No começo dos anos 1990, a banda alemã Scorpions, que se apresenta nesta quarta-feira (18) na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, saiu pelo mundo com a turnê Crazy World (Mundo Louco, em inglês). Eram mesmo tempos loucos, de mudanças históricas como a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.O nome do giro era referência à instabilidade do período e era puxado pelo sucesso da balada Wind of Changes que se tornou espécie de hino daqueles tempos.
Pouco mais de 30 anos depois, a banda gigante do hard rock chega a Curitiba com um turnê com o mesmo nome como atração principal do Festival Rock Ao Vivo. O festival ainda tem na escalação os suecos do Europe e os americanos do Whitesnake. Os portões da pedreira se abrem às 13h. Os shows começam com o Europe às 17h, o Whitesnake se apresenta perto das19h e o Scorpions fecha a noite perto das 21h.
De seu estúdio em Hannover, o guitarrista Matthias Jabs falou com a reportagem da Gazeta do Povo sobre o novo show desta quarta em Curitiba. Também falou de suas lembranças do primeiro Rock in Rio - a primeira apresentação do grupo no Brasil, em 1985 - e, justamente, da queda do Muro de Berlim. Jabs diz que a banda resolveu batizar a tour com o mesmo nome de de sua turnê histórica porque os integrantes do Scorpions têm sentido que há um novo tempo de mudanças no ar, ainda que sem aquela esperança de 30 anos atrás.
O que o público pode esperar do show em Curitiba nesta quarta?
Estamos em grande forma. Temos novas músicas, um novo show e um novo baterista, o Mickey Dee [ex-Motorhëad]. Será muito legal. O Europe e o Whitesnake já tocaram com a gente muitas vezes, são bandas que se dão bem.
Vocês já tocaram em Pinhais, na região de Curitiba em 2010. Tem alguma memória de Curitiba?
Não vimos muito. Chegamos e fomos direto para a casa do Paulo Baron [empresário que trouxe a banda para a cidade] e no dia seguinte era o dia do show. Não conseguimos conhecer nada.
A relação com o Brasil começou no primeiro Rock in Rio em 1985. Tenho certeza que deste período você guarda lembranças.
Sim. As melhores memórias possíveis. Era a primeira vez que a gente tocava no Brasil. Foi quando conheci o Rio. Lembro que o hotel [Copacabana Palace] estava cercado de milhares de fãs, a maioria das bandas estava lá. Mas a loucura estava tão grande que nós e o AC/DC decidimos nos mudar para outro hotel porque não conseguíamos sair. Foi um tempo fantástico.
Você tinha uma guitarra especial naquele dia no Rock in Rio. Você vai tocar com ela em Curitiba?
Eu fiz uma guitarra especial para aquele show, uma Gibson com a bandeira do Brasil. Ele pertence ao Roberto Medina [empresário criador do Rock In Rio]. É um símbolo que ele guarda em casa. Ele vai levar para mim e eu vou tocar outra vez no Rock in Rio e depois devolvo para ele.
O último álbum do Scorpions é uma compilação de baladas que são uma especialidade da banda. Como guitarrista, você prefere as baladas ou temas mais pesados?
Eu gosto de tudo. A balada é um jeito legal de expressar emoções. Nas pesadas, você expressa outro tipo de sentimento, como ira e revolta. Eu acho perfeito tocar uma balada a cada quatro temas pesados. Este é o equilíbrio certo.
Para os fãs do Scorpions, as baladas são muito importantes. Nos shows das outras bandas, na hora da balada o cara vai comprar cerveja. No do Scorpions, não...
É verdade. É uma das nossas marcas mesmo. No primeiro semestre do ano que vem vamos para o estúdio. Teremos material novo. Novos rocks e novas baladas.
Em outubro farão 30 anos da quera do Muro de Berlim. A banda participou ativamente disso por ser alemã. Como foram aqueles dias para vocês?
Pode parecer clichê, mas parece que foi ontem. Nós estávamos no estúdio e vimos pela tevê pessoas dançando em cima do muro e achamos que era um filme. Foi a revolução mais pacífica que aconteceu em toda a história deste mundo. Ninguém se machucou. Fiquei muito feliz pelas pessoas que estavam presas durante todo este tempo e podiam novamente ser livres e fazer o que bem entendessem. Para nossa sorte foi incrível que Wind of Changes virou uma espécie de hino desse período
A turnê daqueles dias se chamava Crazy World que é o mesmo nome desta turnê. O mundo continua louco 30 anos depois?
Para mim, naquela época não era tão louco. O mundo está mais louco do que nunca. Acho que chegamos ao auge do número de líderes e presidentes ególatras e malucos no comando de países hoje em dia.
Quando vocês vieram a Pinhais em 2010 era para ser uma turnê de despedida. Por que vocês desistiram de se aposentar?
Estávamos decididos a fazer isso. Os fãs de alguma forma não deixaram. Eles nos disseram que queriam continuar indo aos shows, a seguir ouvindo as músicas. Os produtores também. Todo mundo tentou nos contratar e concluímos que é tão divertido fazer isso que seria um erro parar a carreira tão cedo.
Você entrou na banda em 1978 derrotando numa audiência outros 140 guitarristas. Por que os caras escolheram você?
Acho que a minha personalidade se adequou melhor com a banda que a dos demais. E foi comigo, afinal, que os Scorpions acharam este estilo que nos tornou tão popular. Antes da minha entrada não havia esta assinatura sonora. Juntos, encontramos o som, o DNA do Scorpions.