O acidente envolvendo um carro e um trem na região do Cabral na última terça-feira (03) reacendeu a velha discussão a falta de segurança nas regiões próximas à linha férrea. Muito além do barulho causado pelo passar dos vagões, é na coexistência de carros e trens que reside a maior preocupação no trânsito em vários bairros de Curitiba.
E esse não é um problema exclusivo da cidade. Dados da Associação Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontam que, entre janeiro e outubro de 2017, foram 60 acidentes ferroviários no Paraná. Na capital, já foram seis casos registrados — incluindo com um óbito, no bairro Uberaba.
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Em maio, duas ocorrências no mesmo dia comprovam que acidentes com trens são realmente mais comuns do que se imagina. Ambos os casos envolvendo carros e composições – os chamados abalroamentos – aconteceram em cruzamentos de Pinhais, na RMC, no último mês de maio.
E quem passa por situações assim não esquece. Em 2003, o taxista Maximiliano José teve o carro arrastado enquanto cruzava a linha férrea em Piraquara. O automóvel no qual ele estava morreu sobre os trilhos e ele teve que sair às pressas do veículo junto com a filha. “Foi o tempo exato de saltar pra fora do carro em meio ao som da buzina do trem e dos gritos da minha filha”, relembra. Segundo ele, o carro foi arrastado por cerca de 10 metros e foi completamente destruído.
Problemas de sinalização
Segundo a legislação brasileira, a sinalização ferroviária é obrigatória. As chamadas passagens em nível devem ser indicadas com faixas no chão, placas e sinais luminosos. Em alguns casos, cancelas e alertas sonoros também podem ser instalados para evitar acidentes.
O problema é que, na prática, essa sinalização não funciona tão bem assim. Por falta de manutenção, a indicação se torna confusa e muitos motoristas acabam se arriscando. Um exemplo é a esquina das ruas Marechal Deodoro e Padre Germano Mayer, no Alto da XV, onde as luzes vermelhas piscam sem parar, dando a entender que o trem pode passar a qualquer momento. Situação semelhante acontece em trechos próximos, como na Rua Francisco Alves Guimarães.
Já a algumas quadras de distância, na esquina das ruas Fernandes de Barros e Conselheiro Carrão, essa iluminação está sempre desligada. Na mesma região, na Rua Jaime Balão, um carro foi atingido por um trem no último mês de setembro após o alerta sonoro não ter funcionado. A motorista só percebeu a aproximação dos vagões quando viu a locomotiva vindo em sua direção.
Velho problema
A discussão de soluções para o problema vai desde a instalação de cancelas antes do acesso aos trilhos, até a construção de um anel ferroviário que desvie a malha do perímetro urbano. Na Câmara Municipal de Curitiba os debates têm ultrapassado a questão da segurança, chegando também a abordar outros fatores como o barulho das composições, e o incômodo causado pela passagem dos trens em determinadas horas do dia.
Ao todo, mais de 15 propostas relativas ao tema já foram apresentadas nos últimos 10 anos. A mais recente é de maio deste ano, na qual o vereador Jairo Marcelino (PSD) propôs que a passagem dos trens pela cidade fosse permitida somente após as 9h, devido ao barulho. A questão segue em discussão e a empresa responsável pela exploração ferroviária no Paraná, Rumo (antiga ALL), mantém a circulação irrestrita.
Instalação de cancelas e limite de horário para passagens de trens pela cidade estão entre as propostas em discussão.
Por meio de nota, a companhia informa que tem seguido todas as normas vigentes e que “procura causar o menor impacto possível à população”. A empresa reforça que é obrigação legal da administração pública, por meio dos órgãos ou entidades de trânsito, implantar, manter e operar o sistema de sinalização, os dispositivos e os equipamentos de controle viário; que a ferrovia é sempre preferencial; e que deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea é infração gravíssima, prevista em lei e sujeito a multa.
Quanto à instalação de cancelas para segurança, a Rumo afirmou que é feita “de acordo com estudos realizados individualmente em cada passagem em nível, que determinam se há necessidade do dispositivo”. A empresa salienta que as cancelas não são consideradas uma forma de sinalização totalmente segura e que já propôs ao município a formação de um comitê para discutir o assunto.
Já a prefeitura de Curitiba afirmou que a Superintendência de Trânsito de Curitiba tem debatido a questão com a Rumo e que realizou uma reunião na semana passada para tratar do assunto e discutir alterações nas sinalizações das passagens de nível, levando em conta o aumento do fluxo de carros e de trens pela cidade, registrado nos últimos anos.
A partir daí, segundo a administração municipal, a intenção é firmar um novo convênio entre as partes. A Superintendência de Trânsito orienta o motorista a parar o veículo em todo o cruzamento com a linha férrea e olhar para ambos os lados para se certificar de que não há nenhuma composição de vagões se aproximando, antes de atravessá-la.
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