“Graças a Deus não tenho ódio no coração, porque se tivesse estaria muito pior. Não tenho ódio das pessoas que mataram meu filho. Tenho pena, muita pena. Que vida eles vão ter agora? Não é só a minha família que ficou destruída, a deles também”. É desta forma que Eliana Aparecida Corrêa encara a morte do filho, o jogador Daniel, assassinado brutalmente em outubro em São José dos Pinhais, na região de Curitiba. A família do atleta é de Conselheiro Lafaiete (MG), onde o jogador foi enterrado.
Por opção, Eliana não tem acompanhado os noticiários. Ela ficou sabendo que a polícia encerrou o inquérito e que os laudos do Instituto Médico-Legal (IML) foram concluídos. “Não estou acompanhando porque não consigo. Quando vejo que vai passar algo na televisão, nem assisto. Não quero porque me machuca mais ainda”, diz a mãe, que desde que soube da morte do filho está morando na casa da irmã. Ela diz que ainda não conseguiu voltar para casa porque dói demais ver as coisas de Daniel. “As fotos, os troféus, as medalhas. Tudo dele está lá. Não aguento ver”, diz.
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Eliana diz que está tendo acompanhamento psiquiátrico desde a morte de Daniel. Ela diz tentar conseguir forças para cuidar da filha de Daniel. “Estou tomando remédios para dormir, remédios para conseguir passar os dias. Porque preciso ser forte para cuidar da filhinha do Daniel. Sem os remédios eu não estava suportando, não estou dando conta. É um sentimento gigante de perda”, lamenta a mãe.
Daniel deixou uma filha de um ano e 10 meses que a todo momento pede pelo papai. “A mãe dela estava fazendo provas. Ela foi embora e a casa ficou triste, pois ela fazia todo o movimento da casa. Ela vê foto do Daniel e chama o papai. De vez em quando ela olha pro teto e parece que vê o pai, porque fala papai”, conta Eliana.
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A última lembrança que a criança tem do pai, aliás, é de dias antes de morrer o jogador brincando enquanto trocava a fralda dela. ”O Daniel veio para cá com a filha e no aeroporto parou no banheiro para trocar a fralda dela. Esses dias a mãe esteve no aeroporto e a bebê lembrou da troca de fralda. Chamou o papai”, emociona-se a mãe, que passava no mínimo cinco dias por mês na casa de Daniel, cuidando da neta.
Inquérito
Eliana diz que, apesar de todo o sentimento de perda, ela está satisfeita com a conclusão rápida do inquérito. Elogiou a polícia do Paraná, dizendo que ela foi muito eficaz. Agora espera que os investigados sejam condenados e que eles não consigam a liberdade provisória, para evitar que façam a mesma coisa com outras pessoas.
“Eles são cruéis, frios. Que a Justiça seja feita, porque eles tiraram o meu filho. Nada que acontecer pra eles vai trazer meu filho de volta. Mas vai impedir que façam com outras famílias o que fizeram com a minha. Não tenho mais meu filho. Agora eu só tenho as lembranças dele”, lamenta Eliana.
O caso
O corpo de Daniel Corrêa Freitas foi encontrado em um matagal em São José dos Pinhais no dia 27 de outubro com sinais de tortura: o pescoço estava quase degolado e o pênis decepado. Daniel veio a Curitiba participar da festa de aniversário de Allana Brittes, filha de Edilson Brittes Jr, no dia 26 de outubro. Após participar da comemoração em uma casa noturna no bairro Batel, o jogador foi para outra festa na casa de Edison, dono de um mercado em São José dos Pinhais.
À polícia, o empresário admitiu ter matado o jogador após tê-lo flagrado tentando estuprar sua esposa - versão questionada pela polícia. O jogador chegou a enviar via Whatsapp a um amigo imagens dele ao lado da esposa de Edison na cama do casal, o que teria levado o empresário a cometer o assassinato. Nas fotos, Cristiana dorme enquanto o jogador faz caretas.
Daniel foi espancado na casa da família e levado para um matagal no porta-malas do carro de Edison. De acordo com o empresário, ele decidiu matar o atleta com uma faca que tinha no carro. Entretanto, Eduardo afirmou em seu depoimento nesta segunda-feira (12) que viu Edison pegar a faca na cozinha da residência.
Antes de ser preso, o empresário chegou a ligar para a família e para amigos de Daniel a fim de prestar solidariedade. Allana também trocou mensagens com uma parente de Daniel afirmando que não houve briga na casa da família e que o jogador foi embora sozinho na noite do assassinato.
Daniel teve passagem apagada pelo Coritiba em 2017, prejudicada por lesões. Natural da cidade de Juiz de Fora (MG), teve também passagens por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo, Ponte Preta e estava atualmente no São Bento de Sorocaba (SP). O corpo do jogador foi enterrado no dia 31 de outubro na cidade de Conselheiro Lafaiete, também em Minas Gerais.
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