A crise econômica reacendeu o interesse do curitibano por um tipo de comércio que estava há tempos relegado apenas aos bairros: os chamados gulas. Esses pequenos mercados fizeram muito sucesso no passado em Curitiba ao vender produtos abaixo do valor cobrado no varejo, principalmente por trabalharem com alimentos perto do prazo de validade. E o que era um hábito de consumo tipicamente popular começa a atrair também a classe média.
Confira o endereço de alguns gulas de Curitiba
“Aqui vem desde pessoas mais simples até médicos, dentistas e advogados. O pessoal mais elitizado também está vindo”, conta Elcicleide Neri Barbosa, dona do Empório do Alimento, no Capão da Imbuia. Segundo ela, com a crise, o movimento no seu mercado aumentou. “Todo mundo quer algo barato”.
E quando vence?
De acordo com a Vigilância Sanitária de Curitiba, um estabelecimento é proibido vender qualquer produto vencido. Para evitar que isso aconteça, os gulas adotam diferentes estratégias. “Eu não deixo vencer. A gente vende rápido para não deixar isso acontecer”, diz Elcicleide. No caso, as vendas em lotes são a solução.
Outra saída é a doação. No caso de Cintia, os produtos que ela acredita não conseguir vender antes do vencimento são doados para ONGs e famílias carentes que moram na região.
Para Cintia Creplive de Paula, dona do Empório 2.8.9, no Jardim das Américas, muitas famílias tiveram uma queda na sua renda ao longo dos últimos anos, mas isso não as impediu de quererem consumir os mesmos itens de antes. “No fim, a pessoa não vai deixar de consumir. Vai apenas procurar mais barato”, diz. E são as promoções feitas por esses gulas que mantêm a geladeira e o bolso de muita gente cheios.
Enquanto uma grande rede de mercados vende uma pizza congelada por R$ 10,75, é possível levar duas unidades do mesmo produto por R$ 8,00 em um gula. Já o suco de laranja sai ainda mais em conta: os mesmos R$ 3,99 cobrados no varejo comum rendem três garrafas do mesmo produto nesses estabelecimentos. Três potes de sorvete saem por apenas R$ 11,90 e o quilo do salmão por R$ 40.
O segredo para garantir os preços baixos varia de lugar para lugar, mas todos envolvem uma intensa negociação com fornecedores. No caso de Elcicleide, ela está em constante contato com eles e até com mercados para buscar produtos de ponta de estoque. Como esses alimentos ficam muito perto de seu prazo de validade, ela consegue valores menores e repassa esse desconto para o consumidor. “Não é o prazo que deixa barato, mas o fato de já pegarmos por um valor menor”, revela.
Cintia explica que, no seu caso, a estratégia é trabalhar com volume de vendas e baixa margem de lucro. “Esse giro faz com que eu possa comprar em grandes quantidades, o que facilita na negociação”, conta. E os resultados já começaram a aparecer. Em menos de dois anos, ela já ampliou o seu mercado no Jardim das Américas e agora pensa em abrir uma nova unidade em outro bairro. Com clientes vindos de bairros como Batel e Água Verde, a ideia é atender regiões onde esse tipo de comércio não existe.
Data curta
Ainda assim, são os produtos perto de seu vencimento que realmente atraem tanto a atenção do consumidor nos gulas. Para evitar o desperdício e garantir que tudo seja vendido, as lojas fazem pequenos kits para acelerar as vendas. Assim, é fácil encontrar dois pacotes de biscoitos importados por R$ 15 ou três mortadelas por apenas R$ 1.
Acionando a Vigilância Sanitária
Para a coordenadora da vigilância sanitária municipal, os problemas com prazos de validade são os mais comuns nesses tipos de estabelecimento. “É tanta coisa que eles acabam se perdendo”, diz Francille. Assim, caso o consumidor encontre algum produto vencido ou com qualquer outro problema sanitário pode acionar o órgão pelo telefone 0800-644-0041 ou pelo 156.
Para a coordenadora da Vigilância Sanitária de Curitiba, Francielle Cristine Dechatnek Narloch, não há qualquer problema em consumir um alimento desse tipo, contanto que ele ainda esteja dentro do prazo de validade. “Se eu comprei hoje e vence hoje, não tem problema. Até o final do dia, ele está próprio para o consumo. O que não pode é o estabelecimento vender algo depois dessa data”, explica.
Outra dica da Vigilância Sanitária é ficar atento às condições de conservação. Produtos refrigerado ou congelado deve ser mantido assim na hora da venda. “O consumidor deve ter esses cuidados. Alguns estabelecimentos deixam fora da conservação ideal, apresentam problemas de higiene ou se descuidam com prazos de validade”, destaca Francielle.
Só que, mesmo sendo o grande atrativo desses estabelecimentos, eles não são especializados na chamada data curta. Segundo Elcicleide, apenas 20% do seu estoque tem prazos menores. Já no Empório 8.2.9, a proprietária diz ter deixado de apostar nesse tipo de produto a partir de uma mudança no perfil do próprio consumidor. “No começo, trabalhava muito com data curta e o público era bem diferente do que tenho hoje. Só que a clientela começou a mudar e eu mudei de estratégia”, diz. “Hoje, data curta só para queimar o estoque”.
Confira o endereço de alguns gulas de Curitiba:
Empório 8.2.9
Avenida Nossa Senhora de Lourdes, 829 - Jardim das Américas
Empório do Alimento
Rua Delegado Leopoldo Belzack, 1920 - Capão da Imbuia
Armazém da Gula
Rua Engenheiro Costa Barros, 865 - Cajuru
Gula Mania
Avenida Salgado Filho, 3666 - Uberaba
Empório da Gula
Avenida Anita Garibaldi, 4059 - Barreirinha
Master Gula
Rua Heitor Baggio Vidal, 2447 - Bairro Alto
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