A Delegacia de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, investiga o caso em que um médico teria matado a tiros uma cadela em uma estrada rural da cidade na última segunda-feira (30). O médico, um cardiologista, está sendo investigado por crime ambiental e também por porte ilegal de arma, uma pistola 380, da qual ele tem o registro. Ainda segundo a polícia, o médico procurou espontaneamente a delegacia para relatar o crime e está colaborando com as investigações.
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Conhecida como Gracy, a cadela foi morta na manhã de segunda na Estrada Ecológica, uma via rural em Pinhais. Ela pertencia a um grupo de cinco cachorros – duas fêmeas e três machos – que foram abandonados na estrada e que são alimentados há cerca de cinco anos por várias pessoas da região, incluindo protetores de animais.
A professora Patrícia Almeida Satyro, 46 anos, era uma das duas pessoas que alimentavam os animais no momento em que o disparo foi feito. Segundo ela, a cadela foi morta em um ataque de raiva do médico, que, pouco antes, havia passado pelo local, baixado o vidro do carro e argumentado que as mulheres estavam cometendo um crime por alimentar os bichos.
Da primeira vez que passou pela dupla, o homem teria se identificado como médico e também teria fotografado as voluntárias e as placas de seus carros. “De longe, ele começou a gritar, a gesticular com violência e a dizer ‘vocês estão cometendo um crime e eu vou resolver isso’. Quando subi para falar com ele, os cachorros começaram a latir porque perceberam que a protetora deles estava em perigo. Aí eles levaram chutes dele. No primeiro chute, um cachorro pegou a calça dele e rasgou. Ele voltou para o carro e uns 15 minutos depois voltou com a arma em punho”, relata.
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Já o advogado Ari Ferreira Fontana, que defende o médico, afirmou que um único tiro foi dado contra o animal após o cliente ser atacado. “Meu cliente oi atacado de forma brutal pelos animais de rua que são alimentados na frente do portão de sua casa”, afirma o advogado.
Segundo Fontana, no momento do ataque, os cães o morderam diversas vezes na panturrilha e no braço. “Suas roupas ficaram totalmente rasgadas, houve bastante sangramento e ele precisou de atendimento. Por sorte, os cães não conseguiram derrubá-lo, porque teria sido ainda pior, pois são cachorros de grande porte”, afirma.
Tiros e alimentação dos cães
Ao ver a arma, a professora relata que pediu para que o médico não atirasse. “Ele falou ‘olha como vou resolver’. Gritei para ele parar. Aí ele deu um tiro na Gracy, que estava parada do meu lado. Foi quando, no desespero, entrei na frente dele, de braços abertos. Ele balançava a arma na minha direção e começou a dizer que ia voltar e matar todos eles”.
Ainda conforme Patrícia, ela e a colega estavam justamente tentando esconder os cachorros quando tudo aconteceu porque previam que os animais corressem perigo. Segundo ela, o problema começou há cerca de 15 dias, quando uma mulher que catava pinhão na estrada tentou afastar bruscamente um dos cachorros e foi mordida.
A professora, que viu a cena, a socorreu e se ofereceu para levá-la a uma unidade de saúde. A vítima teria se recusado, mas no último sábado (28) fez um post no Facebook alertando sobre o perigo dos cachorros abandonados na estrada. “Esse post gerou inúmeros comentários raivosos, incitando a violência. Daí a gente foi lá. Os cachorros não são violentos. Tanto que, quando eles avançaram no médico, só com uma mão eu os afastei”. A professora já prestou depoimento na Delegacia de Pinhais.
Sobre o ocorrido, o advogado também afirmou que o médico sempre pede aos protetores para não alimentar os cães abandonados pelo perigo à saúde que eles representariam e que, na segunda-feira, ao ver um grupo dando comida aos bichos, tentou conversar e teria sido atacado. “Ele tem uma criança pequena e essa criança não pode passear de carrinho com a mãe porque os cães os colocam em risco. Já teve motociclista, ciclista e outras pessoas que foram atacadas ali. É algo frequente e existe até uma placa colocada pela prefeitura no local pedindo para ninguém alimentar os cães ”, diz o defensor.
A protetora disse que os animais nunca foram alimentados em frente ao endereço citado por ele.
Depósito de animais rejeitados
De acordo com Patrícia, os demais cães que estavam na Estrada Ecológica estão escondidos temporariamente. Ela relatou ainda que a via rural se transformou em depósito de animais rejeitados e que voluntários e ONGs já chegaram a pedir ajuda da prefeitura de Pinhais para o resgate, mas nunca foram atendidos.
A prefeitura responde que por causa de toda questão de guarda responsável, não possui o serviço de recolhimento de animais, mas ressaltou que, em caso de animais agressivos, se denunciados, o Centro de Controle de Zoonoses é acionado, avalia a situação e pode recolher o animal.
Em Pinhas, existe uma lei que regulamenta os cães comunitários. A lei permite adoção por algumas pessoas que têm a responsabilidade de cuidar de um ou mais animais, sem necessariamente levá-los para casa.
“Essas pessoas precisam oferecer todas as condições para que os animais tenham uma vida saudável, estabelecendo assim com a população um vínculo de dependência e manutenção. A Seção de Defesa e Proteção Animal de Pinhais possui o Programa Cão Comunitário, e os cães participantes deste programa são castrados, vacinados, desverminados e recebem todo o aporte clínico que necessitarem”, explicou a prefeitura, em nota.
Ainda segundo a administração pública da cidade, existe um programa gratuito de castração de cães e gatos para moradores com renda familiar de até três salários mínimos. Uma vez ao mês, o município realiza um evento de adoção,em que os proprietários levam seus animais e os disponibilizam para adoção. Se não forem adotados, os cães e gatos voltam para seus lares com seus tutores .
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