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Passagem de ônibus mais cara em Curitiba: por que Urbs não implantou reajuste menor?
| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/ Arquivo

Sem o subsídio de R$ 157 milhões anunciado pela prefeitura e governo do estado, o reajuste na passagem de ônibus em Curitiba seria maior do que o R$ 1 a mais pago pelos usuários desde terça-feira (1.°), quando a tarifa subiu de R$ 4,50 para R$ 5,50. Por causa da crise da pandemia, o reajuste anual no transporte coletivo foi suspenso em 2020 e 2021 pela Urbs - empresa municipal que gerencia a frota na capital.

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Nesta quarta-feira (2), o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto, foi à Câmara Municipal explicar os cálculos do reajuste. Criticado por parte dos vereadores, que se mostrou contrária ao aumento da passagem em um momento econômico difícil e que afirmou que o subsídio beneficiaria as empresas de transporte, Maia Neto admitiu que a passagem em Curitiba é das mais caras no Brasil.

Mas foi enfático: sem o socorro financeiro do município e do estado, o curitibano pagaria bem mais do que R$ 5,50 para circular de ônibus. "Não temos como resolver o problema da passagem de ônibus sem subsidiar o sistema. E o subsídio não é dar dinheiro para empresário. É subsidiar o passageiro, quem paga a passagem. É isso que estamos fazendo", ressalta Maia Neto.

Abaixo, os principais tópicos a respeito do reajuste do ônibus explicados pelo presidente da Urbs:

Como o subsídio socorre o sistema?

De acordo com a Urbs, o subsídio total de R$ 157 milhões ao sistema permitirá que a passagem fique em R$ 5,50 até março de 2023.

Da prefeitura, o aporte será de R$ 97 milhões. Do estado, serão R$ 60 milhões, sendo R$ 40 milhões do próprio caixa do governo e R$ 20 milhões que a Assembleia Legislativa devolveu ao estado para socorrer o transporte coletivo da capital.

Segundo a Urbs, o subsídio permitiu que o reajuste ficasse apenas nos 22% da variação da inflação nos últimos 12 meses, baseada no Índice Nacional de Preço ao Consumídor (INPC), que é aplicado anualmente no salário de motoristas se cobradores de ônibus. Dessa forma, o aumento de insumos, como o diesel, que subiu 76% nos últimos meses, e dos pneus, que subiram 42,79%, não foram repassados ao novo valor da passagem justamente pelo aporte do município e estado.

"O subsídio permitiu que fizéssemos apenas o reajuste baseado no índice da inflação, arcando com todos os outros custos excedentes", explica o presidente da Urbs. "Vale lembrar que em 2020 e 2021 o diesel representava apenas 15% do custo de operação da frota. Hoje, com os constantes aumentos no combustível, o diesel representa 21,62% do custo total da frota", compara Maia Neto.

O subsídio vai bancar a diferença entre a tarifa técnica, que é o custo real da operação por usuário hoje em R$ 6,36, menos o valor de R$ 5,50 pago na catraca. "O subsídio vai pagar essa diferença de R$ 0,86 por passageiro. Se pudéssemos ter mais subsídio, seja da prefeitura ou do estado, sem afetar outros serviços para a população, como educação e saúde, teríamos a passagem mais baixa. Mas hoje esse recurso extra não existe", enfatiza o presidente da Urbs.

O reajuste pode afastar usuários do transporte coletivo de Curitiba?

Historicamente, o transporte coletivo de Curitiba perde entre 5% e 6% de passageiros cada vez que a passagem sobe, como foi no último reajuste, em 2019. Entretanto, o presidente da Urbs afirma que o cenário econômico do país não permite afirmar que isso vá se repetir dessa vez.

Sobre o risco de o aumento na tarifa levar o sistema a perder usuários para outros meios de transporte, Maia Neto afirma que esses modais passam pela mesma dificuldade dos ônibus nesse momento. "Em 2019, a passagem de ônibus custava R$ 4,50 e o litro da gasolina era R$ 4,31. Agora, a passagem está em R$ 5,50 e a gasolina em R$ 6,50. Essa inversão no valor da gasolina também encarece o transporte por aplicativo, táxi e qualquer outro transporte coletivo", compara.

Curitiba começou março com cerca de 520 mil passageiros por dia. Isso equivale a 70% do volume de usuários de antes da pandemia, que era de 756 mil passageiros por dia. A meta da Urbs é alcançar em 2022 pelo menos 80% do volume de antes da Covid-19. Ou seja 604,8 mil passageiros diários até o fim do ano. Mas isso, admite a Urbs, vai depender justamente do cenário econômico do Brasil, com recuperação dos índices e geração de empregos.

Quanto pode chegar a tarifa técnica em 2022?

Pelas estimativas da Urbs, o teto da tarifa técnica pode bater em R$ 7,20 em 2022 - valor 13,1% maior do que o valor atual de R$ 6,36.

O custo real da operação por passageiro vai oscilar ao longo do ano conforme o número de passageiros no sistema. Quando o volume de passageiros aumentar, a tarifa técnica cai. Quando o número de passageiros diminuir, a tarifa técnica sobe - o que vai acontecer em feriados, já adianta Maia Neto. Porém o preço da passagem na catraca não muda: será R$ 5,50 até fevereiro de 2023, quando um novo reajuste anual será avaliado.

O que vai variar é justamente o valor mensal pago pelo subsídio às empresas de transporte. Ou seja, a variação da tarifa técnica menos o preço pago na catraca. "A tarifa técnica será feita mês a mês para que a gente consiga corrigir ao longo do ano distorções ocasionadas pela quantidade de passageiros e pela variação do preço dos insumos, em especial combustíveis", aponta Maia Neto.

O presidente da Urbs lembra que o preço do diesel, que já era uma incógnita pelo cenário econômico do Brasil, ficou ainda mais nebuloso com a guerra entre Rússia e Ucrânia. "Não sabemos como vai ficar o preço dos combustíveis porque agora além de tudo temos infelizmente uma guerra que atinge diretamente o preço do barril do petróleo", explica.

No ápice da crise do coronavírus, a tarifa técnica em Curitiba bateu em R$ 8,11. Foi nos meses de julho, agosto e setembro de 2021, quando a prefeitura cortou o subsídio emergencial de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões mensais implantado para socorrer a perda de 80% de passageiros com as restrições sanitárias e que na sequência foi retomado até o fim de fevereiro. "Estamos preparados para botar mais ônibus nas ruas caso o número de passageiros suba, o que seria boa para reduzir a tarifa técnica", complementa Maia Neto.

Como fica a gratuidade de idosos com o aumento da passagem?

Por enquanto, segue igual: o município arca com o custo de cerca de R$ 60 milhões mensais de ônibus grátis para a população a partir de 60 anos. Os idosos com passe livre correspondem a 8% de todos os usuários no sistema. Com outros passageiros que têm direito à gratuidade, o número sobe para 17% de todos os usuários do transporte de Curitiba.

Porém, esse custo pode passar para o governo federal, após iniciativa do prefeito Rafael Greca. O prefeito de Curitiba lidera o grupo de gestores municipais de todo o país que pressiona a União a assumir esse gasto. Em fevereiro, representantes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) foram a Brasília pressionar o Congresso para que vote a proposta em que o governo federal assume a gratuidade dos idosos.

O projeto já foi aprovado em primeira instância no Senado e deve seguir os trâmites na Câmara dos Deputados. "A gratuidade foi instituída pelo governo federal. Então nada mais justo que eles nos repassem recurso para isso", defende o presidente da Urbs.

Só a gratuidade dos idosos representa custo de R$ 140 milhões por ano que é pago por todos os outros passageiros de ônibus de Curitiba. "Se essa gratuidade fosse paga, o sistema praticamente se bancaria ou teria muito pouco déficit. E aí poderíamos usar o subsídio para baixar ainda mais o valor da passagem para todos", compara Maia Neto.

Como ficam os passageiros que compraram passagem a R$ 4,50 no cartão vale-transporte?

A Urbs congelou por 30 dias o valor de R$ 4,50 para quem adquiriu créditos no cartão vale-transporte até a última segunda-feira, 28 de fevereiro - nesta modalidade, os créditos são carregados pela empresa dos funcionários. A partir de 1° de abril, o valor a ser descontado nos leitores de cartão-transporte será de R$ 5,50, mesmo que o passageiro tenha adquirido a passagem R$ 1 mais barata.

"O usuário que tinha 100 passagens a R$ 4,50 no seu vale-transporte até 28 de fevereiro, por exemplo, permanecerá com o mesmo número de bilhetes, com carência de 30 dias. Após esse período, o estoque passa a ser contado com passagem a R$ 5,50. Ou seja, de 100 passagens, o cartão terá 81 bilhetes", compara a Urbs em nota publicada no site da prefeitura.

As recargas feitas a partir de terça-feira (1.°), por sua vez, já são no valor da passagem reajustada de R$ 5,50.

Já no cartão-transporte, em que o próprio usuário adquire os créditos, o valor descontado a cada embarque já é de R$ 5,50 desde terça-feira. A prefeitura lembra ainda que todos os créditos que venceram ao longo da pandemia terão mais um ano de validade a partir de 28 de fevereiro.

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