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Infraestrutura urbana de Belo Horizonte foi severamente castigada durante chuvas de janeiro
Infraestrutura urbana de Belo Horizonte foi severamente castigada durante chuvas de janeiro| Foto: Adão de Souza / Divulgação PBH

O crescimento acelerado das cidades brasileiras em meados do século passado fez com que os rios passassem a receber uma imensa carga de dejetos, transformando-se em esgotos a céu aberto. Foi nessa época que a canalização se popularizou como opção urbanística e cidades como Curitiba e Belo Horizonte “jogaram” para o subterrâneo cerca de 30% do total da malha fluvial.

Essa canalização excessiva dos rios, poucas áreas verdes e falta de bacias de contenção, aliadas à força brutal de 491 mm de chuva entre 24 de janeiro e 2 de fevereiro, provocou uma tragédia com mais de 50 mortos em Belo Horizonte e 53 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Nesta segunda-feira (10), a cidade de São Paulo ficou embaixo de água após chover 113 milímetros em poucas horas, praticamente metade da média esperada para todo o mês de fevereiro.

Quais as chances de que algo parecido, isto é, em proporções semelhantes, possa ocorrer em Curitiba?

Como São Paulo é um caso à parte, por se tratar de uma megalópole, a reportagem faz um comparativo do problema das enchentes em Belo Horizonte e Curitiba (a população estimada pelo IBGE em 2019 para cada cidade foi de 12,2 milhões, 2,5 milhões e 1,93 milhão, respectivamente).

De saída, características do relevo e do planejamento urbano colocam Curitiba numa situação bem menos delicada do que Belo Horizonte. Segundo dados da Superintendência de Desenvolvimento de Belo Horizonte (Sudecap), dos 654 km de rios que cortam a cidade, 208 km estão canalizados ou tapados. Em Curitiba, a Secretaria do Meio Ambiente aponta para a existência de 1.525 km de rios, dos quais 36% estão canalizados, total ou parcialmente. “Curitiba está em um fundo de vale, cercado por serra. Então, toda a água que cai no entorno vem neste vale, daí a quantidade de rios”, explica o engenheiro ambiental Alessandro Bertolino, professor da PUCPR.

Mas em Curitiba, a extensão das áreas verdes (participação de 14,7% no território, contra 7,18% em Belo Horizonte) é o grande diferencial. A maioria dos parques tem lagos que funcionam como contenção da água da chuva, que só é liberada posteriormente aos temporais, de forma controlada, de forma a minimizar a força das águas nas galerias e favorecer o escoamento. “Temos alguns parques, como Barigui e São Lourenço, que são planejados para reter água. Se não fosse assim, bairros inteiros como Santa Quitéria, Cidade Industrial e municípios até a jusante (que ficam no sentido do curso do rio) teriam problemas com o rio Barigui”, destaca Bertolino.

Alagamentos no Parque Barigui funcionam como válvula de escape, evitando transbordamento do rio em área urbana
Alagamentos no Parque Barigui funcionam como válvula de escape, evitando transbordamento do rio em área urbana| Leticia Akemi / Gazeta do Povo

A capital paranaense também é “protegida” pelo relevo levemente ondulado – ao contrário de Belo Horizonte, que é mais acidentado. “Numa situação de chuvas como a que ocorreu em janeiro, a água vem com velocidade maior, e por isso é capaz de arrastar pessoas e até carros”, diz o professor da PUCPR. Em Curitiba, a diferença entre o ponto mais alto e o mais baixo é de aproximadamente 160 metros, contra 600 na capital mineira.

Segundo a diretora de Recursos Hídricos da SMMA, Ana Carolina Schmidlin, a chance de incidentes aumenta no verão, com a ocorrência de chuvas intensas, muitas vezes de forma atípica. “Mesmo assim, com ações que a prefeitura tem tomado, podemos minimizar os prejuízos. Curitiba já tem políticas estruturadas pensando em combater o risco de enchentes. Temos um Plano Diretor de Drenagem [2017], temos planos setoriais de resíduos, de saneamento básico, obras de macrodrenagem e muitos projetos envolvendo a população, como o de Amigos dos Rios”, afirma.

Em Belo Horizonte, entrou em vigor na quarta-feira (5) um Plano Diretor exigindo caixa de captação de água de chuva em todos os terrenos. Mas desde 2007 Curitiba exige a construção de bacias de contenção nos novos prédios da cidade, de acordo com a área a ser construída, por meio do Decreto nº 176.

A limpeza da cidade é muito importante, diz Ana. “Pedimos apoio da população para manter isso, que é muito forte em Curitiba. Geralmente os alagamentos estão ligados a obstruções nas galerias, pelo acúmulo de lixo”, observa. Em Belo Horizonte, por exemplo, a prefeitura informou no dia 31 que havia retirado cerca de 10 mil toneladas de lixo e entulho espalhadas na rua após as chuvas dos dias anteriores. Do total, 8 mil toneladas eram entulho, incorretamente depositados.

Limpeza e desobstrução

Segundo o secretário municipal de Obras Públicas, Rodrigo Rodrigues, o depósito irregular de lixo também ocorre em Curitiba, mas há 18 equipes que trabalham ao longo do ano para limpeza, desobstrução e manutenção das galerias. “Aliado à manutenção básica, a gente tem as grandes obras de macrodrenagem, que possibilitem que os rios consigam esgotar as águas de maneira controlada e evitando grandes alagamentos quando há fortes chuvas”, diz ele.

Uma obra de destaque atualmente está sendo feita nos canais Santa Bernadete, Henry Ford, Vila Guaíra e Vila Cortume e no Rio Pinheirinho, que recebe as águas desses córregos e as leva ao Rio Belém. “São 7 quilômetros de uma obra inovadora, com um projeto de uma estrutura de controle para segurar a água da chuva, que vai desacelerando para entrar no Belém. As galerias menores, quando tentam desaguar em um rio já cheio, não têm força e por isso há alagamentos. As obras visam fazer com que os pequenos canais cheguem aos grandes rios”, explica. A intenção é replicar essa técnica em outros rios.

Conteúdo editado por:Marcos Tosi
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