Previstas para ficarem prontas para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, as obras no trecho que liga Curitiba a São José dos Pinhais não ficou pronta nem mesmo para o mundial de 2018, que aconteceu na Rússia. E o atraso de mais de quatro anos ainda impacta a vida de quem passa pelo local, uma vez que o serviço inacabado — que começa nos bairros Boqueirão e Uberaba — afeta o trânsito da região e escancara o descaso envolvendo o famigerado "legado da Copa" na capital paranaense.
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“O trecho da Avenida Salgado Filho continua parado, assim como as promessas. O status da obra continua no cronograma como ‘P’, só não sabemos de é P de pendente ou de promessa”, desabafou um morador, que pediu para não ser identificado por conhecer pessoas ligadas a uma das prefeituras envolvidas nas obras.
Segundo ele, o trecho final das mudanças, que passa ali próximo ao Parque São José, atrapalha principalmente os motoristas. Isso porque, se já tivesse sido concluído, o trecho iria facilitar a vida de quem precisa ir e voltar da Avenida das Torres. O problema é que, até agora, tudo o que se encontra são placas, bloqueios e entulho — o que também eleva os riscos na área, já que não é difícil encontrar motociclistas que cortam caminho justamente pelas áreas fechadas.
Depois de muito esperar que as obras terminassem, a população começou a acompanhar de perto o que tem sido feito. “Mas na verdade, não tem sido feito nada. Me lembro que no ano passado foi aberta uma nova licitação e a empresa que ganhou até colocou uma placa de que finalizaria a obra e que era uma missão, mas isso também não aconteceu porque parece que não recebeu o que precisava. O que chegou pra gente é que falta menos de R$ 60 mil para terminarem. Às vezes dá vontade de reunir a população e fazermos uma vaquinha para pagarmos e acabarmos com o problema de tanta gente”.
Problemas na vizinhança
O problema é ainda maior, se pensar que o trecho da Avenida Salgado Filho é apenas parte do grande elefante branco que as duas prefeituras, de São José dos Pinhais e de Curitiba, ganharam. Isso porque mais a frente, já no município da Região Metropolitana, duas obras também estão completamente paradas: a trincheira da Rua Arapongas e a conclusão das obras do acesso ao aeroporto Afonso Pena.
Para que a trincheira fosse feita, foi preciso desapropriar parte do terreno da Paróquia São Cristóvão, que fica na Rua Arapongas, e também de um restaurante, que teve que sair do local. Segundo o padre Carlos, a obra da trincheira se tornou um grande empecilho. “Nós estamos aqui amarrados, tiraram um pedaço da igreja. Estamos literalmente ‘entrincheirados’, porque isso aqui não vai nem para frente e nem para trás, estragaram a entrada do bairro e só nos trouxeram dor de cabeça”.
O padre comentou que a igreja vai ter que ser reconstruída, mas que para isso está esperando a obra ser finalizada. Além disso, mesmo com a reconstrução da igreja, não vai ser a mesma coisa. “Porque não vamos ter uma parte da frente da igreja, pois não podemos deixar na Avenida das Torres e também não dá para o acesso ser pela Rua Arapongas. Se pelo menos a trincheira estivesse funcionando, mas nem isso, a obra é cheia de falhas e até infiltração na trincheira já percebemos que existe”.
Conhecendo a população do entorno, o padre comentou que é perceptível a revolta dos moradores. “Porque essas obras prejudicaram uma comunidade toda, não só a igreja. Em frente tínhamos duas cantinas que foram fechadas, isso já mexeu na questão dos empregos também. Além disso, tem os moradores, que também foram prejudicados e se você perguntar, ninguém está feliz com o que aconteceu aqui”.
Respostas
Segundo a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), responsável pela obra, um novo calendário para a retomada das obras deve ser apresentado nas próximas semanas. De acordo com o órgão, a demora de mais de quatro anos é reflexo de uma série de problemas que se estendem desde 2014. No ano passado, a Comec informou que a empresa contratada fez 70% do projeto, mas teve problemas para concluir. Segundo ela, essas obras fazem parte de um contexto que ganhou corpo jurídico por conta da empresa responsável ter entrado em recuperação judicial, “o que impactou decisivamente na continuidade dos trabalhos”, informou, em nota.
Apesar disso, a Comec disse que a nova gestão, com o comando do novo governador do Paraná, Ratinho Junior, retomou todas as tratativas com os envolvidos, “ao mesmo tempo que está sendo promovida toda a revisão dos projetos das obras paralisadas e seus trâmites burocráticos”. Até lá, moradores e motoristas que passam pela região vão ter que continuar lidando com um problema e torcer para que o problema não se estenda até a Copa do Mundo de 2022 para ser solucionado.