Guarda Municipal no Largo da Ordem: centro histórico foi palco de conflito no carnaval.| Foto: Gerson Kleina/Tribuna do Paraná
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Tradicional ponto de encontro de Curitiba, o Largo da Ordem virou um dos destinos naturais de moradores e turistas que querem brincar o carnaval na rua. Mas, sem sua inclusão na programação oficial da cidade e, com isso, sem nenhuma estrutura prevista de apoio, trânsito e, principalmente, segurança, destacada para o local - nem por parte da prefeitura, nem dos organizadores -, as três primeiras noites foram de folia e também de confusão, vandalismo e confrontos de alguns frequentadores do Centro Histórico da capital com a Guarda Municipal e a Polícia Militar.

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Durante o pré-carnaval, Curitiba tem uma programação oficial com festas de rua. O Bloco Garibaldis e Sacis, por exemplo, saiu em dois domingos (9 e 16 de fevereiro) com todo o respaldo da prefeitura, como isolamento da área de passagem do bloco, reforço na segurança e desvio do trânsito. Nos quatro dias de carnaval, no entanto, a programação oficial de rua incluía o desfile das escolas de samba, o “Carnaval Nerd” e a Zombie Walk”. Outras festas de rua foram improvisadas pelos próprios foliões e o Largo da Ordem, um dos principais locais escolhidos.

Fora do calendário oficial, o local não recebeu atenção especial da administração pública e dos órgãos de segurança. E os organizadores da festa, que se mobilizaram pelas redes sociais, também não providenciaram uma estrutura para os participantes. Carros circularam normalmente em meio aos foliões (o que teria, segundo relatos de alguns presentes, desencadeado as primeiras confusões na noite de sábado), não havia nenhuma estrutura como pontos de apoio ou banheiros químicos, por exemplo, e o efetivo da guarda municipal nas duas primeiras noites era de apenas 20 agentes.

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Depois de dois dias com registro de tumulto, o efetivo da Guarda foi ampliado na noite de segunda-feira, a Polícia Militar reforçou a segurança, mas as ocorrências se repetiram. Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar), o carnaval de Curitiba foi subestimado. “As equipes de fiscalização de Curitiba e do Estado não estão preparados para trabalhar no reativo ou preventivo em festas de aglomeração convocadas pela internet em eventos clandestinos sem apoio oficial. É de conhecimento de todos que a AIFU (Ação Integrada de Fiscalização Urbana), que seria a responsável pela atuação em eventos deste porte, deveria ter agido preventivamente”, disse. Para ele, faltou, ainda, inteligência policial nas abordagens. “É preciso rever as formas de atuação e procedimentos, principalmente aprimorar os mecanismos de prevenção em aglomerações como estas que ocorreram no carnaval. As pessoas vão fazer o que é justo, que é aproveitar os equipamentos e locais públicos da cidade”.

A Guarda Municipal informou que manterá, para esta terça-feira, seus três módulos móveis no Largo da Ordem e o efetivo chegará a 100 agentes. A Polícia Militar reforça a segurança com 150 policiais.

Efetivo era suficiente, diz a Guarda Municipal

O comandante do policiamento de Curitiba, coronel Hudson Leôncio Teixeira, negou que tenha faltado atenção das autoridades para a aglomeração no Largo da Ordem. "Nós vamos antecipar um pouco o policiamento. A Guarda Municipal faz o primeiro perímetro e a Polícia Militar a aproximação, quando as pessoas chegam e quando vão embora. O efetivo de 150 policiais militares e 100 guardas municipais é suficiente para um evento como o Atletiba, por exemplo, e é mais do que o necessário", afirmou.

O diretor da Guarda Municipal, Carlos Celso dos Santos Junior, destacou que nos eventos oficiais, promovidos pela prefeitura, não foi registrada nenhuma ocorrência. “Na Marechal e na Santos Andrade, não tivemos nenhuma ocorrência. Estamos tendo uma outra situação no Centro Histórico, onde poucos baderneiros estão vindo apenas com o intuito de fazer bagunça. Os vândalos se concentraram no centro e a polícia já está analisando as imagens para poder identificá-los”, disse o diretor da Guarda Municipal, Carlos Celso dos Santos Junior. “A guarda está aqui para proteger as pessoas e o patrimônio da cidade, mas se for agredida, precisa responder. Se houver necessidade, vamos fazer novos encaminhamentos para as delegacias de polícia”, concluiu, dizendo que o curitibano que quiser brincar o carnaval nesta terça-feira, pode ir para o Centro Histórico de Curitiba que estará seguro.

Professora de artes, Luciana Pacheco Favoretto mobilizou um grande número de curitibanos com um texto “Querem acabar com o nosso Largo da Ordem”, divulgado, nesta terça, nas redes sociais. À Gazeta ela criticou a forma como os frequentadores do Largo da Ordem vêm sendo tratados pelo poder público.

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“Não é despreparo da polícia. A polícia é muito bem preparada, tanto que, quando atuou, na Zombie Walk, por exemplo, com 30 mil pessoas, não houve nenhuma ocorrência. Mas, no Largo, foi exatamente ao contrário, parece uma estratégia de marginalizar o público do Largo, e não é de hoje”, comenta.

A artista, que esteve no Centro Histórico na noite de domingo relata que a confusão começou porque, sem isolamento do perímetro, carros tentavam passar pelo meio da multidão, em ruas como a Rua do Rosário, o que gerou os primeiros desentendimentos. “A piazada bateu na lataria dos carros, reclamando de eles quererem passar por ali. A polícia foi acionada, mas já chegou reprimindo a massa toda. Não para resolver o problema pontual, mas para dispersar todo mundo que estava lá brincando o carnaval. E é lógico que isso gera revolta e o povo reage”.

Ela ainda critica a ausência do Largo na programação oficial do carnaval da cidade. “Os bloquinhos do pré-carnaval demonstram que o povo quer ir pra rua e pro Largo da Ordem. E o povo realmente foi, mas não havia estrutura nenhuma. Não colocaram nem banheiro químico para as pessoas e depois a polícia reprimiu quem estava fazendo xixi na rua”.

Não estava previsto carnaval no Largo, afirma a prefeitura

Em nota, a Prefeitura de Curitiba afirmou que “que executou todas as ações previstas no projeto do Carnaval 2020, fornecendo em todos os eventos oficiais a infraestrutura necessária para a segurança e o bem-estar da população”.

A nota diz que a programação oferecida pela Prefeitura no último final de semana, dias 22 e 23 de fevereiro, aconteceu no eixo Boca Maldita, Praça Santos Andrade e Avenida Marechal Deodoro, e reuniu milhares de pessoas sem qualquer ocorrência. Esses locais foram plenamente atendidos com a presença da Guarda Municipal, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, ambulâncias e 200 banheiros químicos.

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“Não havia ação de carnaval da Prefeitura prevista para acontecer no Largo da Ordem neste final de semana. No período de pré-carnaval, de 3 de janeiro a 16 de fevereiro, a Prefeitura lançou edital de cadastramento de blocos pré-carnavalescos independentes, organizados via redes sociais, e teve o cuidado de colocar no Largo da Ordem e nas Ruínas de São Francisco a infraestrutura básica, com segurança e banheiros químicos, para atender esse público”, prossegue, concluindo que mobilizou emergencialmente equipes de limpeza pública para a região do Largo da Ordem desde segunda-feira.