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 | Arquivo da família/
| Foto: Arquivo da família/

Ficar na dele, bebericando algo e declamando suas trovas compostas com esmero. Era assim que Orlando Woczikosky – morto em fevereiro, aos 91 anos, em decorrência de complicações de saúde – atingia a plenitude. Ele era o último fundador vivo da União Brasileira de Trovadores (UBT), nascida em 1966, e teve dez livros de trovas publicados durante a vida, além de um de poemas e da participação em diversas antologias.

A paisagem paranaense teve função vital no início da escrita, assim como a influência familiar, pois a avó materna gostava muito de quadras populares, as declamava e ensinava o pequeno Orlando, que manteve o conhecimento no inconsciente até que pudesse utilizá-lo com naturalidade. Foi em 1948, após contemplar a beleza da Serra do Mar do topo do Pico do Marumbi que Orlando escreveu sua primeira poesia “de algum valor”, segundo ele mesmo. Emprestando o nome do pico como título, anos depois ele declamaria o texto em uma confraternização com colegas de trabalho, a convite de um amigo que soubera de sua paixão e prática dos versos e métricas.

A qualidade técnica do material deixou os presentes impressionados, e a partir de então Orlando tomou novo fôlego para retomar a escrita, que estava quase parada desde que se casara. Foi assim que publicou seu primeiro livro, pelo Senai, onde lecionou Desenho por mais de 30 anos. Com uma memória singular, mantinha grande parte de seu material em mente, pois a arte da trova demanda vocalização. Porém, gostava de pensar com cuidado em cada palavra, encaixá-las exatamente onde deveriam estar. Muitas vezes era convocado pelos colegas trovadores para revisar os versos deles, devido a essa qualidade métrica que aplicava.

Embora as temáticas tenham se diversificado, paisagens como Morretes, Antonina, e outros locais clássicos paranaenses permaneciam na obra. Considerado o “Príncipe dos Trovadores do Paraná”, foi membro do Conselho Nacional de Trovadores do Brasil, presidente de honra da UBT, parte da Academia de Letras José de Alencar, do Centro de Letras do Paraná e da Associação Profissional de Escritores do Paraná. Ocupou também a cadeira número 22 da Academia Paranaense de Poesia. Havia quem insistisse em tentar fazer com que ele musicasse seus escritos, pois a sonoridade deles combinava com isso. Orlando até apoiava que isso fosse feito, mas por outra pessoa. Sua dedicação seria sempre integral à trova e à poesia.

Graduado pela Escola Técnica de Curitiba e pela Universidade Federal do Paraná, o ensino do desenho e da caligrafia foi sua função até a aposentadoria, com 57 anos, quando passou a dedicar praticamente todo o seu tempo ao ofício literário. Paquerador e saudosista, gostava de arrancar sorrisos das pessoas com suas trovas inesperadas. Mesmo com já avançada idade, jamais dispensou o terno, a gravata e o sapato para sair de casa. Não dirigia, seus caminhos eram feitos praticamente todos a pé, enquanto contemplava a cidade e, por que não, calculava as próximas letras que iriam encantar seus leitores e ouvintes. Orlando deixa dois filhos e seis netos.

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