Pit bull Rock com o soldado Luiz Fernando Cruz, com quem atuou na PM: cachorro era o terror dos encrenqueiros nos estádios.| Foto:

O Batalhão de Operações Especiais (Bope) se despediu no dia 13 de agosto do primeiro cachorro da raça pit bull a atuar na Polícia Militar (PM) do Paraná. Rock faleceu de causas naturais aos 13 anos, 11 deles dedicados ao trabalho policial na dispersão de multidões - em especial na segurança de jogos de futebol, em que ajudou a controlar diversos distúrbios entre torcidas organizadas. O pit bull também participava de ações educativas da PM em escolas.

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O soldado Luiz Fernando Cruz, atualmente na reserva, não só atuava com Rock como o levou para a Companhia de Operações com Cães da PM (COC). “Minha relação com o Rock era como de pai e filho. Tanto que não vi tanto meu filho crescer como vi o Rock”, compara o policial aposentado.

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O soldado ganhou Rock de doação após o canil onde o animal vivia fechar. Na época, o pit bull tinha apenas um ano e Cruz pensou em levá-lo para trabalhar no quartel. “No início o pessoal ficou resistente, por causa da fama ruim, que o pit bull seria um animal descontrolado. Mas argumentei que com um bom adestramento e amor ele iria ser um bom cachorro”, destaca Cruz.

A aposta deu certo. O pit bull se relacionou bem com os outros policiais e com os demais cães da corporação. E ainda provou que a raça caberia bem no trabalho policial por intimidar com seu porte. “O pit bull é um cachorro diferente, mais resistente, mais ativo, não se cansa. Só a presença dele já cria uma intimidação no local”, descreve o soldado.

Soldado Luiz Fernando Cruz se despede de Rock, pit bul com quem atuou na PM.
Além do trabalho de dispersão de multidões, Rock também representava a PM em trabalhos educativos nas escolas.
Placa de Rock no Memorial dos cachorros da PM e dos Bombeiros no cemitério de cães.
Soldado Luiz Fernando Cruz deposita as cinzas do cachorro Rock no Memorial dos cães da PM e dos Bombeiros.
Soldado Luiz Fernando Cruz foi quem levou Rock para a PM.
Soldado Luiz Fernando Cruz deposita as cinzas do cachorro Rock no Memorial dos cães da PM e dos Bombeiros.

A parceria entre Cruz e o pit bull era tão grande que o cão era até mais conhecido do que o próprio policial. “A gente tinha uma sincronia, como se realmente fossemos dois policiais na viatura. Muita gente nem sabia meu nome, mas o do Rock todo mundo sabia e confiava nele”, recorda Cruz.

Nos estádios

O lugar onde o trabalho de Rock realmente fazia diferença era nos estádios de futebol, onde só a presença do pit bull já fazia os encrenqueiros pensarem duas vezes antes de causarem confusão.

Uma das atuações marcantes de Rock nos estádios foi na goleada do Coritiba de 6 a 0 sobre o Palmeiras no Couto Pereira pelas quartas de final da Copa do Brasil de 2011. Após a goleada, torcedores da equipe paulista tentaram invadir o camarote para cobrar a diretoria. Só não contavam que Rock estava ali para impedi-los.“A gente acuou todo mundo no segundo anel, não veio ninguém para baixo. Botamos todos para fora com o Rock e mais um cachorro”, relata Cruz.

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Outra situação em que o pit bull agiu foi uma briga entre torcidas do Athletico, em um clássico Atletiba na Vila Olímpica do Boqueirão, pelo Campeonato Paranaense de 2013. Naquela ocasião, os torcedores chegaram a desdenhar do cachorro. Mal sabiam com quem estavam mexendo.

“Ninguém estava conseguindo dar conta dos torcedores e chamaram a gente com os cães. Pedimos para o pessoal parar com a confusão, porque não queríamos usar os cachorros. Foi quando eles debocharam. Aí fui soltando a guia, alguns foram dispersando, mas veio um cara com pedaço de pau, falando que o cachorro não ia morder. Soltei o Rock e ele foi direto nas nádegas do indivíduo”, descreve o soldado.

Mas Rock tinha um ponto fraco nas partidas de futebol: a bola. Ele nunca chegou a fugir da guia e a desobedecer Cruz. Mas quando via uma bola rolando, se transformava. “Ele ficava bem maluco quando a bola passava perto, correndo de um lado para o outro. Mas o máximo que ele fez foi abraçar uma bola uma vez”, recorda Cruz.

Outra traquinagem eram os sustos que o cachorro dava em jogadores e integrantes da equipe da arbitragem. “O Rock já deu ‘corridão’ em jogadores e em bandeirinha que chegavam perto dele”, brinca o soldado.

Rock e Cruz deixaram a PM no mesmo ano, em 2017. O soldado tentou levar o cachorro para morar em sua casa, mas ele não se adaptou. Rock então voltou ao canil da PM, onde sempre recebeu visitas do parceiro.

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“Ele sentia muito minha falta e eu a dele”, enfatiza Cruz. Rock foi cremado e as cinzas foram depositadas pelo soldado no monumento dedicados aos cães da PM e dos Bombeiros em um cemitério para cachorros em Colombo, região metropolitana de Curitiba, onde ganhou uma placa em homenagem o trabalho prestado.