Depois de um sábado triste, por causa de três mortes por afogamento no litoral do Paraná, uma história de bravura e heroísmo comoveu quem estava no balneário Albatroz, em Matinhos. Dois policiais militares, mesmo sem ter o conhecimento de um bombeiro para fazer resgates na água, salvaram a vida de sete pessoas de um afogamento em grupo. Uma boa comemoração para este 21 de abril, Dia de Tiradentes, patrono da Polícia Militar do Paraná.
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Na verdade, o grupo que estava se afogando tinha seis pessoas. No entanto, uma delas estava gestante de três meses. O soldado Viana contou à reportagema que estava um tanto chateado, porque tinha acabado de saber da morte de um colega de farda em Paranaguá (que matou a ex-companheira e se suicidou em seguida). Ele e o soldado Delmir patrulhavam pela Avenida Atlântica (beira mar), na esquina com a Rua Ásia, no balneário Albatroz, no meio da tarde, quando uma mulher veio da areia correndo até a viatura pedir ajuda, informando que um grupo de pessoas estava se afogando.
Como naquele ponto não havia guarda-vidas, os bombeiros chamaram ajuda pelo rádio e depois seguiram rumo à areia. “Quando nós chegamos, vimos aquele bolo de pessoas na água e eu perguntei pra senhora que nos chamou. ‘Mas quem deles está se afogando?’. Eu fiquei um tanto preocupado quando ela me respondeu: ‘Todos!”, detalhou o soldado Viana. As vítimas estavam a cerca de 100 metros da arrebentação das ondas. Cinco estavam agrupadas e uma sexta vítima estava mais longe grupo, sendo puxada pela correnteza.
Os soldados entenderam que qualquer minuto a mais naquele resgate poderia ser fatal e decidiram não esperar a chegada dos bombeiros. Eles mesmos tiraram os sapatos, equipamentos e roupas pesadas e se atiraram na água.
Resgate dramático
O primeiro a entrar na água foi o soldado Viana, que nadou em direção ao grupo de cinco pessoas. Delmir nadou em direção à pessoa que estava sozinha e conseguiu resgatá-la.
“Na hora que eu estava chegando no grupo, um surfista veio com uma prancha. Colocamos algumas pessoas segurando a prancha e fui atrás de outras duas, que começavam a se distanciar. Era um casal de namorados. Ela estava grávida e no desespero de se salvar, agarrava o namorado e o empurrava pra baixo da água. E ele, no desespero de salvar ela que estava gestante, fazia muito esforço pra nadar pra cima de volta com ela e ficou exausto. Eles falaram que estavam desistindo de se salvar. Eles ficavam um bom tempo submersos, demoravam para voltar a superfície”, contou o policial, que conseguiu alcançar o rapaz, levar até a prancha e voltou buscar a jovem.
Depois, Viana foi atrás de uma adolescente de 12 anos, mas sentia dificuldade em chegar nela porque ele já estava muito cansado. “Quando eu cheguei perto ela desmaiou. Eu tentava fazer ela acordar e pedia para ao menos bater o pé. Mas ela ficou mole mole. Eu pedia para o pessoal da prancha chegar perto, porque eu não conseguia nadar. Mas eles também não conseguiam. Então fui nadando devagar, usando a última força que eu tinha, até que consegui chegar na prancha”, disse o policial, que se não bastasse toda a exaustão.
Viana conta que as pessoas na prancha estavam muito desesperadas. “Eu pedia para eles se acalmarem. Explicava que a moto aquática já vinha buscá-los, pois ela tinha atuado em outro resgate momentos antes ali perto”, disse ele, que depois de alguma dificuldade, conseguiu acalmar a turma. Foi quando chegaram outros dois surfistas e as pessoas foram divididas em mais duas pranchas. Numa delas, Viana colocou deitada a adolescente, de 12 anos, desmaiada.
Arrebentação
O grupo foi tentando chegar perto da praia. Mas quando chegaram na arrebentação, as ondas estavam muito fortes e levavam eles de volta ao fundo. Foi quando o soldado Delmir voltou para a água e ajudou Viana e a adolescente desmaiada a saírem da água. Nesse momento, as motos aquáticas chegaram e tiraram o restante das pessoas. Viana conta que chegou à areia completamente sem forças. Ficou junto enquanto Delmir fazia massagem cardíaca na adolescente desmaiada. A jovem vomitou a água do mar e recobrou a consciência.
Todos, incluindo os policiais, foram levados ao Hospital Nossa Senhora dos Navegantes. Além de exaustos, engoliram muita água. Apesar disto, todos passam bem e foram liberados depois de algumas horas de observação. “Eu nunca passei uma situação de exaustão física tão grande na vida, de não ter força de erguer um braço”, contou o soldado, que ainda fez um agradecimento aos surfistas que o ajudaram.
“Ali, na hora do tumulto, eu perguntei o nome do surfista que levou a primeira prancha, mas não consegui anotar, nem lembrar depois. A ajuda dele foi fundamental, pois sem aquela prancha, eu teria salvo no máximo duas pessoas. Acho que nem eu estaria vivo”, agradeceu o soldado Viana.
As seis vítimas são moradoras em Curitiba: duas irmãs, com 12 e 13 anos, uma menina de 12 anos, uma adolescente de 18 anos, uma gestante com 18 anos e um rapaz de 21 anos. Vale ressaltar que o local do afogamento não tinha guarda-vidas por perto. Por isto, o Corpo de Bombeiros orienta a nadar somente em locais onde há bombeiros.
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