A professora Maria Cristina Lobo de Oliveira já não acreditava que os investigadores pudessem apontar a autoria do assassinato da filha Rachel Genofre, encontrada morta em uma mala na rodoviária de Curitiba ha quase 11 anos.
“Já não tinha mais esperança. Quanto mais passa o tempo, mais difícil fica, e eu desacreditava. Continuava cobrando, e sempre tinha a mobilização, mas já não tinha esperança”, admitiu ela, em entrevista à Gazeta do Povo, na tarde deste sábado (21). Ao final, emocionada, ela quis pedir desculpas à Polícia Civil, que “não desistiu, apesar das minhas críticas”.
“Eu preciso pedir desculpas a eles. Precisando de um culpado, eu coloquei a culpa toda neles. Sem generalizar, mas eles não desistiram, continuaram investigando, correndo atrás. Eu agradeço muito, por terem passado por cima de mim, que foi mais um obstáculo para eles. Querendo ou não, se chegam criticando o teu trabalho, você se desestimula. Você está trabalhando para aquela pessoa que está te criticando”, diz Maria Cristina.
Rachel Genofre desapareceu no dia 3 de novembro de 2008, após deixar a escola em que estudava, no centro de Curitiba. Dois dias depois, o corpo da menina de 9 anos foi encontrado dentro de uma mala na Rodoviária de Curitiba. Desde então, suspeitos foram apresentados pela Polícia Civil, mas nenhum deles foi acusado do crime.
No dia 19 de setembro de 2019, última quinta-feira, Carlos Eduardo dos Santos, preso em Socorocaba (SP) desde 2017, foi apontado pelos investigadores como o autor do assassinato – a conclusão foi tomada pela Polícia Civil a partir da comparação de DNA recolhido na cena do crime a um banco de perfis genéticos de criminosos.
“No banco de DNA, ele é ou não é. Não tem dubiedade. É incontestável. Ele é [o assassino] e ponto final”, continua Maria Cristina. A professora estava em casa com seu pai quando recebeu dias atrás uma ligação da Polícia Científica para marcar uma reunião. Ali, não desconfiou de que se tratava de um fato novo – segundo ela, “uma ou duas vezes por ano” ainda era chamada para responder perguntas dos investigadores.
“Não entendi muito bem que era referente à resolução do crime. Desliguei o telefone e falei para o meu pai que a gente precisava ir lá e tal. Aí, chegando lá, foi caindo a ficha. Foi num lugar diferente, estava a equipe que descobriu o DNA, o diretor, um monte de gente, aí meu coração começou a disparar”, conta ela.
Alívio
Segundo ela, o sentimento foi de “alívio”. “Eu não preciso mais andar na rua olhando para as pessoas com medo, e me perguntando será que foi ele o monstro ou será que foi aquele outro. O resultado me dá um alívio. Até por saber que o monstro está pagando por outros crimes”, diz ela.
Ela ainda não sabe, contudo, o que esperar desta nova etapa. Diz que gostaria que a acusação e o julgamento ocorressem o “quantos antes”, mas que ainda nem consegue imaginar se ver no mesmo local do suspeito. “Eu sei que terá o julgamento, que eu vou querer acompanhar, mas vou ter que trabalhar psicologicamente para conseguir enfrentar isso. Para mim ainda é tudo muito novo”, avalia ela.
A possibilidade de reconstituição do crime – algo que o acusado pode se negar a aceitar – ainda a assusta. “O meu pavor de estar próxima a um monstro deste é muito grande. Com monstro a gente não conversa. Tem que estar distante. Ainda não consegui trabalhar isso. Então, no momento, eu consigo te dizer que eu não quero acompanhar reconstituição de crime. Eu tenho recordações maravilhosas com a minha filha, que me ajudam a continuar, e eu não quero destruir isso”, diz a professora.
A Gazeta do Povo ainda não conseguiu contato com a defesa do suspeito.