Primavera em Curitiba está mais fria e atrapalha até venda de sorvete

A primavera deste ano, que termina no próximo dia 21 de dezembro, não deve deixar muita saudade, pelo menos para quem mora em Curitiba e região. Sabe aquela sensação de que a estação das flores ficou mais para estação dos casacos e dos guarda-chuvas? E foi mesmo. Segundo os institutos de meteorologia, desta vez a primavera foi um pouquinho mais fria do que nos anos anteriores, com mais nebulosidade e chuva em alguns períodos.

De acordo com a meteorologista Alice Macedo, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a quantidade de frentes frias que atuaram sobre a região, trazendo muita nebulosidade, fez com que as temperaturas máximas da estação caíssem até 3°C em relação à média climatológica do período na capital paranaense.

Leia mais: Tempestade que destruiu Itaperuçu na verdade foi um tornado

Essa queda de temperatura, apesar de não estar tão longe da média, ocorreu principalmente nos meses de outubro e novembro. Em setembro, as oscilações estiveram mais dentro da média. A primavera começou em 22 de setembro.

Para a meteorologista do Climatempo Josélia Pegorin, não se pode dizer que a primavera neste ano foi muito mais fria do que na média. “Considerando as médias de temperatura mínimas e máximas de outubro e novembro, o mais correto é dizer que estão próximas da média. Porém, a média das temperaturas máximas de outubro de 2018 ficou aproximadamente 1°C abaixo do normal. Mas a média das máximas de novembro ficou quase 1°C acima do normal”, diz.

Veja também: Moradores do Juvevê entram em pé de guerra por causa de terreno doado a estudantes

Segundo ela, as temperaturas mínimas de outubro e novembro ficaram de 1°C a 2°C acima da média climatológica. Em relação ao ano passado, as tardes de outubro de 2017, em média, foram mais quentes que as de outubro de 2018. Mas as médias das temperaturas máximas de novembro de 2018 ficaram perto de 1°C acima das máximas de novembro de 2017.

A primavera de 2018, de acordo com Josélia, vem sendo influenciada pelo processo de formação de um El Niño. “O fenômeno só deve estar realmente organizado no decorrer de dezembro, mas o aquecimento da água do mar que ocorre na porção central-leste do Oceano Pacífico Equatorial, ao largo da costa do Peru, forçou um aumento da instabilidade sobre a Região Sul do Brasil, o que proporcionou mais chuva em outubro”, explica.

Pelas medições do INMET, a chuva de outubro de 2018 em Curitiba ficou 53% acima da média climatológica e um pouco acima do volume observado em outubro de 2017.

Mas em novembro de 2017 choveu muito mais do que em novembro de 2018. Este ano, o mês terminou com aproximadamente 40 mm de chuva acumulados em Curitiba, pela medição automática do INMET, o que representa 68% de chuva abaixo da média.

Mais chuva, menos sorvete

Um dos setores que mais sofre com as quedas de temperatura fora de época em Curitiba é o de sorvetes e de produtos gelados para consumo imediato. Mas pior do que o frio, para o curitibano, é a chuva, que cria um “efeito psicológico” que faz os sorvetes parecerem menos deliciosos, conforme explica o diretor-executivo da paleteria Los Paleteros, Gean Chu. “Tivemos pontos em que as vendas chegaram a cair 30% para essa época do ano. Na média, conseguimos nos virar, com base em promoções e correndo atrás do prejuízo”, afirma.

A paleteria possui uma rede de franquias em 12 estados e tem 7 quiosques em shoppings de Curitiba, além de 200 outros pontos externos de venda. Segundo Chu, as vendas nos shoppings, que possuem ambientes climatizados, são menos afetadas pela questão da temperatura, mas os pontos de venda no varejo sofrem mais, principalmente quando chove. “Os estoques ficam encalhados e você acaba não tendo giro”, explica.

Ele comenta que a variação da temperatura passa também por uma questão cultural, que está relacionada com o clima de cada região. “No Rio de Janeiro, por exemplo, se a temperatura chega a 25°C as vendas de sorvete caem. Já aqui em Curitiba se o termômetro chega em 25°C, as vendas aumentam”, diz. Os comerciantes da capital paranaense, pelo jeito, acabam se acostumando com o clima doido daqui. “A gente já leva em conta que Curitiba é mesmo uma caixinha de surpresas”, diverte-se Chu.