![Ônibus e estacionamento são principais reclamações no primeiro dia do binário | Jonathan Campos/Gazeta do Povo](https://media.gazetadopovo.com.br/2017/11/ebed77946baad66883568895ac085b3a-gpLarge.jpg)
Instalado com a promessa de melhorar o trânsito entre o Centro e os bairros São Francisco e São Lourenço, o binário das ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha começou a funcionar na manhã desta terça-feira (28) e já virou alvo de reclamações de moradores, comerciantes e usuários dos ônibus que passam pela região. Isso porque, segundo eles, os impactos das mudanças no dia a dia são muito maiores do que os benefícios prometidos pela prefeitura.
Confira as mudanças nos pontos de ônibus no binário
Veja como ficou o trânsito na região da Mateus Leme e Nilo Peçanha
A principal crítica é a alteração de vários pontos de ônibus ao longo do binário. Com a mudança nos sentidos das ruas, 15 linhas também tiveram suas rotas modificadas. Assim, consequentemente, muitas paradas tiveram de ser adequadas e quem antes descia em um ponto da Mateus Leme para ir ao Centro, por exemplo, terá de desembarcar na Nilo Peçanha, a algumas quadras de distância.
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É o caso da auxiliar administrativa Ruberli Scheer, de 57 anos, que trabalha em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e que vai ter seu trajeto alterado na hora de retornar para a capital, já que terá de usar outro ônibus e passar pelo Parque Tanguá para chegar em casa — o que era desnecessário até então. Com a mudança, ela calcula um aumento de 10 minutos no tempo de viagem. “O duro é no inverno, que anoitece cedo. É muito perigoso aqui”, reclamou a mulher, que disse faltar informação suficiente sobre a alteração dos trajetos das linhas.
O estudante Rodrigo Cláudio de Oliveira, de 30 anos, também teve problemas na hora de encontrar uma estação operante. Antes, para ir e voltar da faculdade, ele usava uma linha Água Verde/Abranches, que passava nos dois sentidos pela Mateus Leme. No entanto, nesta terça, ele saiu da aula ao meio-dia e não sabia onde pegar o coletivo em direção ao Centro. “Tive que perguntar para o agente que está orientando o fluxo se todos os ônibus que voltavam agora estão passando aqui [Mateus Leme]”.
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Desde o início da semana, a prefeitura vem distribuindo folders informativos para os passageiros das 15 linhas que passam pela área do novo binário. O material relaciona os ônibus cujas rotas foram alteradas, além de trazer um mapa indicando a localização dos pontos nas ruas Mateus Leme e Nilo Peçanha. Segundo a administração municipal, o panfleto serve exatamente para os passageiros avaliarem qual linha ficará melhor a partir desta terça.
Impacto no comércio
Outro impacto direto com o início do binário está nas lojas. Com a retirada das vagas de estacionamento na Rua Nilo Peçanha, comerciantes da região já preveem uma queda no movimento.
Um dos proprietários de uma padaria praticamente na esquina com a Evaldo Wendler, Marlon Bill Santos foi taxativo: “Vamos ter que fechar aqui”. Ele conta que, logo após as primeiras informações sobre a implantação do binário, protocolou um pedido no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para saber se existe a chance de retorno de estacionamento na via, mas não obteve resposta até hoje.
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Segundo Santos, só na manhã desta terça-feira, o primeiro do binário, o movimento na panificadora caiu pela metade e que, se o ritmo se manter daqui em diante, seus 12 funcionários correm o risco de serem demitidos. Ele contesta, sobretudo, a falta de diálogo da prefeitura, que não teria conversado com a população para levantar o impacto da mudança. “90% do nosso movimento é de carros que passam aqui. Morador é pouco. Aí vem a prefeitura, sem avisar nada, e fecha o estacionamento “, reclama.
De acordo com a superintendente de trânsito da prefeitura, Rosângela Batistella, a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) não descarta a possibilidade de criar novas vagas no futuro. “O que pode ser feito mais tarde é que algum comércio requeira um remanso [vagas recuadas na calçada], da mesma forma que existe na Mateus Leme, e aí a pessoa pode executá-lo, desde que aprovado na prefeitura”, explicou.
A mudança também afetou comércios que dependiam de ruas transversais. Renata Reis trabalha em uma farmácia na esquina entre a Nilo Peçanha e a Carlos Pioli, no Bom Retiro, e lamenta o movimento da manhã, nunca antes visto na loja. “Essa hora, tinha fila aqui. Mas olha, o estacionamento vazio agora”, relata. Segundo ela, entre as 7h e o meio-dia, apenas dez clientes entraram na loja. Isso porque, com a Nilo Peçanha em sentido único, os acessos à farmacia de motoristas que dirigem pela Carlos Pioli foram cortados.
Protesto de ciclistas
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Os primeiros minutos do binário também foram marcados por um pequeno protesto de ciclistas, que reclamavam da falta de ciclovias, dificultando a movimentação de ciclistas que antes utilizavam a Rua Mateus Leme na ligação entre o Centro e bairros como Bom Retiro, Pilarzinho, São Lourenço, Abranches e Barreirinha.
Para a superintendente da Setran, a instalação de novas ciclovias no binário é desnecessária porque já existe trechos na região para o tráfego de bicicletas. “Nós temos uma ciclovia muito bem feita, muito bem sinalizada na região do São Lourenço, que é paralela à Mateus Leme e é por onde os ciclistas têm circulado e já atende a região”, explica Batistella.
No entanto, para os ciclistas, isso não é o suficiente, principalmente considerarem o trecho muito perigoso, inclusive de dia. “Ou seja, não tem mesmo mais espaço pra ciclista na cidade”, reclama a estudante Bruna Motta. Para ela, já ajudaria se a prefeitura fizesse do binário uma Via Calma.
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