanto isso, a via, que levou R$ 7,2 milhões dos cofres públicos, não faz a ligação que deveria fazer e segue sendo uma rua sem saída.
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“Uma rua linda dessa, achei que iria direto [até a Avenida Victor Ferreira do Amaral]. Que absurdo”, comentou um motorista que teve de fazer meia volta e usar outro caminho para chegar ao Tarumã. Foi apenas um de um conjunto grande pego de surpresa no período em que a reportagem esteve por ali: aproximadamente uma hora.
Os trabalhos para revitalizar o trecho da Rua Governador Agamenon Magalhães entre a Rua Nicolau Gulbino e a Avenida Victor Ferreira do Amaral começaram em maio do ano passado. À época, a prefeitura estabeleceu prazo de dez meses para concluir a revitalização, mesmo sem ainda ter fechado acordo com famílias que vivem em áreas incorporadas pelo projeto. Boa parte delas se recusou a deixar o local antes de um acordo viável e, por isso, as obras foram suspensas.
“Meu sogro e o dono do outro terreno compraram aqui de uma imobiliária há 24 anos. Eles não tinham estudo, podem ter sido enganados, mas nós temos os documentos que comprovam a compra. Em 2007, depois que a prefeitura apareceu como dona, fomos na Cohab para fazer um processo de regularização. Até então a gente achava que ia dar certo”, explicou Jackson Luiz Lima, um dos moradores afetados pela obra.
Segundo ele, onze famílias vivem na área que agora pertence à prefeitura. “O que eles nos ofereceram foi um apartamento da Cohab pra gente pagar aluguel por dois anos. Mas eu não quero pagar aluguel por dois anos e depois ir sei lá pra onde. Quero algo que eu possa comprar depois”, acrescentou o morador.
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Em retirada
Mário Aquino Elias, de 66 anos, é dono de uma empresa que fica no caminho da obra. Ele conta que foi avisado pela prefeitura sobre a posse do terreno em setembro do ano passado e, por isso, teve de recuar sua construção em cerca de 600 metros quadrados. “Eu sabia que era uma área da prefeitura, por isso fiquei quietinho e voltei para o meu lugar”, disse.
Segundo ele, mesmo com as placas que impedem a passagem de carros no trecho onde a via ainda não terminou - uma parte de cerca de 70 metros entre duas partes já prontas - , muita gente ultrapassa o bloqueio em um caminho que foi improvisado sobretudo por motoqueiros. Mas isso nem sempre dá certo.
“Eles vêm de carro e passam mesmo. Um carro esses dias quase tombou no barranco tentando passar. Tinha que pedir para a prefeitura, já que não termina aqui, interromper de vez a passagem porque é perigoso”.
Na Justiça
Em nota, a prefeitura confirmou que o caso está na Justiça e que, em primeira instância, a Justiça já reconheceu que os moradores estão em área de invasão.
“Para continuar os trabalhos, a Secretaria Municipal de Obras Públicas espera que seja cumprida a reintegração de posse da área. Faltam cerca de 70 metros para concluir a obra, exatamente o local onde ainda estão as casas. Quando a obra for retomada, em um prazo de um mês e meio ela será concluída”, diz o texto ressaltando que 90% da obra já está concluída.
Segundo a secretaria, das onze famílias que permaneceram na área, oito estão em negociação com a Cohab para serem reassentados. Três famílias já passaram por esse processo.