Motoristas estão sentindo no bolso os aumentos consecutivos nos postos de combustível em todo o país. Mesmo não sendo exceção à pressão dos preços, Curitiba está entre as quatro capitais com valor médio da gasolina mais baixo. Conforme pesquisa mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizada entre 22 e 28 de agosto, a diferença pode chegar a quase 80 centavos por litro. Enquanto em Brasília, por exemplo, a gasolina é vendida a um preço médio de R$ 6,479, em Curitiba o valor cobrado é de R$ 5,655, também em média; mais caro apenas do que São Paulo (SP), com R$ 5,650, e Macapá (AP), a R$ 5,159.
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Pelo menos três fatores ajudam a explicar esse quadro de gasolina "ligeiramente" mais barata para os curitibanos. Um deles, que não é unanimidade, tem a ver com a proximidade da refinaria Getúlio Vargas e do Porto de Paranaguá, por onde chegam combustíveis importados. Isso acaba impactando na diminuição dos custos logísticos e de transporte, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, derivados de Petróleo, Gás Natural, Biocombustíveis e lojas de Conveniência do Paraná (Paranapetro).
A tese não encontra respaldo na análise do chefe do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Guilherme Silva Vieira. Segundo ele, é natural que a população imagine que o custo do combustível deva ser mais barato nos casos em que a refinaria está mais próxima do consumidor, mas, na prática, não é o que ocorre. “Em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, tem refinaria dentro da cidade e o preço médio é R$ 6,40”.
Vieira aponta outro fator importante na definição do preço do combustível na cidade. Em Curitiba boa parte dos postos listados na ANP, que têm valores menores do que em outras cidades, são de bandeira branca, o que justificaria os preços menores por conta da margem para negociação entre posto e refinaria. “Os postos têm liberdade para comprar de vários fornecedores, então tem a maior possibilidade de negociar o preço, além de ter menos um intermediário para pagar, porque para fazer o uso da bandeira existe um acordo comercial com outra empresa, o que gera custos maiores. O pessoal aqui tá conseguindo negociar melhor”, explica.
Um terceiro fator preponderante na definição do preço do combustível, e já fartamente conhecido, lembra Vieira, é a oferta e a demanda. De acordo com um levantamento feito em julho deste ano pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), Curitiba tem cerca de 1,6 milhão de veículos circulando pela capital. “O impacto da pandemia na demanda é maior em uma cidade com muitos veículos, isso faz com que haja um maior estímulo para que os postos diminuam o preço, para atraírem mais clientes”, relata.
Preço da gasolina já teve nove alterações em 2021
De acordo com nota da Paranapetro, os preços estão elevados em todo o país por conta dos aumentos realizados pela Petrobras em suas refinarias, além das seguidas elevações do preço do etanol nas usinas de cana-de-açúcar. Ainda segundo a entidade, no acumulado do ano o aumento da gasolina foi de cerca de 51%, enquanto o diesel avançou cerca de 40%. Só neste ano, foram nove alterações de preços na gasolina, que no início de agosto teve mais um reajuste de de 3,3%.
Por conta disso, no mês, conforme exemplifica o Paranapetro, a composição do preço pago pelo litro da gasolina foi a seguinte: 35,68% destinado a Petrobras, 26,90% corresponde ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), 16,99% ao etanol anidro, que por conta de uma lei federal, é misturado em toda a gasolina comum vendida no Brasil, e 13,56% fica com impostos federais, como Cide e Pis e Cofins. Apenas 6,86% é a margem de lucro de distribuidoras e postos de gasolina.
Traduzindo a explicação, em nota, a Petrobras afirma que na quantia paga pelo litro da gasolina nos postos de abastecimento, em média, apenas R$ 2 são destinados à refinaria. “São esses R$ 2 por litro que remuneram as operações e os investimentos empregados pela Petrobras e outras empresas produtoras para que a gasolina chegue até as pessoas”.
De acordo com a estatal, o valor é necessário para viabilizar uma complexa estrutura que envolve a aquisição de reservatórios e plataformas de petróleo; logística de transporte; refino em unidades industriais complexas; e disponibilização dos combustíveis em diversas bases logísticas no país. “Como em qualquer indústria, os produtos vendidos precisam remunerar o investimento realizado e garantir que as empresas mantenham as operações funcionando com segurança e qualidade para atender os clientes”.
Ainda por meio de nota, a Petrobras ressalta que o alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o país seja suprido e não haja riscos de desabastecimento.
Para Vieira, da UFPR, a principal razão do aumento do combustível é o dólar alto e o custo elevado do petróleo, que é cotado internacionalmente e costuma ser fortemente afetado, por conta de conflitos bélicos no Oriente Médio e crises nas economias mundiais. “A nossa gasolina não está nos momentos mais altos que já esteve. Atualmente o petróleo está sob influência da pandemia e da economia, e como a gente sabe, não está no topo histórico, já esteve mais caro antes, mas agora juntou com o dólar”.
Na análise da Paranapetro, a previsão de novos reajustes depende principalmente da Petrobras, das usinas e de questões tributárias. Para Vieira, a melhor chance de queda está pautada em um recuo do preço do petróleo ou do dólar. “Tanto um quanto outro dependem de economia e de política. Se o Brasil tiver uma situação de arrefecimento de crises políticas, e algumas reformas econômicas importantes passarem, nós podemos ter um horizonte de atração de investidores, mas conforme a gente vai na direção de um ano eleitoral, o que acontece é geralmente o oposto. A crise aumenta e nada passa no Congresso porque fica tudo eleitoralizado. Não estou muito otimista”.
De acordo com o especialista, a expectativa para os próximos meses não é das melhores. “Os preços são livres. Não há espaço para governos fazerem nenhuma ação, o orçamento é deficitário. E pra dizer a verdade, é possível que piore, pois conforme a pandemia for arrefecendo, vai haver aumento da demanda, então vai ficar mais fácil repassar custos”, opina.
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