Na música pop brasileira do século 21, não há história igual à da Banda Mais Bonita da Cidade. Formado despretensiosamente em Curitiba no ano 2009, o quinteto acordou um dia com o estrondo de um sucesso nacional.
Os músicos, então na faixa dos 20 anos, se viram tragados num circuito de superexposição que teve lados muitos bons, e alguns nem tanto, e os jogou na estrada desde então.
Foram 440 shows em todas as regiões do país. Este ciclo de dez anos será celebrado com um show no próximo dia 20 de outubro, no Teatro Bom Jesus. Os ingressos estão à venda a partir de R$ 25 e podem ser comprados aqui
Segundo a vocalista Uyara Torrente, a ideia é “celebrar os dez anos, fechar um ciclo e começar um novo que ninguém sabe direito como será”.
A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou parte de um dos ensaios em um estúdio no bairro do Ahú da banda atualmente formada por Uyara Torrente (vocalista), Vinícius Nisi (tecladista), Eduardo Rozeira (guitarrista), Marano (baixista) e Luís Bourscheidt (baterista).
Este novo show é resultado de uma “imersão” com o músico André Abujamra em uma chácara na Região Metropolitana de Curitiba no mês de agosto.
A troca com o compositor do Mulheres Negras e do Karnak gerou um releitura das canções mais tocadas da BMBC na última década e um “Trato” em punhado de novas canções que serão apresentadas em primeira mão.
“O Abu tem uma cabeça diferente. Ele vê a coisa como um todo. Fez a gente olhar o nosso trabalho de fora”, disse Luís.
“Para a gente, é muito importante estar em dia com a nossa música. Tocar a mesma canção durante dez anos não pode ser um saco. Tem que ter um frescor e chegou uma hora que precisava de um olha de fora”, explica Uyara.
10 anos de banda, 8 de Oração
Olhando em retrospectiva a carreira da banda, o tecladista Vinicius Nisi lembra do primeiro ensaio de um bando de músicos muito jovens, alguns vindo do interior, outros que tinham recém entrado em faculdades. “Quem mudou mais fomos nós. Estamos em outro tempo da vida. Eu tinha 25 anos a Uyara tinha 22. Éramos muito mais inocentes”, disse.
Tudo mudou em seis minutos, em maio de 2011. A canção Oração escrita por Léo Fressato foi o viral do ano no YouTube.
A canção na verdade era um refrão chiclete falando de coisas simples do amor cantado em um loop.
O clipe filmado em plano sequencia em um casarão de Rio Negro, começa melancólico e termina numa festa catártica de jovens amigos.
Este celebração da vida coletiva e ensolarada, de gente jovem e feliz que não economizava na manifestações de carinho além da estética algo hipster daquele tempo teve milhões de visualizações instantâneas. Quando escrevo este texto o vídeo tem mais de 39 milhões de visualizações.
Outras bandas e artistas pop como Liniker, ou algumas duplas sertanejas têm vídeos mais vistos. Porém, ninguém acelerou tão rápido como a BMBC em um tempo em que este tipo de buzz ainda não era comum.
No outro corner, um grupo bem menor, mas sempre ruidoso de haters, vociferava contra ou fazia paródias repudiando a “fofura” da coisa toda.
Muita gente (mas muita mesmo) se identificou com o clima de paz, amor e alegria que de certa forma pairava no ar de Curitiba e era captado pelos compositores que circundavam o grupo.
Arranjador principal da banda, Nisi disse que nunca ligou para isso e até acha graça. “Eu também não gosto de um monte de coisa. O que eu vi acontecer foi um sentimento que surgiu em outras caras que estavam próximos de que também era possível. Parar de sentir o patinho feio”, disse.
Ele reconhece, porém, que aquele clima de euforia e esperança não existe mais no país e nem eles têm ainda vinte e poucos anos.
Para Uyara foi “maravilhoso, mas um pouco violento”. “Quando estourou a gente não tinha mais como voltar atrás”, lembra.
Nisi observa que como tudo era novidade, a BMBC teve que inventar seus próprios métodos. “A gente não tinha onde se espelhar. Não tinha outra experiência parecida: aconteceu com os caras e eles lidaram assim e nós vamos fazer assim”, disse.
Com o sucesso, surgiu a necessidade de organizar o trabalho para manter a máquina rodando. Segundo Nisi, a parte empresarial da banda sempre foi uma “organização anárquica em que cada um assumiu a função para qual levava mais jeito”.
“Ninguém comprou casa própria”, avalia o baixista Marano, mas ele afirma que a banda, entre altos e baixos, se sustenta em um mercado difícil. “A gente tem uma empresa aberta, alguns funcionários registrados com Carteira de Trabalho”, disse
“Não é uma banda pequena independente, tampouco uma banda manisntream. Mas todos vivemos disso e conseguimos pagar as contas, o que sabemos que não é fácil”, conclui.
Uma equação que só fecha na razão necessidade/disposição em seguir na estrada depois de dez anos. “A gente precisa fazer a correria nervosa para isso dar certo. Sejam shows em festivais ou em pequenos teatro. A gente analisa tudo com carinho e vê o que é melhor para nos”, disse.
Dois álbuns e um DVD
Nestes dez anos, a BMBC lançou três trabalhos. O primeiro álbum homônimo foi lançado em 2011 na onda do sucesso de Oração a partir de um financiamento coletivo.
Em 2014, a banda gravou o DVD Ao Vivo no Cine Joia, na casa noturna que fica em São Paulo. Em 2016, a banda veio o segundo álbum De Cima do Mundo eu vi o Mundo.
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