A educação de qualidade e pelo respeito aos direitos humanos foram lutas levadas por Padre Roque Zimmermann – que morreu em fevereiro deste ano, aos 79 anos, após complicações pulmonares e cardíacas – em todas as frentes em que atuou durante a vida. Além da trajetória eclesiástica, na qual ingressou aos 11 anos, ao iniciar os estudos no seminário, ele foi eleito duas vezes deputado federal (em 1994 e em 1998) pelo Partido dos Trabalhadores (PT), candidato ao governo do Paraná em 2002 e secretário do Trabalho, Emprego e Promoção Social do governo Roberto Requião de 2003 a 2006.
Gaúcho de Santo Cristo, o filho de agricultores familiares levaria sua origem para o trabalho no futuro, como histórico mediador entre produtores de alimentos em assentamentos do Movimento Sem Terra (MST) e proprietários de terras. Há relatos de que, corajoso, se colocava literalmente no meio do fogo cruzado durante alguns desses conflitos. As pautas da agricultura orgânica, sem agrotóxicos, e da reforma agrária estiveram sempre em sua participação política.
Membro da Congregação dos Padres Missionários da Sagrada Família, iniciou os estudos de Teologia em Passo Fundo (RS), mas por seu destaque acadêmico concluiu o curso em Roma, na Itália, em 1967. De retorno ao Brasil, continuou o aperfeiçoamento e recebeu o título de mestre em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia Política de São Paulo em 1986. No final dos anos 80, foi aprovado em um concurso para professor no Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), instituição na qual se aposentaria em 2011.
Desde o começo foi acolhido pela comunidade de Ponta Grossa, onde havia até o interesse de que fosse reitor da Universidade, o que não pode se concretizar pelo pouco tempo de casa que tinha na época. “Recebi relatos de alunos que não tinham aula com ele, mas que ficavam do lado de fora da sala onde ele estava lecionando para ouvir o que ele falava”, conta Selma Maria Schons, também ex-deputada federal, professora da UEPG e amiga do padre há mais de 40 anos.
Como deputado, foi autor do projeto de lei para que fossem ensinadas obrigatoriamente as disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio. Também defendeu o ensino religioso nas escolas, mas que não fosse confessional, e sim que englobasse diversas religiões. Coordenou a Frente Parlamentar em Defesa da Agricultura Familiar, foi vice-presidente da comissão de Direitos Humanos e titular nas comissões de Agricultura e Política Rural, de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, de Desenvolvimento Urbano e Interior e de Educação, Cultura e Desporto.
Ao se desfiliar do PT, em 2007, não concorreu mais a cargos políticos e continuou se dedicando à universidade e à atuação como sacerdote em sua província. Manteve-se informado e ativo no debate sobre os assuntos de interesse público, promovendo encontros e reflexões, mesmo que fosse em sua casa. Selma relembra que o padre “era alguém que enxergava à frente, era questionador e abriu caminho em diversas frentes. Não tinha medo de discordar e batalhava pelos ideais dele. O desmoronamento de direitos conquistados causava tristeza nele.”
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