Seja detento, funcionário ou alguém procurando atendimento, qualquer pessoa que entra na Delegacia da Polícia Civil em Matinhos precisa ficar atento: basta um comportamento um tanto fora do comum para que latidos comecem a ecoar pelos corredores do local. Os alertas vêm dos dois mascotes e guardiões da delegacia, os vira-latas Polaco e Laica, que chegaram por acaso, há anos, e já foram responsáveis até mesmo por impedir uma fuga de presos.
“Não se sabe ao certo como eles chegaram aqui. Mas suspeitamos que eram cachorros de detentos, que vieram com a família deles para visitas e acabaram não indo embora”, sugere Cleide do Rocio Costa, auxiliar-chefe de escrivã que trabalha há pouco mais de 10 anos no local. Quando Cleide chegou para o trabalho, Polaco já estava na delegacia há três anos - ou seja, mora por ali há cerca de 13 anos. Laica, enquanto isso, veio depois, e em 2019 completa 7 anos morando em meio aos policiais.
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Apesar de terem suas casinhas instaladas no pátio da delegacia, os dois mascotes volta e meia circulam por todo o prédio. “Eles entram nas salas e o povo adora. Os agentes ficam o tempo todo paparicando os dois”, acrescenta Cleide. De acordo com a delegada Sâmia Coser, responsável pelo local, os cachorros muitas vezes chegam a ajudar alguns dos agentes em seu trabalho - especialmente os carcereiros, responsáveis por gerenciar os detentos que ficam no edifício. “Eles ficam bem bravos quando fazemos o trânsito do pessoal, então ajuda a conter qualquer tipo de possível problema”, relata Sâmia.
Justamente esse padrão de estar sempre alerta foi o que impediu, há cerca de quatro anos, que os presos conseguissem fugir da delegacia. “Esta sede estava em reforma, então tivemos que ir para um local temporário. Lá, os presos encontraram um ponto onde poderiam cavar, e quando estavam quase passando para o outro lado, a Laica começou a latir sem parar”, narra a delegada.
Apesar de Laica ter atrapalhado a fuga naquela ocasião, nos dois cachorros, o tamanho representa o inverso de suas personalidades: enquanto a fêmea é maior e mais dócil, Polaco, que é bem baixinho, desconfia de estranhos e facilmente rosna para quem não lhe transmitir segurança. “O polaco não gosta nem que a gente passe a mão. Carinho só com o pé, e só se ele chegar perto de você”, conta a delegada.
Mas nem de longe os momentos em que são ariscos retratam totalmente os cachorros. Quem está de prova é Lenir Gerhardt, escrivã-chefe e cachorreira assumida, além de uma das principais responsáveis por tornar os cães parte da família da delegacia. Fora o fato de ser uma das pessoas mais próximas a eles, junto da delegada, é Lenir quem paga pela ração e quem mandou fazer as roupinhas com o emblema da Polícia Civil para ambos. Segundo sua colega Cleide Costa, eventualmente ela chega até a levá-los para passear em seu carro. “Quando ela chega, os dois já vão subindo no banco de trás esperando que ela dê umas voltas por aí”, relata Cleide.
Mesmo assim, os momentos de vigilância sempre voltam: todas as noites, Polaco e Laica ficam de ouvidos atentos. Se alguém se aproximar demais do prédio, ou mesmo passar com algum carro muito barulhento, os latidos insistentes certamente irão espantar qualquer pessoa mal-intencionada.