Pessoas cadeirantes de Curitiba têm enfrentado dificuldades para solicitar carros por aplicativos de transporte. Casos de motoristas que se recusam a levá-los, reclamam de sair do carro para ajudá-los e outras situações humilhantes aos passageiros trazem o questionamento sobre o motivo do problema: trata-se de falta de apoio dos aplicativos e estrutura dos carros, ou é puro preconceito de quem dirige?
Na opinião de Jucelia de Oliveira, aposentada de 52 anos, é uma mistura entre todas essas razões, acrescidas da falta de empatia dos motoristas com os passageiros: “Eles não gostam porque acham que vai dar trabalho, porque eles tem que sair do carro e ajudar, e nesse meio tempo perdem dinheiro”. Jucelia, que tem artrite, artrose e fibromialgia, até consegue andar, mas com muita dor e dificuldade - por isso passou a usar a cadeira de rodas há cerca de dois meses.
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Desde então, a aposentada quase chegou a perder consultas médicas por problemas com motoristas de aplicativo. Na pior das situações que enfrentou, só conseguiu embarcar no terceiro carro que solicitou. Ela viu os outros dois passando reto em frente ao endereço de partida, onde ela se encontrava em frente ao portão, após perceberem que se tratava de uma cadeirante. “É um absurdo, apesar de eu demorar uns 10 minutos para embarcar, eu tinha meu filho comigo para ajudar - o motorista nem precisaria colocar as mãos em mim”, desabafa.
Presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) e também cadeirante, Mauro Nardini conta que nunca foi desrespeitado por motoristas por causa de sua condição, mesmo usando os aplicativos desde que começaram a rodar em Curitiba, por volta de 2016. Ainda assim, já viu vários casos e o mais recente ocorreu com uma associada que foi recusada por um motorista: “Ela fez a solicitação pelo celular, e quando o motorista chegou, falou que não estava autorizado a levar cadeirantes. Estamos preparando tudo para entrar com uma ação contra ele”. A moça não quis conceder entrevistas.
Nenhum dos três principais aplicativos de transporte privado de Curitiba, o Uber, o 99 e a Cabify, têm a opção de escolher um carro adaptado para o serviço - o que também dificulta o atendimento. Mesmo assim, boa parte dos cadeirantes consegue ficar confortável sentado nos bancos de um carro normal, bastando um auxílio para dobrar a cadeira e colocá-la no porta-malas. Justamente por isso, Nardini é categórico: “A gente sabe que isso acontece e é preconceito sim”.
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A orientação da ADFP para quem sofrer recusa de corridas de aplicativos é não deixar para lá. Denunciar o comportamento à plataforma deve ser o primeiro passo, além de anotar o número da placa e o nome do motorista.
Os três aplicativos, por sua vez, alegam que orientam seus motoristas a levarem pessoas com deficiência. Conforme a Uber, os motoristas parceiros devem acomodar qualquer passageiro usando animais de serviço (cão-guia), andadores, bengalas, cadeiras de rodas dobráveis e outros dispositivos de assistência, tanto quanto for possível. A 99 foi a única que se comprometeu a criar, em breve, um treinamento presencial para orientar os condutores para o transporte de cadeirantes.
Já a Cabify acrescenta uma recomendação de que os passageiros enviem uma mensagem ao motorista avisando sobre a cadeira de rodas — o que o presidente a ADFP afirma não ser necessariamente bom: “Qual seria o possível motivo para o motorista recusar? É claro que isso evita aborrecimentos posteriores, porque aí o motorista já cancela antes de chegar ao passageiro”.
Alternativas aos apps
Qualquer motorista pode levar pessoas que usem a cadeira de rodas dobrável, que pode ser colocada no porta-malas durante a corrida. Uma licença especial do Detran é necessária apenas para os casos em que o passageiro não chega a descer da cadeira de rodas, e o veículo tem uma rampa para o embarque.
Esse tipo de veículo é encontrado no serviço de táxi de Curitiba, e também em motoristas particulares — caso de Sydney Teixeira, que há quatro anos faz transporte acessível na capital. “Somos em cerca de 20 carros com essa licença na cidade e estamos sempre cheios de corridas para fazer”, explica. De acordo com Teixeira, há espaço para mais pessoas atuarem neste nicho, mas uma das dificuldades é o custo para adaptar o veículo, que gira em torno de R$ 30 mil.
No caso de Teixeira, a ideia de adaptar o carro veio ao perceber a necessidade na própria família, com sua irmã que é cadeirante. Depois de toda a experiência com esse tipo de serviço, ele avalia que a recusa do atendimento não deva ser por um receio dos motoristas de perder tempo de trabalho: “ Na verdade, atendendo pessoas com mobilidade reduzida a gente não perde tempo, a gente ganha tempo, porque quando fazemos de coração é muito gratificante”, comenta.
No entanto, é importante lembrar que atitudes de desrespeito, infelizmente, não são exclusivas de motoristas de aplicativo e muito menos novidade, a exemplo do que contou o jornalista Rafael Bonfim sobre sua experiência com um taxista em 2011.
Soluções em outras cidades
Certamente a falta de carros de aplicativo adaptados à cadeirantes não é um problema exclusivo de Curitiba. No entanto, alguns dos mesmos aplicativos que rodam na capital têm a opção de solicitar veículos específicos com acessibilidade.
É o caso do UberAssist, modalidade que tem carros com rampas para as cadeiras e motoristas com curso para auxiliar os passageiros. A opção não está disponível no Brasil, mas chegou a 40 cidades do mundo, sendo a maioria nos Estados Unidos.
Mesmo assim, em Nova York a Uber chegou a ser processada, em 2017, por não disponibilizar carros adaptados em quantidade suficiente. Já na França, a mesma dificuldade foi o que motivou uma cadeirante a criar um aplicativo exclusivo para suprir essa demanda. Chamado de Wheeliz, o app tem como premissa o aluguel temporário de carros adaptados.
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