![Não é lenda: livro prova que o capitão pirata Zulmiro viveu e morreu em Curitiba Ofenbok caracterizado de Pirata: a lenda vira história.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15181434/pirata-960x540.jpg)
A maior lenda urbana curitibana, a história do pirata Zulmiro, foi oficialmente reconhecida como verdadeira em evento na tarde desta terça (15) no Memorial de Curitiba.
Segundo pesquisa e documentação apresentada pelo escritor Marcos Juliano Ofenbok, o último capitão pirata do século 19 viveu incógnito durante 40 anos em Curitiba e está aqui sepultado desde 1889.
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O anúncio da descoberta foi feito pelo prefeito Rafael Greca para uma plateia de centenas de crianças de escolas municipais de Curitiba.
Depois, Ofenbok, vestido de pirata, relatou à piazada atenta a incrível história cheia de datas remotas, coincidências intrigantes, muitos documentos e registros em livros e jornais que dão sentido à narrativa da vida do pirata e do tesouro que ele deixou enterrado na longínqua Ilha da Trindade, no Espírito Santo.
![O prefeito Rafael Greca mostra o livro às crianças no Memorial de Curitiba. O prefeito Rafael Greca mostra o livro às crianças no Memorial de Curitiba.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15181601/greca.jpg)
O prefeito Greca não apenas ratificou a história como se comprometeu a mandar esculpir uma estátua do pirata, antes de comandar o coral de crianças cantando o hino de Curitiba.
No evento, também estavam presentes autoridades consulares inglesas dando fé à história do ex-marinheiro britânico Francis Hoder que desertou, virou o capitão pirata Zulmiro e para fugir da corte marcial se escondeu em Curitiba.
A cronologia da narrativa é complexa e está explicada e documentada no livro “A Verdadeira Ilha do Tesouro – As Crônicas do Pirata Zulmiro”, recém-lançado por Ofenbok.
“A importância é grande quanto ao valor histórico, pois a literatura sobre a pirataria diz que o último capitão pirata foi enforcado nos Estados Unidos. Mas na verdade o último capitão pirata do mundo é um ativo cultural para a cidade. Ele sai da lenda e entra história”, diz o pesquisador.
Segundo o livro de Ofenbok, o pirata Zulmiro, na verdade, era um aristocrata nascido na cidade irlandesa de Cork. De família riquíssima, Francis estudou no Eton College, o mais tradicional internato britânico onde estudaram também todos os membros da família real britânica desde 1440.
![Registro de Francis Hoder no Eton College. Registro de Francis Hoder no Eton College.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15181744/Piratas003.jpg)
Como todos os seus quatro irmãos, Francis Hoder ingressou na marinha britânica. Sua carreira ascendente, porém, foi interrompida quando após um desentendimento a bordo feriu de morte um oficial no Caribe.
![Registro de Hoder na Marinha britânica. Registro de Hoder na Marinha britânica.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15181844/Piratas007.jpg)
Para escapar da execução da corte marcial, Hoder desertou e passou a ser um fora da lei dos mares. Primeiro como imediato em um navio negreiro, depois como comandante do navio e traficante de escravos. Finalmente, como pirata no Oceano Atlântico no período das revoluções de independência da América Espanhola na primeira metade do século 19.
Segundo o livro, já rebatizado como Zulmiro, o capitão se tornou o líder de um trio de piratas que tinha também o espanhol José Sancho e o russo Zarolho.
Os três teriam feito saques espetaculares no Atlântico sul. O maior de todos os roubos sangrou o navio que levava o ouro retirado da catedral de Lima no Peru.
Os três ladrões, contudo, foram capturados. Zarolho foi preso em Cuba, mas fugiu e morreu na Índia.
José Sancho naufragou e morreu no mar. Zulmiro também foi capturado, porém por um navio inglês cujo comandante se chamava Kempel e tinha sido seu colega na academia naval.
Kempel sugeriu simular uma fuga de Zulmiro na baía de Paranaguá desde que ele se comprometesse a sumir do mapa e para sempre.
O pirata subiu a Serra do Mar em nove dias então se refugiou numa área de mata ao norte da então minúscula vila de Curitiba que contava com cerca de 3 mil habitantes.
Viveu lá, isolado, na área onde hoje é a Universidade Livre do Meio Ambiente, por cerca de 40 anos adotando o nome de João Francisco Inglez.
“Ele usou o adjetivo pátrio para ocultar seu verdadeiro nome. Imagino que a maior parte das pessoas com o sobrenome Inglez, com o z final, em Curitiba e região podem ser descendentes do pirata Zulmiro”, afirma o escritor.
![Registro do óbito de João Francisco Inglez no cemitério municipal de Curitiba. Registro do óbito de João Francisco Inglez no cemitério municipal de Curitiba.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15182106/Piratas002.jpg)
No mesmo ano em que comprou o terreno, comprou uma escrava chamada de Rita que mais tarde se tornou sua esposa e com quem teve quatro filhos.
Sua identidade só foi revelada perto do final de sua vida, quando outro cidadão inglês que negociava erva-mate, Edward Young Stammers, ouviu histórias em um bordel sobre um velho inglês eremita que vivia escondido em Curitiba.
Os dois compatriotas fizeram amizade e Zulmiro teria revelado sua história a Young que se comprometeu a não contá-la enquanto o velho estivesse vivo.
Quando soube de sua morte, em 1889, aos 90 anos, ele passou a relatar em cartas ao diário carioca Jornal do Brasil a história de Zulmiro.
Seus relatos incluem detalhes e informações sobre o tesouro que o trio de piratas havia roubado e segundo um mapa escondido na Ilha da Trindade.
![Mapa do Tesouro na Ilha do Tesouro encontrado na Índia e assinado por Zulmiro, Zarolho e José Sancho. Mapa do Tesouro na Ilha do Tesouro encontrado na Índia e assinado por Zulmiro, Zarolho e José Sancho.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/15181928/Piratas001.jpg)
Ponto mais oriental do território brasileiro, a Ilha da Trindade fica a 1200 km a leste de Vitória, na costa do Espírito Santo. Controlada pela Marinha Brasileira, a ilha é habitada por tartarugas e pouco visitada.
As histórias de Young publicadas na imprensa causaram tanto frisson que ele foi assassinado numa tentativa de assalto a sua casa no Rio de Janeiro. Os ladrões procuravam o mapa do tesouro.
No livro, Ofenbok cruza estas histórias a outros relatos em livros e periódicos internacionais. A pesquisa também traz como novidade o registro de quatro expedições brasileiras à Ilha da Trindade organizadas, a última em 1911, bem como registros de expedições americanas e inglesas.
O autor conta que o livro está sendo traduzido para a língua de Zulmiro por iniciativa do consulado inglês em Curitiba. Ele também afirma já ter iniciado conversas com a Netflix para, quem sabe, participar da produção da história do ultimo capitão pirata nos mares do sul.
Antes, porém, ele quer participar de uma nova expedição à Ilha da Trindade para finalmente descobrir o paradeiro do tesouro. O pesquisador disse que gostaria que o tesouro fosse dividido em quatro partes para o Museu Nacional, para o museu de Londres, para o museu do Vaticano e para o Museu Paranaense.
“O tesouro de Zulmiro, Zarolho e José Sancho pertence à humanidade”, disse.
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