A inflação em Curitiba, que foi de apenas 0,08% em fevereiro, abaixo do índice nacional (0,25%), tem um diferencial em relação às maiores capitais brasileiras: o gasto dos curitibanos com o transporte por aplicativo – como Uber, 99 e Cabify, entre outros – não entra no cálculo. As novas opções de locomoção entraram no radar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em janeiro, quando foi atualizada a cesta de itens pesquisados. Mas três capitais ficaram de fora da novidade.
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Segundo o gerente de Índices de Preços ao Consumidor do IBGE, Pedro Kiflanov, isso ocorre porque na época da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2017-2018, que embasou a atualização da cesta de itens da inflação, o transporte por aplicativo ainda não estava bem difundido entre a população. Ele destaca ainda a questão da regulamentação, feita por decreto em julho de 2017, que chegou quando a POF já estava em estágio avançado. Em São Paulo, por exemplo, a regulamentação ocorreu um ano antes, em julho de 2016.
Nas capitais e regiões metropolitanas em que o transporte por aplicativo não atingiu ao menos 0,07% dos gastos familiares, ele ficou de fora da cesta. Dos 16 locais pesquisados pelo IBGE, apenas três estão nesta situação: Curitiba, Belém e Rio Branco. “Nesse caso, o item transporte por aplicativo ficou fora da estrutura. Não vai entrar até a próxima atualização da POF”, explicou Kiflanov. Isto é: a tendência é que demore alguns anos para o curitibano saber a variação do preço do produto.
A POF anterior foi feita em 2008 e 2009, a qual embasou mudanças na pesquisa da inflação em 2012 – outras alterações ocorreram em 2006 (POF de 2002-2003) e 1999 (POF 1995-1996). Segundo Klifanov, a atualização deveria ocorrer idealmente a cada cinco anos. “Existem outras formas de fazer a atualização, seja por uma POF contínua, menor, mas realizada continuamente, ou um ajuste via contas nacionais. Estamos estudando por enquanto”, relatou o gerente do IBGE.
No Brasil, o transporte por aplicativo teve variação de -2,06% em fevereiro. O gasto das famílias com o serviço representou 0,21% dos orçamentos, semelhante ao desembolsado com táxi (0,20%). Em Curitiba, a participação dos táxis nas despesas familiares foi menor do que 0,07% no mês, e por isso nem foi contabilizado. No item Transportes, o maior peso para o curitibano é o de carro próprio, que consumiu 15,3% dos orçamentos pessoais – mas que teve queda de preço em relação ao mês anterior (-0,13%).
Para o economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a falta do transporte por aplicativo na cesta da inflação de Curitiba não deve causar impacto significativo. “Esse serviço não tinha representatividade na época da pesquisa. Possivelmente a realidade agora é diferente, mas por mais que isso ocorra, ele não tem um peso tão significativo se considerarmos todas as famílias, e por isso o risco de a pesquisa ficar distorcida é pequeno”.
Entretanto, Silva pondera que é importante que o IBGE encontre novos meios de atualizar a cesta de itens pesquisados para medir a inflação, para evitar um lapso de anos. “Claro que há questões de sigilo fiscal, mas o programa Nota Paraná, por exemplo, tem todas as informações do que foi comprado e quanto foi pago”, observa.
Itens em Curitiba
Em fevereiro, o item que mais pesou no bolso do curitibano foi Educação, com variação de 2,88%, pela alta no preço de mensalidades. Em seguida, aparece Saúde e cuidados pessoais, com variação de 1,11%. Também tiveram alta os itens Artigos de residência (0,28%), Vestuário (0,01%). Despesas pessoais (0,33%) e Comunicação (0,06%).
Dois itens apresentaram queda: Transportes (-0,63%), pelo movimento de preços de combustíveis e menor gasto das famílias com transporte público; e Habitação (-0,56%), favorecido pelos menores gastos com gás de botijão e condomínio. Os porcentuais todos se referem ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação das famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos e é o índice oficial do Brasil.
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