Heleny Bara Araújo viveu uma vida nos trilhos, assim como os trens que foram cenário de sua juventude e fonte de sustento para sua família, já que o marido era ferroviário. Com uma trajetória encarrilhada com plenitude, ela faleceu no dia 6 de setembro, aos 96 anos, depois de passar a maior parte da vida no município da Lapa, no Paraná, onde formou família.
Apesar de ter nascido em Curitiba, cresceu em Engenheiro Bley, distrito da Lapa dedicado primordialmente ao funcionamento da estação ferroviária de mesmo nome. Era ali que a mãe de Heleny, Helena, tinha um comércio cuja principal função era atender as necessidades rápidas dos passageiros que passavam por ali de trem fazendo baldeação, em busca de um refrigerante, um café ou lanche rápido. A cidadezinha tinha tudo o que lhe é de direito em matéria de interior. Desde a atmosfera bucólica até a disseminação de lendas sobre criaturas fantásticas que colocavam pesadelos nas noites de Heleny e do restante da criançada, como sobre a Mula sem cabeça e o Boitatá.
Depois que começou a fazer o Ensino Fundamental no Colégio São José, na Lapa, brincar no Rio Iguaçu, que passava em frente à casa em Engenheiro Bley, caçar passarinho e andar a cavalo se tornaram atividades divertidas que a menina fazia apenas nas férias. Foi também em uma dessas idas que conheceu o futuro marido, o ferroviário Sebastião Amaral Araújo.
Repleto de campos e matas, Engenheiro Bley forneceu ao casal sua própria “Vereda Tropical”, como eles chamavam o local onde se conheceram, inspirados pela música. Do casamento nasceram sete filhos – que geraram, depois sete netos e sete bisnetos – criados no tradicional casarão no Centro Histórico da Lapa, moradia ocupada por Heleny até o final da vida.
A criação dos filhos e o cuidado com a casa foram centrais em sua trajetória, mas também havia espaço para hobbies que definiram sua personalidade. Excelente costureira, fazia vestidos para as pequenas e, informalmente, ela e suas revistas de moda francesa eram fonte segura daquele toque de bom gosto essencial nas festas e casamentos lapeanos. Qualquer que fosse a ocasião, as amigas e conhecidas não tardavam a lhe pedir conselhos sobre o que seria mais sofisticado e bonito na escolha de ornamentos e trajes festivos.
“Ela irradiava bom gosto e prezava muito pela informação, dando prioridade absoluta aos bons modos”, conta o filho Luiz Roberto Bara Araújo. Foi Heleny quem plantou nos filhos a semente da educação e da leitura. Apaixonada por literatura, não ficava aguardando para que os livros que queria ler chegassem à cidade. Ela mesma encomendava com as editoras, de Curitiba ou pelo reembolso postal os títulos de Érico Veríssimo, Agatha Christie, Monteiro Lobato e outros autores que amava. Um exemplar clássico e precioso de “O vento levou”, de Margaret Mitchell, foi o presente de noivado escolhido para ela por Sebastião.
Ainda no campo da informação, foi criado por iniciativa dela, e com base em extensa pesquisa que durou dez anos, uma árvore genealógica e banco de dados digital sobre a família Tesserolli, da qual ela faz parte. Uma espécie de mecanismo de pesquisa particular com informações sobre a origem da família.
De personalidade calma, porém exigente, era muito perspicaz e teve uma memória quase que impecável até o fim. Conheceu Europa, Ásia e África e, já com idade avançada, encontrou no jardim de casa um hobby. Cultivava suas flores preferidas, e em meio ao perfume de jasmim e de rosas, se divertia com suas duas gatinhas e o cãozinho de estimação.
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