Logo na primeira arrancada do passeio, um mandamento curitibano se impõe: fechar a japona! (ou jaqueta, para quem ainda não é íntimo do idioma do leite quente). Não há como fugir do vento no segundo andar do ônibus da Linha Turismo, rota especial que percorre os principais pontos turísticos de Curitiba. Mas nada que estrague o passeio: quem faz sai encantado com a limpeza, as áreas verdes e a pluralidade da cidade.
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A reportagem da Gazeta do Povo fez o percurso numa tarde de sábado, quando nem o tempinho cinza, tipicamente curitibano, espantou os turistas vindos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e até
de Argentina e Uruguai.
E, de todos eles, o comentário era quase um só: uma cidade limpa e verde – tão verde que alguns tinham que desviar dos galhos que avançavam contra a carroceria ao longo do roteiro.
“Aqui de cima, você tem uma visão bem melhor da cidade: a gente vê o desenho das praças, a limpeza, a arborização. São coisas que, de baixo, não se nota”, afirma a catarinense Lilian Viana Reitz, de 58 anos. Ela já havia feito o passeio da Linha Turismo na década passada, quando ainda eram usados ônibus convencionais. Os veículos de dois andares, adotados em 2008, apesar do vento que faz voar os cabelos no andar de cima, deram outra graça ao percurso, segundo ela.
As várias Curitibas
O ônibus atravessa a cidade: sai do centro histórico, vai ao Jardim Botânico (atrativo que desperta o maior interesse dos turistas), passa pelos principais parques da cidade, como o Tanguá, o Tingui e o Barigüi, oferece uma vista privilegiada do olho do Museu Oscar Niemeyer e ainda faz uma parada em Santa Felicidade, quando o cheiro de frango com polenta invade as narinas. Uma narração em áudio dá detalhes sobre cada um dos 25 atrativos percorridos, em português, inglês, espanhol e francês.
O trajeto completo dura pouco menos de três horas. Mas é possível desembarcar em quantos pontos turísticos você quiser, ou voltar a embarcar no dia seguinte – o cartão que dá acesso à linha é válido por 24 horas.
“O que eu acho mais interessante é que são várias Curitibas: a Curitiba dos parques, da imigração italiana, polonesa, a urbana, o centro histórico”, diz a professora Ileizi Fiorelli, 52, natural de Londrina. Ela é fã do passeio: era a quarta vez que pegava a linha. Dessa vez, levava a irmã, a também londrinense Marcella Fiorelli, 37, e a sobrinha Ana Laura, de apenas 6 anos, que faziam o percurso pela primeira vez. A menina estava especialmente empolgada: havia passado a manhã monitorando a chuva na janela, torcendo para que o tempo firmasse para pegar o ônibus. Do que mais gostou? Do ônibus. “Só subir no ônibus, daqui de cima, já é um passeio para ela”, dizia a mãe Marcella.
A professora londrinense diz que, do alto do ônibus, “a gente vê a vida, mesmo”. Dá para sentir o cheiro do churrasco sendo preparado nas casas, ver os moradores cortarem a grama e eventualmente bisbilhotar os escritórios nas janelas do centro da cidade. “Dá para ver inclusive pichação, pedintes, policiais abordando moradores.” Nada que desabonasse a cidade, segundo ela.
Mas algumas críticas apareceram: o médico argentino Gustavo Rivas Jordan achou que havia poucas árvores no centro, um contraste com o paredão verde que impressiona o turista na região norte da cidade, nas proximidades do Parque Tingui. A maringaense Maria Ancila Palmieri se queixou das calçadas irregulares, e da distância de algumas paradas do ônibus até os pontos turísticos. “Essas calçadas de pedra portuguesa são uma riqueza, uma coisa muito cara, de primeira. Mas há muitos trechos malconservados, com desnível, poça de água; achei uma pena. E mesmo de ônibus a gente tem que andar”, comentou.
Experiência positiva
Desde 2014, o número de turistas que embarca no passeio vem caindo um pouquinho ano a ano. Ainda assim, segundo a prefeitura de Curitiba, a maior parte dos passageiros elogia o percurso. Em uma pesquisa realizada no ano passado, os usuários do ônibus deram nota 9 à Linha Turismo. Entre os adjetivos mais usados para descrever a experiência, estavam “ótima”, “maravilhosa” e “interessante”.
E isso se confirma nos relatos dos passageiros ouvidos pela reportagem. “Até do clima eu gosto. Eu vim por causa disso também: gosto, adoro frio”, se entusiasmava o paulista Robson Souza, 53, que visitava a cidade pela primeira vez. Ao seu lado, a esposa Mariana Souza, 50, com o cachecol nas orelhas, não era das mais entusiasmadas com o céu nublado. Mas também elogiava a capital: “Como é limpo aqui! Até no Centro. E o que tem de ônibus, nossa! Muito ônibus, e tudo supertranquilo”.
Assim como esse casal de Americana, no interior de São Paulo, boa parte dos turistas sonhava em conhecer Curitiba. “Eu amei. Vocês são muito criativos: até de uma torre de telefone fazem um ponto turístico. Pedreira desativada? Também. É uma inspiração”, dizia a gaúcha Nidia Cardoso, 60, de Novo Hamburgo, que viajava com o filho.
Outros tiveram o preço como chamariz: em comparação a outras capitais brasileiras, os hotéis e voos para a capital paranaense saíam mais em conta. “Os valores estavam muito acessíveis; é um turismo barato”, diz a carioca Fabrícia Luque, 41, que viajava ao lado do filho Arthur, de 6 anos, e da mãe Sandra Luque, 64. Eles celebravam o Dia das Mães na linha Turismo: iam fazer o percurso de três horas na íntegra, para só depois escolher os pontos em que desceriam.
A Linha Turismo percorre trechos do Centro, Rebouças, Jardim Botânico, Centro Cívico, Pilarzinho, Santa Felicidade, Mossunguê e Mercês. A rota atrai pouco mais de 500 mil pessoas por ano, a maioria de fora. Mas curitibano também pode fazer o trajeto: só não pode esquecer a japona.
Serviço:
Com a aquisição do cartão-transporte, no valor de R$ 50,00, os embarques são ilimitados em todos os atrativos do percurso pelo período de 24 horas. Ao descer em uma das paradas, o reembarque no próximo ônibus é possível a cada 30 minutos. O serviço opera regularmente de terça a domingo, a partir das 9 horas até as 17horas e 30 minutos, com saída inicial na Praça Tiradentes, no centro da cidade. Nos períodos de férias de julho e de dezembro a fevereiro, a Linha Turismo passa a funcionar todos os dias.
Observações:
1 - Não opera às segundas-feiras (Exceto no período de férias escolares e em feriados nacionais);
2 - O ponto inicial fica na Praça Tiradentes;
3 - O horário de operação da linha é das 9h às 17h30, a cada 30 minutos;
4 - Os cartões de embarque podem ser adquiridos diretamente nos ônibus, em qualquer ponto de embarque, ou na URBS - Rodoferroviária - Bloco Central (Av. Pres. Affonso Camargo, 330 - Bairro: Jardim Botânico). Horário de atendimento: das 12h30 às 18h30 em dias úteis;
5 - O cartão é de uso individual e a reutilização no mesmo veículo só pode ser feita após 30 (trinta) minutos.
6 - A forma de pagamento do cartão de embarque da Linha Turismo é somente em dinheiro.
7 - Crianças até 5 anos não pagam a tarifa;
8 - Somente os ônibus identificados com "adesivo Bicicleta" fixado na porta traseira tem possibilidade de transporte de bicicleta ou carrinho de bebê;
9 - Não será possível fazer o passeio completo se embarcar no último horário do ônibus. Observe o display do ônibus que indica o horário que o veículo para de operar quando chega à Praça Tiradentes.
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