A pouco mais de três meses do primeiro turno das eleições municipais, pré-candidatos à prefeitura de Curitiba já mudam o foco de atuação em redes sociais pensando na corrida ao Palácio 29 de Março. É o que mostra um novo estudo do Instituto Pólis, baseado em postagens feitas de 16 de maio a 15 de julho por 10 nomes que declararam interesse em participar da disputa.
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O levantamento dá continuidade a pesquisa semelhante, realizada entre 15 de março e 15 de maio, que mostrou que, na época, o atual prefeito, Rafael Greca (DEM), e o deputado federal e ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT) saíam na frente na pré-campanha eleitoral virtual. De lá para cá, todos os pré-candidatos passaram a dar mais atenção a questões de âmbito municipal, reduzindo a proporção de temas ligados às esferas estadual, federal e internacional.
A análise leva em conta publicações relacionadas à pandemia do novo coronavírus. A escolha se deve ao fato da inevitável presença do tema no debate público e da necessidade de respostas e políticas locais à crise sanitária.
“A gente já vinha na expectativa de que as redes sociais tivessem um espaço central nas eleições deste ano, dadas as tendências da disputa presidencial de 2018: campanha por meio de WhatsApp, custos mais baixos para as campanhas”, diz a cientista política Carolina de Paula, coordenadora do estudo do Instituto Pólis. “A pandemia chegou quase para obrigar os candidatos a migrarem para as redes sociais.”
A pesquisa analisou um universo de 777 posts feitos no Facebook ao longo de 60 dias pelos pré-candidatos Delegado Francischini (PSL), Rafael Greca (DEM), Ney Leprevost (PSD), Goura Nataraj (PDT), Luizão Goulart (Republicanos), Gustavo Fruet (PDT), João Guilherme (Novo), João Arruda (MDB), Camila Lannes (PCdoB) e Carol Arns (Podemos).
O professor universitário Paulo Opuszka (PT) e o jornalista Diego Xavier (Psol) também foram considerados pelo instituto, mas não entraram nos resultados por terem apresentado apenas dois e um post, respectivamente, o que, segundo a coordenadora do estudo, comprometeria a análise.
Metodologia e resultados
O comportamento dos pré-candidatos foi avaliado sob quatro aspectos: perspectiva, volume, nível federativo e engajamento. O primeiro diz respeito ao viés das publicações em relação a ações das atuais gestões, seja em nível municipal, estadual, federal ou internacional – de apoio, crítico ou apenas informativo.
A análise revelou que o enfoque no período foi majoritariamente informativo entre quase todos os pré-candidatos – a exceção foi o representante do Novo, que publicou igualmente postagens de tom crítico e de cunho informativo. Na comparação com o levantamento anterior, no entanto, houve aumento nas postagens críticas e o desaparecimento quase total de publicações classificadas como de apoio.
“Com a mudança no quadro da pandemia em Curitiba, com acentuação dos casos, o atual prefeito perde um pouco de popularidade e fica mais tímido nas redes, mais frágil do que estava no momento inicial”, explica Carolina. “Os concorrentes veem aí uma oportunidade de crescer, com críticas às ações adotadas.”
A tendência se reflete também no volume de publicações feitas por Greca, que caiu de 189 para 91, menos da metade, nesses dois meses na comparação com os 60 dias anteriores. O pré-candidato mais atuante foi Francischini, que fez 329 posts, mais do que a soma de publicações dos quatro seguintes.
Em relação ao nível federativo, o estudo observa que pré-candidatos como Goura e João Guilherme aumentaram o foco em discussões municipais. Leprevost, que deixou a secretaria de estado da Justiça, Família e Trabalho, desde o último levantamento, também passou a falar mais sobre a capital. Estreante na disputa, Camila concentra quase toda a atuação no debate sobre o município.
Já em relação ao engajamento das postagens, que é medido pela soma de todas as interações (curtidas, compartilhamentos e comentários), a disparidade entre os pré-candidatos é bastante relevante. Enquanto Francischini tem uma média de 4.569 interações e Greca, 2.908, o terceiro colocado, Leprevost, tem um engajamento médio de 723. Camila, última colocada, fica com 14 no indicador. As métricas de engajamento foram coletadas até 23 de julho.
“O engajamento é um aspecto muito importante, mas temos que olhar o conjunto de métricas”, diz a coordenadora da pesquisa. “Francischini tem muito engajamento, mas a maioria do seu público não é de Curitiba. A Carolina Arns tem um público muito mais orgânico ao falar de assuntos municipais.” De acordo com a cientista política, os próximos estudos acerca da atuação dos pré-candidatos nas redes sociais devem contemplar análises mais aprofundadas sobre temas e público.
Conclusões
Na avaliação da coordenadora do estudo, de maneira geral, os pré-candidatos já entraram em ritmo de campanha nas redes sociais. Seguem algumas das principais conclusões da análise:
- Rafael Greca (DEM) utiliza o Facebook como vitrine do trabalho de sua gestão na saúde pública, com vistas à reeleição;
- Delegado Francischini (PSL) reduziu postagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e aumentou o foco na capital paranaense;
- João Guilherme (Novo) também reforçou o enfoque no âmbito municipal;
- Luizão Goulart (Republicanos) ainda repercute ações relativas à esfera federal, mas sem tomar posição;
- Ney Leprevost (PSD), após deixar cargo de secretário do governo do estado, passou a dividir sua narrativa entre as esferas estadual e municipal, dando início a uma pré-campanha;
- Carolina Arns (Podemos) ainda prefere o tom informativo, sem marcar posicionamento crítico ou de apoio à atual gestão;
- Goura (PDT) distribui seus conteúdos em temas nos três âmbitos da federação, mas acentuou o tom crítico;
- Gustavo Fruet (PDT) tem baixo volume de postagens, mas passou a postar críticas ao Executivo federal;
- João Arruda (MDB), embora aborde mais as questões de nível municipal ainda tem baixo alcance no Facebook em relação aos concorrentes;
- Camila Lannes (PCdoB) fala fez poucas postagens a respeito do tema saúde e ainda apresenta um engajamento tímido, mas falou prioritariamente sobre o município.