Um policial rodoviário federal foi baleado por um policial militar à paisana na madrugada desta terça-feira (3) após confundir a ação do militar com um assalto em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Uma mulher que estava no banco dos passageiros também foi atingida e precisou ser encaminhada ao hospital. A Polícia Militar (PM), por sua vez, afirma que os PMs estavam fardados e que seria impossível não perceber que eram policiais militares.
A confusão aconteceu enquanto o agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) voltava de um evento e avistou homens armados próximos a um carro e escondidos atrás de um caminhão estacionado. Imaginando que seria assaltado,ele engatou a marcha ré. Neste momento, os policiais já começaram a disparar.
Os tiros foram efetuados a uma distância de pelo menos 20 metros, mas de acordo com o informado pela PRF, foram disparados na direção do policial rodoviário federal. Ao ser atingido, o policial rodoviário perdeu o controle do carro, colidiu contra o muro de um imóvel e depois pediu apoio em uma unidade do Corpo de Bombeiros que fica próximo ao local da abordagem.
No momento dos disparos, o policial rodoviário federal estava desarmado e acompanhado de uma amiga, que também foi atingida pelos disparos. Conforme relato do agente da PRF, em nenhum momento os atiradores se identificaram como policiais militares antes de efetuar os disparos e eles não utilizavam nenhuma viatura que os identificasse, mas um carro descaracterizado.
O policial foi atingido por estilhaços nas pernas, braços e sofreu um corte na cabeça. Ele foi encaminhado ao Hospital Cajuru, em Curitiba, onde permanece em observação. A passageira foi atingida por um projétil em um dos tornozelos e também está internada. Ambos foram submetidos a procedimentos cirúrgicos e têm quadro de saúde estável, sem risco de morte. Não há previsão de alta médica, no momento.
PM nega
De acordo com o tenente-coronel Hudson, que comanda o Batalhão de Operações Especiais (Bope), ao contrário do relato do policial rodoviário, os PMs estavam identificados. “Havia viaturas caracterizadas e descaracterizadas no local, mas todos os policiais estavam fardados, com coletes e fuzis”, contou.
O oficial conta que as equipes da PM estavam no local porque receberam a informação de que bandidos fariam um assalto a uma agência bancária da Avenida Rui Barbosa. “Montamos um forte aparato policial porque tínhamos informações importantes sobre o assalto. Sabíamos inclusive um horário aproximado que o crime aconteceria e foi nesse mesmo horário que o carro com o agente da PRF apareceu”.
Segundo o comandante do Bope, os policiais do Comando e Operações Especiais (Coe) tentaram abordar o motorista, ele avançou contra eles. “Jogou o carro na direção dos policiais, que atiraram no pneu e no motor. Ele parou o carro, engatou a ré, fugiu e colidiu contra um muro de uma empresa”, detalha. O tenente-coronel diz ainda que o agente da PRF ainda tentou sair correndo após a batida. “Abandonou o veículo com a passageira, que foi baleada, e fugiu pelo mato até chegar ao Quartel do Corpo de Bombeiros”.
Aos bombeiros, o policial rodoviário disse que tinha sido vitima de uma tentativa de roubo e que estava ferido. “Mas ele não foi baleado, estava machucado em decorrência do acidente. Só neste momento, quando nosso pessoal foi ao quartel, que descobrimos que ele era um policial rodoviário federal e que tinha ingerido bebida alcoólica”, disse o tenente-coronel.
Para os PMs, não ficou claro o motivo de o PRF ter tentado fugir da abordagem. “E pra gente também não importa saber o que ele estava fazendo ali naquele local, que é ermo. O problema é que ele passou bem no momento em que nós sabíamos que os bandidos fariam o roubo ao banco”.
Apesar de tudo o que aconteceu, o tenente-coronel disse que a ação planejada e preparada dos policiais militares evitou que algo pior acontecesse. “Preparados e não atiraram para matar. Por isso, as pessoas estão vivas. Agora, se alguém fez algo errado, vai responder por seus atos e é isso que vamos apurar também”, finalizou.
Investigações seguem
As investigações sobre a situação estão correndo por duas vertentes: uma delas pela Polícia Civil e outra pela Polícia Militar. A Delegacia de São José dos Pinhais, por meio de nota, informou que um inquérito policial foi aberto e que o carro do policial rodoviário federal foi encaminhado à perícia.
A Polícia Civil confirma que os investigadores têm, em mãos, duas versões para o mesmo fato: uma delas (a da PM) que diz que os policiais estavam em campana quando o motorista se assustou e fugiu. A outra versão é a do policial rodoviário, que diz que os policiais não estavam com viatura caracterizada e nem se identificaram como PMs.
Além das investigações por parte da Polícia Civil, um Inquérito Policial Militar (IPM) também foi aberto para apurar a situação como um todo. “Esse procedimento é de praxe, para apurar a conduta dos policiais. Voltamos a dizer: se alguém fez algo errado, vai responder por seus atos”, considerou o tenente-coronel Hudson.
A Polícia Rodoviária Federal, por sua vez, afirma que cabe à Polícia Civil apurar o que aconteceu. De acordo com a assessoria de imprensa da PRF, a viatura utilizada pelos policiais militares seria um Celta descaracterizado. Além disso, a PRF divulgou imagens do veículo alvejado (inclusive no para-brisa), que “confirmam o relato do policial rodoviário federal, de que foi alvo de disparos de arma de fogo e, na sequência, após engatar marcha à ré, a parte traseira de seu carro colidiu contra o muro de um imóvel”.
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