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Trabalho de xilogravura, uma das técnicas usadas pelos artistas para imprimir imagens no papel.
Trabalho de xilogravura, uma das técnicas usadas pelos artistas para imprimir imagens no papel.| Foto: Anderson Gonçalves

Pablo Picasso, Rembrandt, Goya, Andy Warhol. O que esses quatro nomes têm em comum, além do fato de serem alguns dos maiores artistas plásticos da história? Eles estão entre os adeptos de uma técnica artística que pode não ser tão popular quanto a pintura, mas produz trabalhos não menos impressionantes. Com características peculiares, a gravura conquistou grandes artistas desde o final do século 15 e, no Brasil, tem em Curitiba uma referência importante. A cidade que foi um polo dessa manifestação artística na década de 1970, conta com o principal museu dedicado ao gênero no país e sedia a premiação mais importante da gravura nacional.

A gravura é uma técnica através da qual o artista imprime várias cópias de uma imagem a partir de uma matriz, que pode ser de madeira, metal ou material sintético, entre outros. Essas diferenças caracterizam a variedade de técnicas, como xilogravura, litografia e serigrafia (veja como funciona cada uma delas no box a seguir). As gravuras são assinadas, numeradas e datadas pelo próprio artista, de modo a indicar o número de cada exemplar e quantas cópias daquela imagem foram produzidas. Quanto menor o número do exemplar, mais valorizada é a gravura, por conta do desgaste da matriz a cada cópia feita.

Quando se fala em gravura artística em Curitiba, Uiara Bartira é o nome mais importante em atividade. Após encabeçar um movimento de gravuristas na cidade na década de 70, foi a Nova York se especializar, fez mestrado na área e se tornou uma das responsáveis pela criação do Museu da Gravura de Curitiba, em 1989. “Quando eu descobri a gravura, eu me apaixonei. É uma manifestação artística que envolve os cinco sentidos, que faz com que se tenha um processo de levitação, nos enxergando de fora para dentro”, afirma.

Uiara conta que a tradição curitibana na gravura vem da indústria gráfica, especialmente com a Impressora Paranaense (fundada em 1888 e que funcionou por mais de um século). A técnica foi utilizada por mestres como Guido Viaro e Poty Lazarotto, até que na década de 70, após um estágio no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o artista plástico Fernando Calderari lidera um movimento na cidade. “Formou-se um grupo que trabalhava intensamente em volta de uma prensa. Levávamos a prensa para a Praça Osório, produzíamos jornais e distribuímos para a população. A partir desse boom, a cidade se tornou um polo da gravura artística no Brasil”, relata Uiara.

Museu une gerações

Foi essa movimentação intensa que levou à criação da Casa da Gravura, que em 1989 se tornou o Museu da Gravura, instalado no Solar do Barão e principal espaço dedicado ao gênero no Brasil. Com um acervo de mais de 3 mil obras de artistas locais, nacionais e internacionais, o museu serve para abrigar exposições, oferecer cursos e disponibilizar seus ateliês para artistas. O espaço conta com estrutura para desenvolver as diferentes técnicas de gravura, como xilogravura, gravura em metal, litografia e serigrafia.

Oficinas e exposições movimentam o Museu da Gravura no mês de julho. Foto: Lucilia Guimarães/FCC
Oficinas e exposições movimentam o Museu da Gravura no mês de julho. Foto: Lucilia Guimarães/FCC

Segundo o coordenador do museu, Augusto Rando, o local conta atualmente com mais de 50 alunos, distribuídos entre 16 cursos nos diferentes ateliês. “A ideia é que os ateliês funcionem como local de aprendizado e de fazer artístico, visto que a gravura exige equipamentos especializados. É uma troca extremamente salutar”, ressalta. Com isso, é comum alunos permanecerem por longos períodos, usando o espaço para produzir e, ao mesmo tempo, ter a oportunidade de expor seus trabalhos.

A demanda é tamanha que, segundo Augusto, a agenda de exposições está praticamente lotada para o ano que vem. Para 2020, a intenção é disponibilizar ao público em geral uma amostra maior do acervo do museu, que conta com obras de artistas como Picasso, Andy Warhol e Poty Lazarotto. “Nossa ideia é ter uma sala dedicada permanentemente ao acervo do museu, que é riquíssimo e pouco conhecido pela população”, diz.

Prêmio incentiva renovação

Há nove anos uma empresa paranaense fabricante de papelcartão, a Ibema, lançou um concurso voltado para estudantes, com o intuito de premiar trabalhos artísticos de gravura. Hoje, em sua nona edição, o Prêmio Ibema Gravura se consolidou como a principal premiação da área, atraindo participantes de todo o Brasil e do exterior. “Estamos dando nossa contribuição para manter a gravura, que é a mãe das artes gráficas. Afinal, se não conseguirmos engajar as novas gerações, a tradição tende a morrer”, afirma Fábio Mestriner, designer gráfico e consultor da Ibema.

 Obra “Sala”, de Lucas Naganuma de Rezende, vencedora do último Prêmio Ibema. Foto: acervo
Obra “Sala”, de Lucas Naganuma de Rezende, vencedora do último Prêmio Ibema. Foto: acervo

As inscrições para o Ibema Gravura estão abertas e seguem até o próximo dia 30, com prêmios que vão de R$ 500 a R$ 5 mil. Além disso, 20 trabalhos são selecionados a cada edição para compor um catálogo. Segundo Mestriner, além de o número de inscritos estar crescendo a cada ano, a qualidade dos trabalhos também tem aumentado. “A gravura tem algumas variações e recebemos inscrições para todas elas. É interessante observar nesses trabalhos que os jovens não estão presos à linguagem clássica, eles têm procurado manifestar coisas da sua vida através da arte.”

Uiara Bartira, que participa como jurada do prêmio desde a primeira edição, também acredita que há um interesse das novas gerações pela arte da gravura. “A gravura não morre, ela tem seus períodos de declínio e ascensão. Com a tecnologia, acredito que os jovens começaram a sentir necessidade de algo diferente. E a gravura mexe com questões do corpo, da mente, propicia outro espaço e outro tempo. Fico feliz de ver a meninada se interessando e se descobrindo através dessa arte”.

Conheça as principais técnicas usadas para a confecção de gravuras:

Xilogravura
Técnica mais antiga de gravura, consiste em trabalhar uma superfície plana de madeira com ferramentas de corte e entalhe, retirando as partes que o artista não quer que tenham cor na gravura. Após aplicar tinta sobre essa superfície, pressiona-a sobre o papel com uma prensa, transferindo a imagem.

Linoleogravura
Essa técnica é semelhante à xilogravura, mas, ao invés de utilizar madeira, a matriz é de material sintético, placas de borracha denominadas linóleos.

Gravura em metal
Aqui as matrizes são feitas a partir de placas de cobre, zinco, alumínio ou latão, e gravadas com incisões diretas ou com banhos de ácido. A matriz recebe a tinta e, também por meio de prensagem, a imagem é transferida para o papel.

Litografia
Diferente de outras técnicas, a litografia não é feita por meio de fendas e sulcos na matriz, mas pelo acúmulo de gordura sobre a superfície. As imagens são desenhadas com material gorduroso sobre pedra calcária e aplicação de ácido sobre a matriz. Também utiliza prensa para gravação.

Serigrafia
Processo que usa diversas técnicas de gravação de imagem. Geralmente, a matriz é de poliéster ou nylon, e a transferência da imagem feita por pressão de um rodo ou puxador, que vaza a tinta sobre a superfície.

SERVIÇO
Museu da Gravura de Curitiba
Onde:
Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533, Centro
Horário de funcionamento: de segunda a sexta das 9h às 12h e das 14h às 16h; sábados e domingos das 13h às 18h
Entrada: gratuita

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