Um dia, Olinda Rodrigues, de 45 anos, acordou e decidiu colocar em prática sua vontade de ajudar o próximo. A vendedora, que está desempregada no momento, tornou-se manicure voluntária dos familiares que acompanham as crianças internadas no Hospital Pequeno Príncipe (HPP), em Curitiba.
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Olinda sempre achou que seria útil, mas com a correria da vida, deixou essa vontade guardada por muito tempo. “A gente sempre acha que não tem tempo, mas não é tão difícil assim”, afirma.
A iniciativa de virar voluntária nasceu em 2015 e mesmo não tendo nenhum curso profissionalizante na área, ela se ofereceu para pintar as unhas das pessoas e promover momentos de distração. “Minha ideia inicial era trabalhar como manicure de idosos, por conta das histórias que eles compartilham e agregam ao voluntário”, conta. Os esmaltes e demais produtos utilizados na ação voluntária são doados ao hospital.
Mas, por causa da procura das pessoas em trabalharem com a terceira idade, Olinda decidiu ajudar outro público. “Fazer voluntário com crianças é muito legal, mas é preciso um preparo emocional, coisa que eu não tinha. Por isso, me candidatei para trabalhar com adolescentes”, explica.
Por motivos de saúde, pacientes em tratamento não foram liberados para pintarem as unhas. “Foi quando o hospital deu a ideia de atender as acompanhantes dos pacientes internados ali. Então, eu percebi o quanto isso era valioso”, diz. A manicure relembra que abraçou a sugestão, já que, normalmente, quem está acompanhando as crianças são familiares emocionalmente abalados. Ali, ela viu uma oportunidade de fazer o bem para um público que também precisava de atenção. “As mães, principalmente, podem ter um momento de lazer e vaidade. Esquecendo os problemas que estão vivendo. Pelo menos um pouco”, relata.
A ideia deu tão certo que a manicure, que vai até o HPP todas as quintas-feiras, das 8h às 12h, pinta as unhas de 11 mulheres por dia de voluntariado. O atendimento é realizado na sala de descanso para os acompanhantes de pacientes da enfermaria e UTI.
A procura é tão grande que tem dias que chega a fazer fila de espera. “O atendimento é por chegada, por isso, elas vão formando uma fila. Tem dias que não consigo atender todas e ficam umas quatro sem serem atendidas”, diz.
Boa clientela
Vindas de todos os cantos do Paraná, as acompanhantes das crianças internadas sabem pouco sobre o que é ter um tempo dedicada a elas. “Já encontrei pessoas que nunca fizeram as unhas. É outro mundo”, relata.
As complicações médicas dos pacientes dificultam para que elas deixem as crianças por 20 minutos. Por isso, é normal que digam que estão ali, fazendo as unhas, pelos seus filhos. “Por terem poucas oportunidades de se cuidarem, eu sempre falo para ousarem e escolherem cores fortes”, conta Olinda.
Foi com uma cor marcante, rosa pink, que Adriana de Sena Beca, de 26 anos, pintou as unhas com a manicure voluntária. Vinda de Barbosa Ferraz, no interior do Paraná, a 317 km de Curitiba, a mulher trouxe seu filho de 7 anos ao Hospital Pequeno Príncipe para realizar uma cirurgia de implantação de marca-passo. O menino tem problemas nas artérias desde que nasceu e sempre precisou de muito cuidado. “Eu sempre preciso cuidar dele. Por isso, cuidar de mim é difícil”, comenta Adriana.
Para as mães que passam por ali, o momento é especial. “A hora passa rápido. Nós ficamos conversando enquanto aguardamos na fila e esvaziamos a cabeça um pouco”, afirma.
E, para espairecer, a mulherada procura falar de coisas positivas. “Normalmente, eu fico mais quieta. Elas riem muito e fazem uns comentários atípicos. Além de contarem piadas”, brinca Olinda.
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