O Museu Oscar Niemeyer (MON) anunciou nesta quinta-feira (19) que estão suspensos, até segunda ordem, os eventos realizados na área externa do prédio, localizado no Centro Cívico, em Curitiba. A decisão, informou a direção do museu, foi tomada após problemas relacionados a atividades com maior número de público.
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Em nota enviada à Gazeta do Povo, a administração do MON explicou que além de colecionar e expor, o museu tem como missão “proporcionar experiências e diálogos entre público e arte”. Porém, problemas ocorridos em eventos realizados na área externa do museu – viabilizados por meio de locação junto à administração do MON, como previsto no Estatuto Social – teriam atrapalhado essa experiência do público.
“A instituição optou por reavaliar sua política de eventos, para assegurar que as ações realizadas sejam adequadas às missões do MON e os espaços comportem adequadamente o público externo, sem prejudicar a experiência dos visitantes do museu, que são a prioridade da instituição”, informou a nota.
A administração do MON garantiu que não se trata de um cancelamento dos eventos, uma vez que toda a agenda de contratos de locação já havia sido cumprida antes do anúncio. A suspensão não tem data para acabar, e foi aplicada “para que o MON possa garantir o bom atendimento dos visitantes e acesso às suas dependências, assim como viabilizar a realização de eventos culturais de qualidade para o público em geral”, aponta a nota.
Não há alterações para os eventos programados para o espaço interno do MON, destaca a administração. Tanto o vão livre quanto o auditório Poty Lazzarotto e o salão de eventos seguirão recebendo as atividades normalmente.
Suspensão veio após movimento contra a perturbação do sossego na capital
O anúncio da suspensão das atividades na área externa do MON se deu cerca de um mês após o lançamento do Movimento Contra a Perturbação do Sossego, que busca mudanças na legislação para que fiscais e a polícia possam de fato agir contra quem incomoda. A iniciativa surgiu no último dia 27 de abril, Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído.
A principal frente do grupo é conscientizar os poderes estadual e municipal de que é urgente alterar a legislação para que o problema não se agrave ainda mais na capital. Entre as sugestões estão dar poder de multa à Polícia Militar (PM) ao flagrar esse tipo de ocorrência e mais rigor do município na emissão e fiscalização de alvarás para comerciantes que vendem bebidas alcoólicas.
A perturbação de sossego lidera o ranking de chamadas à Central 190 da PM em Curitiba, representando 40% de todos os atendimentos da corporação. Aos finais de semana, os casos de perturbação de sossego saltam para 70%. Em fevereiro e março, a média mensal de chamadas de perturbação em Curitiba foi de 5,9 mil. Como comparativo, a segunda ocorrência mais encaminhada à Polícia Militar na capital, o pedido de abordagem de pessoas ou veículos suspeitos, teve média nos mesmos meses quase quatro vezes menor: 1,6 mil acionamentos.
Para presidente do Conseg do Centro Cívico, local estava se tornando um "bar a céu aberto"
O movimento tem a participação de conselhos de segurança dos bairros, moradores impactados pelo barulho, além de profissionais de saúde e as próprias forças de segurança. "As leis que regem o tema hoje são antigas e precisam ser atualizadas. Foram feitas para uma realidade que não existe mais em Curitiba", argumenta a jornalista Valéria Prochmann, presidente do Conselho de Segurança do bairro Centro Cívico, onde as ocorrências de perturbação de sossego são constantes no entorno do Museu Oscar Niemeyer.
Ela comemorou a decisão tomada pelo MON, e classificou a suspensão das atividades na área externa do museu como o primeiro passo do movimento no sentido de criar uma nova consciência na comunidade.
"A violência sonora causa males à comunidade. A decisão do museu de recuar, de não sediar mais esses festivais cervejeiros, é uma decisão sensata, equilibrada, que reconhece o impacto negativo que esses eventos causam em toda a vizinhança. O MON é um cartão postal da cidade para o mundo, é um orgulho da comunidade do Centro Cívico. A gente entende que não é correto usar esse espaço do museu para eventos que promovem o consumo de bebida alcóolica com horas e horas de perturbação de sossego, com música alta, aos finais de semana e feriados", comentou.
Valéria aponta a venda de bebidas alcóolicas no entorno e nos eventos do museu como um dos maiores geradores da perturbação de sossego apontada pelos moradores do Centro Cívico. Segundo a jornalista, o gramado do MON tem se tornado “um bar a céu aberto” a cada vez que um evento do gênero era realizado no local.
"Não somos contra a diversão dessas pessoas, não somos contra elas beberem, mas elas têm que ter mais respeito. Se quiserem beber, que o façam dentro dos bares, dos restaurantes, em ambientes que foram planejados para isso. Esses eventos são programados e organizados sem que a comunidade seja ouvida. Por isso essa decisão para nós é um marco, pois mostra que há uma nova consciência se formando a respeito dos males causados pela perturbação do sossego", concluiu.
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