O constrangimento de cair em um golpe aplicado por estelionatários costuma deixar na vítima um sentimento de culpa por não ter percebido a armadilha em que se encontrava. Como as ações dos criminosos nesses casos não envolve violência, quem é enganado pelos golpistas perde dinheiro, objetos de valor, mas prefere esquecer o fato, como explica a Polícia Civil. Até o Boletim de Ocorrência (B.O.) passa a ser ignorado nessas situações, mesmo ele sendo fundamental para o trabalho de investigação e prevenção dos crimes.
Para o delegado Leonardo Carneiro, da Delegacia de Estelionato e Desvio de Carga de Curitiba (DEDC), tais crimes podem ser evitados. De maneira geral, segundo ele, os estelionatários só tiram vantagem das vítimas que se deixam levar pela possibilidade de ganhar dinheiro fácil. “É a primeira coisa da qual a pessoa deve desconfiar. Não há negócio da China, não existe ganho fácil e as negociações clandestinas, geralmente, têm algum tipo de problema”, alerta Carneiro.
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Carneiro alerta que as tentativas de aplicar golpes ocorrem o tempo todo e os criminosos estão cada vez mais criativos. “Os números de ocorrências não chegam a ser contabilizados porque nem todas as vítimas procuram a polícia, mas só na DEDC eles são denunciados de quatro a cinco vezes por dia. O anonimato da internet ajuda, há golpes novos na praça, mas ainda tem muita gente que cai nas práticas antigas”, afirma.
Conheça os mais comuns e saiba como se proteger de cada um deles.
Bilhete premiado
O golpe do bilhete premiado é um dos mais comuns e quase todo mundo já ouviu falar. Mesmo assim, uma moradora, de 78 anos, do bairro Água Verde, em Curitiba, perdeu cerca de R$ 25 mil em joias para golpistas que chegaram com essa história. “Estou constrangida, chorando bastante. Resolvi contar meu caso para ajudar outras pessoas a não caírem nessa conversa”, explica a mulher, que foi abordada na rua por um casal quando saía de um grande supermercado do bairro onde mora, por volta das 13h30 de segunda-feira (23). “Passei quase três horas andando de carro com eles e não percebi o golpe. Desejo que mais ninguém passe por isso”, conta. Até a tarde desta quarta-feira (25), a moradora ainda não tinha registrado o B.O. e estava em dúvida se o faria, por vergonha — a reportagem soube do caso porque a vítima entrou em contato com a redação.
A história contada pela moradora do Água Verde foi a mesma já relatada outras vezes. A mulher golpista fingiu que vinha do interior do Paraná e pediu ajuda para encontrar um endereço escrito nas costas de um bilhete de loteria. O comparsa apareceu e ligou para uma lotérica falsa que confirmou os números sorteados para um prêmio de R$ 2,8 milhões. A mulher disse que não tinha como sacar o prêmio. A moradora, acreditando na história, entrou no carro dos estelionatários para buscar as joias em casa e dar como garantia no recebimento de uma recompensa em dinheiro. Em algum momento de distração, os criminosos trocaram o pacote com as joias sem a vítima perceber e a levaram para casa, com a promessa de voltar no dia seguinte para sacar o prêmio. O que, claro, não ocorreu.
Como se proteger
A principal dica da Polícia Civil é desconfiar de propostas generosas e de ganhos fáceis, principalmente vindo de pessoas desconhecidas. Além disso, os golpistas costumam se passar por pessoas humildes ou de pessoas bem sucedidas para conquistar a confiança da vítima, então não se deixe levar por histórias emocionantes ou inspiradoras demais. E, acima de tudo, não confie cartão de banco, dinheiro ou qualquer outra coisa de valor a quem você não conhece.
Golpe do primo
Tudo começa quando a vítima anuncia um veículo para venda na internet. O golpista entra em contato pedindo informações e diz que fará a compra para uma terceira pessoa, para quitar uma dívida. Com dos dados do carro, ele clona o anúncio por um preço abaixo do mercado para chamar a atenção de um comprador de verdade. Quando o comprador é fisgado pelo anúncio, o criminoso informa que o carro é de um parente que lhe deve uma quantia em dinheiro e que a venda é para quitar essa dívida.
O que realmente chama a atenção nesse golpe é que o estelionatário coloca as duas vítimas em contato e pede para que não entrem no mérito de valores do carro, pois o negócio bom pode melar — assim, os montantes acabam sendo tratados só com o golpista. Quando o negócio fecha, o criminoso passa uma conta em nome de terceiro para o comprador depositar o valor do veículo. Depois, faz uma transferência falsa para o vendedor, que assina o Documento Único de Transferência (DUT) do veículo. Só que esse valor acaba sendo estornado porque ele nunca teve a intenção de repassar o dinheiro. E o pior: ao procurar a polícia, uma vítima acusa a outra de participação no crime, por achar que o estelionatário tem relação com uma ou outra.
Como se proteger
Para quem está comprando um carro pela internet, desconfie de anúncios muito baratos. Segundo a DEDC, a regra de ouro é suspeitar de negócios que pareçam muito vantajosos. Os golpistas se aproveitam da ganância das vítimas para se dar bem e, por isso, a recomendação é não tentar enganar o vendedor. Se você entrar em contato com o vendedor (ou com o comprador), diga a verdade sobre a negociação e não entre na história sugerida pelo estelionatário. Assim, você consegue desmascará-lo e ninguém sai perdendo — somente o criminoso.
Venda de veículos
Anúncios online se tornaram terreno fértil para golpes — principalmente quando o assunto é carro. Neste golpe, um veículo é anunciado com um preço bastante atrativo, mas sem dizer em que cidade o vendedor está. Quando a vítima se interessa, o estelionatário solicita um valor ou sinal de negócio para o transporte do carro até a cidade em que o comprador está. Buscando manter a confiança da vítima, o golpista diz que o restante do valor da compra só precisa ser pago no momento de recebimento do veículo, prometendo devolver o pagamento inicial se o comprador desistir do negócio.
Como se proteger
Novamente, desconfie de anúncios muito vantajosos. Ofertas muito abaixo do preço médio do mercado já devem disparar o sinal de alerta, assim como o pedido por um sinal ou entrada. Para evitar ser lesado, procure negociar pessoalmente e ver o automóvel em questão. E, acima de tudo, só deposite ou transfira o dinheiro quando toda a documentação de transferência do veículo estiver assinada.
Empréstimo ou consignados
Os golpistas oferecem empréstimos com condições atraentes, fora da realidade do mercado, sem a necessidade de avalista. A vítima paga um suposto seguro fiança para ter acesso ao dinheiro, tendo que fazer um cadastro com todos os dados pessoais – que serão usados para outros golpes. A vítima nunca recebe o valor do empréstimo. Pelo contrário, mais taxas aparecem e vão sendo pagas por ela até que perceba o golpe. Os criminosos se apropriam dos valores das supostas taxas e desaparecem do mapa.
Como se proteger
Segundo a Polícia Civil, as pessoas devem desconfiar de propostas muito vantajosas e que não exigem garantias e nem comprovação de renda, já que praticamente todo o mercado financeiro faz esse tipo de exigência. Como a maior parte dos contatos acaba sendo feito por telefone ou internet, procure visitar uma unidade física do estabelecimento e procure mais informações com conhecidos para saber se ela é real ou não. Além disso, não encaminhe nenhum documento pessoal e nem ceda informações sem saber se está ou não falando com uma loja de verdade.
Golpe do Motoboy
A vítima recebe uma ligação falsa do sistema de fraudes do cartão crédito para validar uma suposta compra de alto valor. Por desconhecer a compra, ela é orientada a ligar, imediatamente, para o número de telefone que consta atrás do cartão. Ao fazer a ligação na hora, os criminosos usam de tecnologia para interceptar a chamada e mantê-la na mesma linha que estavam usando. Com a justificativa de bloqueio do cartão, os estelionatários conseguem que a vítima revele a senha, pedem para ela cortar o cartão mantendo o chipe intacto, solicitam que o cartão destruído seja colocado em um envelope contendo uma carta de próprio punho explicando o ocorrido e avisam que um motoboy do banco passará pegar a carta na própria residência da vítima. Em posse do cartão, os golpistas fazem várias compras.
Como se proteger
A dica básica é não fornecer sua senha a ninguém. Além disso, não entregue seu cartão a desconhecidos, mesmo ele tendo sido danificado. Nesse golpe, o pedido para dão danificar o chip tem uma razão: com ele intacto, os golpistas conseguem reconstruir o cartão e usá-lo sem o seu consentimento. Então, se tiver dúvidas, contate o gerente da sua conta.
Golpe do Guincho
O golpista entra em contato com a vítima por telefone se passando por um parente ou conhecido que sofreu um acidente ou sofreu algum problema mecânico no meio da estrada. Em alguns casos, ele não diz o seu nome e induz a pessoa a falar o nome de alguém conhecido. Dizendo que sofreu um acidente e precisa pagar o guincho, ele pede dinheiro. O criminoso passa os dados bancários de uma terceira pessoa para depósito. A vítima percebe o golpe, normalmente, quando o parente não aparece.
Como se proteger
Se receber uma ligação de alguém que não se identificou, não passe nome de parentes ou amigos próximos. Mesmo se o golpista forjar uma intimidade, peça para que ele diga o nome. Se ainda restar dúvida, entre em contato com a pessoa que ele diz ser ou pergunte coisas que somente o verdadeiro parente/amigo saberia. E não deposite ou transfira qualquer valor na conta de desconhecidos.
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