A Livraria Arte & Letra está de mudança. Desde que a editora abriu as portas em 2006 esta é a terceira troca de sede. Curitosamente, todas as quatro lojas ficavam na mesma quadra, no Batel. Ainda não há data para abrir mas falta pouco para terminar a adequação do espaço.
A nova casa, na rua Desembargador Motta 2023, fica a menos de 100 metros da antiga, na Alameda Dom Pedro II. As outras duas sedes foram em dois endereços diferentes na rua Visconde de Taunay.
A mudança mais recente deve estar pronta até o final deste mês. Desta vez, não nasceu da vontade dos proprietários, os irmãos Frede e Thiago Tizzot, mas de diferenças inconciliáveis com o propretário quanto ao uso do espaço.
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E vai obrigar um ligeira mudança de perfil da empresa que levará em conta a planta do novo imóvel e a dinâmica da nova rua que tem maior circulaçao de pedestres. A ideia, segundo Frede, é ampliar a experiência dos clientes e mostrar que tudo - dos expresso às capas dos livros - é feito à mão.
“Vamos fundir mais as coisas: a editora com a loja e a livraria com o café. Tudo mais interligado e funcionando junto para que as pessoas vejam o que a gente faz”, explica.
Assim, a recém inaugurada gráfica vai funcionar no meio da casa; à vista dos clientes que verão nascer os livros enquanto tomam café com leite. Mudando para sobreviver, a Arte & Letra é um exemplo, cada vez mais raro, de livraria de rua em Curitiba.
Há poucas lojas com este perfil ainda abertas (veja a lista abaixo), sem contar os inúmeros sebos. Dificil não usar a imagem de resistência em um momento no qual o mercado está hostil até para as grandes redes.
Em 2018, as duas maiores redes de livraria do pais, a Cultura e a Saraiva, abriram processo de recuperação judicial. Há registros de fechamento de lojas, demissões em massa e grandes calotes recíprocos entre editores e lojas.
Segundo um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a partir de dados do Ministério do Trabalho divulgado em 2018, o número de livrarias e papelarias em funcionamento no Brasil encolheu 29% em 10 anos.
Mais de 21 estabelecimentos fecharam as portas entre 2007 e 2017. A maioria eram pequenas empresas. Uma atualização destes números pode mostrar um cenário ainda pior.
Há vários suspeitos potenciais na derrocada das grandes redes. O principal é o “efeito Amazon”: a gigante de tecnologia que domina o setor e o varejo mundial e atropela competidores.
Por outro lado, as megalivrarias erraram na megalomania ao se tornarem megastores que vendiam de tudo – brinquedos, eletrônicos, bebidas – deram um salto maior que a perna e estão pagando o preço.
O tamanho do passo é algo que os irmão Tizzot se preocupam em não errar. Frede conta que a a Arte & Letra nasceu como um negócio de família e por isso tem seu “tempo próprio”.
Primeiro veio a editora, depois a livraria que ganhou um café que virou quase um restaurante e, agora, a gráfica própria.
“A gente está sempre investindo, mas nunca no base do tudo ou nada. Somos até conservadores. Crescemos aos poucos, as vezes tomando um tombo, mas levantando. As grandes redes tomaram tombos gigantes por que erraram o caminho”, disse.
Contudo ele admite que o cenário é ruim para o comércio em geral e pior para o setor de livros, visto como supérfluo pela maioria das pessoas.
Há, porém, quem enxergue oportunidade onde todos veem a palavra crise escrita em neon. Como Alessandro Andreola, sócio da editora e Livraria Barbante. De dentro da pequena loja na rua Saldanha Marinho, 1220, Andreola fala que ainda que acredite nas livrarias de rua como uma espécie de resistência cultural, prefere não romantizar seu trabalho.
“Creio que o cenário atual do mercado oferece uma grande oportunidade para o livreiro independente. Com as grandes redes em apuros, fica um vácuo a ser ocupado”.
Espaço que pode ser preenchido, segundo o editor, pela proliferação das editoras independentes e dos autores autopublicados e pelos formatos especiais que são “de ver com a mão” e que fazem mais sentido na livraria do que na internet.
“Tudo isso, mais essa volta do interesse pelas coisas analógicas e pela ocupação das cidades, faz com esse seja um modelo de negócio com grande potencial”.
Desistir, jamais
Na Avenida Silva Jardim, 845, a Itiban Comic Shop completou 30 anos de atuação em 2019. A empresária Mitie Taketani conta que neste período já passou por vários momentos adversos, mas nunca como o atual.
Ela, porém, destaca um paradoxo no setor dos quadrinhos: enquanto o mercado formal dominui, a produção cresce.
“A qualidade e variedade do mercado editorial vive momento inédito. A produção está gigante. Tem mais gente fazendo livros cada vez melhores com temáticas importantes para nossa história”, disse.
Para sobreviver, Mitie conta que não basta colocar o livro na prateleira. É preciso “correr atrás”. Criar eventos de lançamentos, clubes de leitura e diversificar as atividades, por exemplo. Ainda assim, ela diz que jamais pensou em parar.
“Não faço a conta para saber se está valendo a pena ou não. Nunca fiz em 30 anos. Vamos cortando o que é possível. Mesmo que o banco venha atrás de mim, vou continuar até que me chutem daqui”, brinca.
Mitie tem uma teoria sobre a razão que faz seus clientes fiéis preferirem comprar em sua loja e não pela internet. Uma ideia que talvez explica o que significam as livrarias de rua para quem usa ou trabalha nelas. “A gente não consegue bater preço, mas a gente entende do que faz. E tem o contato humano. A gente conversa e garante boas risadas. É rindo que as pessoas se entendem”.
Livraria do Chain
Onde: Rua General Carneiro, 441, Alto da Glória.
Horário de funcionamento: Segunda à sexta das 9h às 19. Sábado das 10h às 17h
Joaquim Livros & Discos
Onde: Rua Alfredo Bufren, 51 Centro.
Horário de funcionamento: Segunda à sexta das 10h às 19h. Sábado das 10h às 17h
Livraria Vertov
Onde: Rua Visconde do Rio Branco, 835, 1.º andar.
Horário de funcionamento: De segunda a sexta das 10h às 18h.
Livraria Barbante
Onde: Rua Saldanha Marinho, 1220.
Horário de funcionamento: De segunda a sexta, das 13h às 19h, e sábados das 11h às 17h
Itiban Comic Shop
Onde: Avenida Silva Jardim, 845, Rebouças
Horário de funcionamento: De segunda à sexta das 10h às 19. Sábado das 10h às 17h30
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