Carlos Eduardo dos Santos foi trazido do presídio em Sorocaba (SP) para mais esclarecimentos da morte da menina Rachel Genofre em 2008.| Foto: Mellanie Anversa / Gazeta do Povo

Com a transferência para Curitiba de Carlos Eduardo dos Santos, 54 anos, a Polícia Civil tenta encaixar o inquérito do assassinato brutal da menina Rachel Genofre, encontrada morta aos 8 anos de idade com sinais de estupro em uma mala na rodoviária de Curitiba em 2008.

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Trazido do presídio Sorocaba II, no interior de São Paulo, onde cumpre pena de 22 anos por outros crimes sexuais, além de estelionato e roubo, Santos foi interrogado novamente na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Curitiba terça-feira (22). Após quase 11 anos de investigação, Santos foi identificado ao ser comprovado que o DNA dele é o mesmo da prova genética colhida na época do crime.

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No depoimento desta terça, Santos deu mais informações em relação ao interrogatório à DHPP mês passado no presídio em Sorocaba. Porém, novas diligências apontaram divergências. Uma delas é em relação ao estupro. Em novo depoimento, Santos diz ter abusado de Rachel já morta.

"Ele diz que ao chegar no local do crime, Rachel se desesperou e começou a gritar. Por isso, ele teria tapado a boca de nariz da menina com a mão para que ela parasse. Ele disse que não sabia que ela estava morta, apenas desmaiada, e cometeu o ato sexual", detalha a delegada Camila Cecconello, chefe da DHPP. O laudo do Instituto Médico-Legal (IML), no entanto, aponta que a menina estava viva ao ser estuprada e a polícia descarta a versão dada pelo suspeito.

Outro ponto de convergência é em relação ao local em que Santos assassinou Rachel após abordá-la na saída do Instituto de Educação, escola no Centro de Curitiba onde ela estudava. Primeiro ele disse que levou Rachel para uma pensão no Centro. Entretanto, os investigadores o confrontaram dizendo que ele deu saída da pensão antes de a menina morrer.

Rachel Genofre foi encontrada morta dentro de uma mala na rodoviária de Curitiba em 2008.| Foto: Reprodução

“Aí ele muda a versão e diz que transporta a Rachel de ônibus para um terminal e pega outro ônibus para a casa dele”, diz a delegada. Apesar de Santos não lembrar o bairro em que residia, pelas linhas de ônibus que afirma ter pego, a polícia suspeita que ele morava no bairro Sítio Cercado em Curitiba ou em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana.

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Mais investigações

Além do novo interrogatório com o suspeito, investigadores ouviram ex-companheiras de Santos, a família dele, líderes religiosos e demais pessoas que eram do convívio dele na época da morte de Rachel. A investigação aponta que Santos passou por pelo menos 14 cidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo nos anos anteriores à morte da menina.

Ao todo, ele praticou ao menos cinco estupros contra crianças, todas meninas de idades entre 4 e 14 anos – perfil que se encaixa ao de Rachel. Há um sexto estupro que a polícia ainda não sabe se foi contra uma criança ou uma pessoa adulta. A Polícia Civil solicitou à Justiça de São Paulo cópia de todos os processos contra Santos para averiguação.

Santos não aceitou participar da reconstituição do crime – um direito por lei do investigado. A Justiça de São Paulo autorizou a permanência de Santos em Curitiba até a conclusão do inquérito da morte de Rachel, que deve ser feita em até 30 dias, segundo o delegado responsável pelo inquérito, Marcos Fernando da Silva Fontes.

Laudo psiquiátrico

A pedido do Ministério Público do Paraná (MP-PR), será feito um laudo psiquiátrico de Santos. De acordo com o diretor da Polícia Científica, Leon Grupenmacher, Santos já passou por laudos psiquiátricos a pedido da Justiça em outros estados, os quais não teriam constatado nenhuma alteração do suspeito. “Também temos a informação de que ele tem três filhos e não há indícios de que tenha abusado deles”, afirma o diretor.

Para o delegado responsável pelo inquérito, Marcos Fernando da Silva Fontes, há indícios que Santos tenha um transtorno de personalidade, mas que isso não o impede de diferenciar o que é certo e errado. "Sabe-se que ele tem transtorno de personalidade porque o comportamento revela isso", enfatiza.

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Imagens de Carlos Eduardo dos Santos na época da morte de Rachel, quando foi preso - em 2017 - e agora.| Foto: Polícia Civil

Mala na rodoviária

No segundo interrogatório, Santos manteve a versão de que deixou a mala com o corpo de Rachel na rodoviária porque ali não despertaria suspeita. Ele ainda diz que se arrependeu e deixou a mala lá para que a polícia encontrasse, versão descartada pela polícia. A mala foi encontrada por uma família indígena que dormia na rodoviária debaixo de uma escada.

A novidade do novo depoimento é a informação de que ele teria embarcado em um ônibus para Guaratuba, no litoral do Paraná, assim que deixou a mala no saguão da rodoviária. Antes de embarcar, ele permaneceu cerca de 10 minutos na rodoviária com a mala para ter certeza que era segura deixá-la lá.

A polícia não conseguiu confirmar que Santos esteve de fato em Guaratuba. No entanto, ele afirma ter deixado a mala de escola da Rachel em uma lixeira próxima ao ferry boat. As investigações ainda apontam que após passar por Guaratuba, o suspeito voltou para São Paulo, de onde trouxe a mala que colocou o corpo da menina.

Santos também revelou que embalou o corpo em sacos plásticos dentro da mala temendo que mesmo após ser sufocada Rachel acordasse. “Os sacos eram para que Rachel ficasse sufocada caso ainda não estivesse morta”, explica a delegada Camila. Além disso, a polícia acredita que os lençóis usados em volta do corpo foram usados para disfarçar o odor da menina.

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"Ele disse que ficou com a Rachel por apenas 1h30, mas sabemos que ele ficou por muito mais tempo. Por isso, achamos que esses recursos que ele usou em volta do corpo fosse para não deixar suspeitas", completa a delegada.