Para quem observa à primeira vista, pode parecer estranha a disposição das pistas táteis instaladas nas calçadas em reforma da Rua Trajano Reis, no Centro de Curitiba. Saindo das guias rebaixadas, as faixas de borracha contornam a esquina e guiam as pessoas até as paredes dos prédios do local. A orientação do projeto, porém, está correta. De acordo com o diretor do Instituto Paranaense de Cegos (IPC), Enio Rodrigues da Rosa, mesmo com uma disposição parecendo errada, há uma razão para que ela seja dessa forma. “Direcionando o cego para a parede, está fazendo com que ele ache um ponto de referência. Na minha visão, a concepção está correta”, afirmou.
Segundo ele, a pista tátil é apenas um dos caminhos para ajudar na orientação de deficientes visuais. “Terminar na parede não é nenhum problema, a questão é o contexto. O piso é direcional, mas se você não sabe para onde ele leva, de que adianta? Você depende de outras informações, não apenas da pista”, destacou. No caso da calçada da Trajano Reis, o próprio prédio serve como um referencial para o indivíduo saber em que direção seguir.
“Imagina você chegando na esquina: se você não tem uma guia, não sabe para onde seguir. A maioria dos cegos procura andar pelo alinhamento predial e, quando acha, parte-se do pressuposto de que sabe para onde quer ir”, contou.
Ainda assim, ele aponta que esse tipo de disposição não é consenso, gera controvérsias e até mesmo situações anormais. Para Rosa, por exemplo, Curitiba utiliza o piso de forma errada. “É um desperdício de dinheiro com pista tátil na cidade. Põe um pedaço, larga lá, sem nexo, sem nada. Não tem um projeto bem definido de continuidade. Aqui na frente do instituto, a gente não quis a pista e dispensou justamente porque temos o entendimento de que não é essencial”, pontuou.
Além disso, Rosa aponta que ainda há vários problemas na instalação desse tipo de sinalização em outros pontos da cidade. De acordo com o diretor do IPC, o piso não está de acordo com a norma 5090 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por causa da qualidade do material utilizado. Conhecido como piso podo-tátil, por ser criado para que a pessoa sinta a diferença de texturas ao caminhar sobre ele, o material usado faz com que essas diferenças sejam imperceptíveis, dificultando a função original de orientação.