O delegado Amadeu Trevisan entrega ao Ministério Público o relatório com 370 páginas sobre o assassinato do jogador Daniel.| Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A Polícia Civil concluiu o inquérito da morte do jogador Daniel nesta quarta-feira (21), e sete pessoas foram indiciadas por diferentes crimes, desde homicídio qualificado até coação de testemunhas. O documento, com mais de 370 páginas, com depoimentos, provas, relatórios policiais e laudos periciais solicitados durante a investigação – que durou 25 dias -, foi entregue pelo delegado Amadeu Trevisan, da Delegacia de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, no final da tarde de quarta-feira (21).

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Edison Brittes Jr., assassino confesso do atleta, foi indiciado por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, assim como Eduardo da Silva, Ygor King e David Willian da Silva. A esposa de Edison, Cristiana Brittes, e a filha do casal, Allana Brittes, foram implicadas por coação de testemunha e fraude processual. Já Eduardo Purkote, último a ser preso no caso, foi indiciado por lesões corporais graves. As penas somadas ultrapassam 40 anos de reclusão, segundo a polícia.

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De acordo com o delegado Amadeu Trevisan, da delegacia de São José dos Pinhais, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) pediu sigilo dos dados do relatório. No entanto, a promotoria responsável pelo caso afirma que até a próxima sexta-feira (23) vai decidir se apresenta denúncia ou não contra os indiciados.

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Apesar de o inquérito ter sido encerrado, novos detalhes sobre o caso podem surgir nesta quinta-feira (22), quando ficam prontos os laudos do Instituto Médico Legal (IML) sobre o corpo de Daniel.

Em nota, o advogado de defesa da família Brittes, Cláudio Dalledone Júnior, afirma que “o indiciamento de Alana e Cristiana destoa dos fatos ocorridos e tudo ficará provado”. Já sobre a conduta de Edison Brittes Jr., a defesa diz que o assassino confesso irá justificá-la em Juízo.

Motivação

O que permitiu que o inquérito fosse encerrado, segundo o delegado, foi o esclarecimento da materialidade e da autoria do crime. Mesmo assim, a possível motivação para uma morte tão brutal continua suscitando estranhamento. De acordo com Trevisan , apesar de Edison Brittes Jr. persistir mantendo a tese de que Cristiana teria sido estuprada, não houve como constatar essa situação - o que leva a crer que o que teria motivado Brittes seriam as fotos de Daniel na cama com Cristiana, ou mesmo que ele poderia tê-los encontrado lado a lado na cama, por exemplo.

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Para o delegado, um fator importante em toda a situação teria sido o alto grau de uso de bebidas alcoólicas durante a festa de aniversário de Allana Brittes. “O Edison vendo a situação, poderia ter desencadeado essa reação. Mas eu acredito muito mais que tudo isso foi em razão de todos eles estarem totalmente embriagados. A mulher dormia embriagada, o Daniel estava embriagado, todos eles passaram uma noite acordados bebendo. Tudo isso aí foi resultado do excesso de bebida, que potencializa essa vontade criminosa”, atesta.

Novas investigações

Questionado sobre informações que permaneceram em aberto, Trevisan afirma que poucos detalhes ainda estão pendentes, e todos devem ser esclarecidos posteriormente com a abertura de novas diligências. Para o delegado, é importante elucidar o que ocorreu com o celular de Daniel, que foi destruído. “Eu só quero saber se realmente o celular do Daniel saiu da casa e foi até o local da execução”, explica.

Além do processo do assassinato de Daniel, a Polícia Civil abriu um inquérito paralelo a pedido do MPPR para investigar possível ligação de Edison Brittes Jr com outras ações criminosas. São três os indícios que levaram o Ministério Público a pedir essa investigação.

O primeiro é a moto de luxo do empresário, com a qual ele postava fotos nas mídias sociais e que está registrada em nome de um traficante preso. O segundo indício é o chip do celular com o qual Edison chegou a ligar para a família e amigos de Daniel para consolá-los e que está em nome de um homem assassinado em 2016 e que era investigado por receptação de carros roubados. O fato mais recente é o carro com o qual o assassino confesso levou o jogador para o matagal que estaria em nome de um comércio de Piraquara, mas seria de posse de um policial civil afastado do trabalho por responder a três processos: assassinato, extorsão mediante sequestro e organização criminosa. O delegado Amadeu Trevisan não quis comentar as outras investigações na tarde desta quarta-feira.

O caso

O corpo de Daniel Corrêa Freitas foi encontrado em um matagal em São José dos Pinhais no dia 27 de outubro com sinais de tortura: o pescoço estava quase degolado e o pênis decepado. Daniel veio a Curitiba participar da festa de aniversário de Allana Brittes, filha de Edilson Brittes Jr, no dia 26 de outubro. Após participar da comemoração em uma casa noturna no bairro Batel, o jogador foi para outra festa na casa de Edison, dono de um mercado em São José dos Pinhais.

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À polícia, o empresário admitiu ter matado o jogador após tê-lo flagrado tentando estuprar sua esposa - versão questionada pela polícia. O jogador chegou a enviar via Whatsapp a um amigo imagens dele ao lado da esposa de Edison na cama do casal, o que teria levado o empresário a cometer o assassinato. Nas fotos, Cristiana dorme enquanto o jogador faz caretas.

Daniel foi espancado na casa da família e levado para um matagal no porta-malas do carro de Edison. De acordo com o empresário, ele decidiu matar o atleta com uma faca que tinha no carro. Entretanto, Eduardo afirmou em seu depoimento nesta segunda-feira (12) que viu Edison pegar a faca na cozinha da residência.

Antes de ser preso, o empresário chegou a ligar para a família e para amigos de Daniel a fim de prestar solidariedade. Allana também trocou mensagens com uma parente de Daniel afirmando que não houve briga na casa da família e que o jogador foi embora sozinho na noite do assassinato.

Daniel teve passagem apagada pelo Coritiba em 2017, prejudicada por lesões. Natural da cidade de Juiz de Fora (MG), teve também passagens por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo, Ponte Preta e estava atualmente no São Bento de Sorocaba (SP). O corpo do jogador foi enterrado no dia 31 de outubro na cidade de Conselheiro Lafaiete, também em Minas Gerais.