Velhos ou novos, ricos ou pobres: não há quem não fique feliz ao receber doces. Essa é a premissa do comerciante aposentado Hercules Gregorio Gaio, de 77 anos, que há pelo menos 10 anos dedica as semanas que antecedem a Páscoa para distribuir balas pelas ruas de Curitiba. Motivado pela possibilidade de fazer desconhecidos felizes, Gaio chega a enfeitar seu carro com motivos de coelhos e, somente este ano, calcula ter compartilhado pelo menos 60 pacotes de balas com os moradores da capital.
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Não há como não notar quando Gaio passa pelas ruas. Em seu Jeep conversível, o aposentado vai ao volante. O banco do passageiro, enquanto isso, é ocupado por William Pascoal, ajudante que normalmente topa usar adereços que remetam à Páscoa. Mas são os outros dois ocupantes do veículo que chamam mais atenção: “sentadas” em uma charrete engatada na traseira do Jeep, ficam duas fantasias de coelho, que a primeira vista até parecem ter pessoas dentro, mas na realidade estão estofadas com plástico.
“Eu faço isso pra ver o povo ficar alegre, não tem nenhum outro motivo. Hoje em dia tá faltando ver as pessoas fazerem sem esperar nada em troca”, conta Gaio. Justamente sobre o que espera em troca da boa ação, o aposentado não demora em garantir que não é político e tampouco tem patrocínio. A filha Cleusa Maria Gaio comprova: “O que ele ganha em troca é a felicidade de ver os outros alegres, esse tipo de coisa é algo que sempre partiu dele”.
Foi há cerca de dez anos que Gaio pegou um de seus carros para circular pela cidade com as balas, mas antes disso o aposentado já fazia a distribuição para todos que o visitavam em sua casa. Além da Páscoa, o aposentado já chegou a fazer a entrega dos doces na época do Natal, quando a decoração do veículo muda: “Eu mesmo compro as fantasias e ajeito tudo. É algo que eu gosto de fazer, para ocupar o tempo e porque o povo gosta”. Apesar de ter o apoio da esposa e do restante da família, ele confessa que criar a decoração do carro é uma parte importante do processo.
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O itinerário, enquanto isso, varia. “Geralmente eu passo mais pelas ruas do Centro, que é onde tem mais gente de todos os tipos andando pela rua. Mas esses dias fui até para Santa Felicidade”, conta o morador do Bigorrilho. Justamente por ser aposentado e ter mais tempo livre, Gaio explica que dedica várias horas à entrega dos doces. Na última segunda-feira (15), por exemplo, passou três horas na atividade.
De acordo com Gaio, as balas são escolhidas a dedo: “Só pego as de iogurte, que são as melhores, todo mundo gosta”. Mas apesar do tiro certeiro quanto ao sabor, a parte difícil é levar todas as balas da distribuidora de doces para casa. No fim do ano passado, por exemplo, foram 15 caixas com cerca de 24 pacotes em uma só compra. O aposentado não sabe ao certo quanto gasta com a boa ação, mas estima ter pago cerca de mil reais nessa última aquisição.
Já sobre as pessoas que recebem as balas, Gaio está cheio de histórias para contar. Teve a ocasião em que um homem engravatado abriu a janela do carro, uma Mercedes último modelo, para ganhar um pouco das balas. Teve a vez em que um motorista do transporte público abriu a porta do ônibus para que Gaio lançasse as doces. E teve uma das situações mais marcantes, quando o senhor viu um casal brigando em uma calçada no Centro e decidiu intervir: “Eu cheguei conversando com eles e entreguei as balas. Eles pararam de brigar e ainda começaram a dar risada”, lembra.
Também é comum que as pessoas queiram tirar fotos de Gaio com a decoração do carro. Isso acontece principalmente ao se aproximar dos ônibus da linha turismo de Curitiba, quando várias câmeras são apontadas na direção do aposentado, que não se importa em acabar ficando um pouco mais famoso. “Eu deixo eles tirarem, deixo que se divirtam, não tem problema”, comenta.
Em 2019, Gaio irá completar 78 anos. Mas explica que ainda não está nem perto de perder a força para fazer a entrega dos doces — e na realidade pretende continuar com a ação por tempo indefinido. “Até quando eu aguentar eu vou fazer, porque apesar de ter gente que me olha torto na rua, eu sei que quando eu entrego as balas eles lembram que o que mais importa são as coisas simples da vida”, declara.
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