É praticamente uma volta ao mundo em pouco mais de 150 dias. A partir deste sábado (21) até o dia 1º de março de 2020, Curitiba vai receber obras, performances e intervenções artísticas de 45 países, representando os cinco continentes em 1395 pontos. É a 14ª edição da Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba, evento que desde 1993 leva arte em suas mais variadas formas a diversos espaços da cidade. Isso inclui desde museus e galerias de arte até ônibus e terminais de transporte coletivo.
Para esta edição, o tema escolhido é Fronteiras em Aberto, que propõe abordar a desconstrução das noções de fronteiras físicas e as transformações verificadas através das relações. “Estamos numa nova situação de refronteiras e desfronteiras, de novos agrupamentos socioespaciais, territoriais, assim como de novas experiências artísticas de arte-fronteira”, diz o texto assinado pelos curadores da Bienal deste ano, o espanhol Adolfo Montejo Navas e a brasileira Tereza de Arruda.
Segundo o presidente da Bienal de Curitiba, Luiz Ernesto Meyer, o conceito Fronteiras em Aberto vai ao encontro do caráter cada vez mais universal do evento. Além de Curitiba, a Bienal irá promover exposições no interior do Paraná, Brasília (DF), Florianópolis (SC) e em outros países, como Argentina, Paraguai, Uruguai, França, Suíça e Rússia. “É um evento que dialoga com as novas plataformas e vai além dos limites da cidade, ultrapassando as fronteiras do Brasil”, destaca.
Como neste ano o Brasil ocupa a presidência dos Brics – bloco de países emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, os artistas desses países terão destaque na Bienal. Segundo a organização, será a maior exposição de artistas do Brics já realizada na América Latina. “Como é tradição na Bienal, teremos nomes reconhecidos internacionalmente, que estão em grandes coleções do mundo, e jovens artistas que estão se sobressaindo”, diz Meyer. A seguir, você confere alguns dos destaques da 14ª Bienal de Curitiba.
Exposições no MON
O maior e mais famoso museu de Curitiba continua sendo o coração da Bienal de Curitiba. O local será o palco da abertura do evento, a partir das 17 horas deste sábado, com abertura das mostras, performances e apresentações artísticas. A partir de domingo (22), o público poderá conferir as exposições que irão ocupar dez salas do museu, inclusive o “olho”.
Entre os trabalhos que ficarão em exposição no MON estão as obras do italiano Christian Balzano e do chinês Tong Yanrunan. Os dois passaram as últimas semanas no Museu Alfredo Andersen, usando o local como ateliê para produção de obras feitas exclusivamente para a Bienal. Tong viaja o mundo produzindo pinturas “face a face” e apresentará 22 retratos de personalidades locais. Balzano, por sua vez, é conhecido por suas obras em papel de ouro. Nos últimos dias, quem passou pelo museu também já pôde conferir um pouco do trabalho do russo Vladimir Potapov, que produziu um grande mural em tinta a óleo para o evento.
Temática ambiental
Outro artista que nas últimas semanas montou seu ateliê no Museu Alfredo Andersen foi o italiano Alberto Salvetti, cuja obra é fortemente ligada à questão ambiental. Em sua primeira visita ao Brasil, ele produziu dois trabalhos para a Bienal. O primeiro, uma escultura de ferro representando uma família de javalis, “os novos conquistadores da América do Sul”, em alusão à sua presença massiva e, muitas vezes, nociva; e o segundo, um conjunto de esculturas em terracota (material feito com argila cozida no fogo) que representa tanto a riqueza natural quanto os problemas ambientais do país, como o desmatamento, as queimadas e o ataque às populações indígenas.
“Procuro mostrar que o homem faz coisas boas, mas também muitas coisas ruins”, disse Salvetti à Gazeta do Povo. Ele destacou que, durante o período em que permaneceu no ateliê, teve a oportunidade de manter contato com outros artistas e alunos dos cursos promovidos pelo museu. “Estou me sentindo em casa, Curitiba se mostrou um lugar de muita sensibilidade e com um ambiente muito favorável à arte e à cultura”, frisou. Suas obras estarão em exposição no Museu Paranaense (R. Kellers, 289) a partir deste domingo (22).
Música nas igrejas
Um grande concerto a céu aberto no Centro Histórico. Assim pode ser definido o projeto City Concert, uma performance musical idealizada pelo espanhol Llorenç Barber. A partir das 8h40 deste sábado, ele realiza uma apresentação na Catedral Basílica, na Praça Tiradentes. Simultaneamente, outros músicos convidados estarão executando obras de sua autoria em campanários de outras igrejas pelo centro da cidade.
Mostra indígena
Também no sábado, às 10h30, o Museu de Arte Indígena (Av. Água Verde, 1413) abre a exposição Um Outro Início, do pintor, escultor, desenhista e gravador mineiro Farnese de Andrade. Ao longo de sua carreira, o artista criou obras com materiais descartados, coletados em praias e aterros, e também armários, oratórios e gamelas adquiridos em antiquários.
Arte nos ônibus
Se você costuma usar o transporte coletivo, pode se deparar nos próximos dias com alguma obra ou performance artística. Essa é uma das novidades dessa edição da Bienal, que está exibindo trabalhos realizados pelos artistas dos Brics nos terminais de ônibus de Curitiba. Além disso, serão realizadas performances dentro dos coletivos durante o dia. “É uma forma de levar a arte a outros espaços. Pelo transporte coletivo circulam cerca de 2 milhões de pessoas, que poderão ter a arte incorporada em seu cotidiano”, diz Luiz Ernesto Meyer.
Fábrica imaginária
Cinco artistas contemporâneos alemães fazem parte da exposição Fabrik, apresentada pela primeira vez na Bienal de Veneza de 2015 e que, agora, desembarca no MON como parte da programação da Bienal de Curitiba. Segundo seus idealizadores, “a mostra transforma a sala expositiva em uma fábrica imaginária, um lugar onde se produzem ideias e imagens, imagens já não entendidas como um meio para reproduzir a realidade, mas como indicadores de como modificá-la.”
Cidades do futuro
Ainda no MON, serão exibidas pela primeira vez no Brasil as obras do arquiteto e artista visual russo Sergei Tchoban. Em seus desenhos, ele explora o real e as estruturas imaginárias de uma metrópole com sua arquitetura futurista e herança histórica. Cidades construídas sob a água ou grandes pontes de vidro estão entre as imagens projetadas pelo artista.
SERVIÇO
Quando: de 21 de setembro de 2019 a 1.º de março de 2020
Onde: 1395 pontos de Curitiba
Programação: site da Bienal de Curitiba