“Já fomos assaltados diversas vezes. Os ladrões levam de tudo e sempre quebram muita coisa. É um prejuízo atrás do outro e a insegurança toma conta da gente”. Esse é o desabafo do jovem Erick Johnny de Oliveira, 23 anos. Atendente no bistrô Leve Curitiba, localizado no Jardim Botânico, ele se acostumou com a violência na região e afirma que algo precisa ser feito para mudar essa realidade. “Nós vemos alguns guardas municipais por aqui durante o dia, mas a noite não fica ninguém na região. Deveriam aumentar o efetivo e dar prioridade aos nossos cartões-postais”, pede.
Assim como ele, a estudante Dhandrea Vithoria Rodrigues Narok, 20, também acredita que o trabalho dos “azuis” é necessário. “Fico aliviada quando vejo algum guarda ao redor observando o que está acontecendo porque isso inibe a violência, mas acredito que tem que aumentar o número e também investir na qualidade desses trabalhadores”, pontuou a jovem, enquanto passeava pelo parque com algumas amigas.
Segundo a prefeitura de Curitiba, a capital conta com 1.351 profissionais espalhados pelas dez regionais. No entanto, o Sindicato dos Guardas Municipais (Sigmuc) garante que esse número está muito abaixo do índice apresentado na Lei Federal 13.022. “O estatuto geral da corporação estabelece que cidades com mais de 500 mil habitantes podem contratar até 0,2% da população para o efetivo, ou seja, mais de 3 mil profissionais”, afirma o presidente do sindicato, Luiz Zecchi.
Quatrocentas aposentadorias até 2019
O inspetor Odgar Nunes Cardoso, diretor da Guarda Municipal da capital, tem conhecimento deste estatuto, mas explica que a Lei Municipal 13.769 apresenta um número diferente. “Ela estabelece a contratação de até 2.126 GMs em Curitiba. Porém, como estamos há mais de dez anos sem contratações, essa quantidade só tem diminuído”, explica.
Isso ocorre porque muitos “azuis” se aposentaram, desistiram da carreira ou se afastaram por situações de saúde, deixando GMs como Rosane Nascimento preocupados com o futuro da corporação. “Com essa reforma trabalhista, muita gente que tem direito de se aposentar já está pedindo pra sair. Então, o efetivo que está baixíssimo vai cair ainda mais e quem sofre é a população”, aponta.
Segundo o inspetor, até 2018 cerca de 100 profissionais estarão aptos para se aposentar. No entanto, o problema maior pode vir em 2019, quando mais de 300 devem deixar o trabalho pelo mesmo motivo.
Cobertor curto
Com o efetivo abaixo do esperado, o GM Marcelo Camargo também afirma que muitos bairros de Curitiba têm sido prejudicados, principalmente durante ações como a “Operação Saturno”, que desde o dia 15 de maio deu prioridade à segurança no Setor Histórico de Curitiba e nos arredores da Rua XV Novembro, no Centro. “Foram tirados guardas de todas as regionais para colocar no Centro. Só que as equipes dos bairros já estavam defasadas, então, sem alguns colegas, o problema ficou ainda pior. Tem até módulos fechados por causa disso”.
De acordo com o diretor da GM, o remanejamento de profissionais para a operação foi realizado com base em dados estatísticos. “Fizemos um levantamento que apresenta os horários e locais com maior incidência de furtos, roubos e uso de drogas. Então, focamos nesses espaços. Além disso, vários guardas que atuavam em áreas administrativas foram colocados na parte operacional”, explica Odgar.
Viaturas ociosas
Outro guarda municipal, que preferiu não se identificar, denuncia que essa “reorganização” ainda tirou diversas viaturas de circulação por falta de equipes para utilizá-las. “É um absurdo! Agora só temos uma viatura por núcleo no período da meia-noite até as 7h, diminuindo a resposta policial ao grande número de crimes que ocorrem nesse período”, lamenta.
Para o diretor da GM, a mudança foi necessária. “Estamos tentando atender a população da melhor forma possível com o efetivo que temos. Então, como a incidência de crimes em ônibus e locais públicos é maior antes da 1h da manhã, colocamos mais dez viaturas atuantes nesse período e diminuímos as equipes 24 horas”.
Concursados à espera
Remanejamentos como esse continuarão sendo necessários enquanto a cidade não receber os 600 aprovados no concurso para guardas municipais realizado em 2015. “Só que o prazo do concurso está passando e nenhum aprovado foi chamado até hoje. Eu, por exemplo, tinha certeza de que seria chamado logo após a prova e até cancelei uma viagem que ia fazer. Pena que até hoje estou aguardando”, lastima um dos aprovados.
Segundo ele, o atual prefeito Rafael Greca (PMN) prometeu, na campanha, que 400 concursados iniciariam o treinamento no dia 3 de janeiro deste ano, enquanto outros 200 seriam chamados em março. Porém, esses prazos passaram e o efetivo da GM não aumentou. “Ainda em março, recebemos informações de que a primeira turma de treinamento abriria em abril com 160 pessoas, mas nada foi feito”.
Outro colega aprovado, que também preferiu não se identificar, afirmou que chegou a fazer os exames de aptidão física e psicológica. Porém, esses resultados têm prazo de validade e, por isso, ele precisará passar novamente pelo processo quando a primeira turma for aberta. “Isso é um descaso com todos que se prepararam para o concurso, passaram por todas as etapas e conquistaram sua vaga. Nós queremos trabalhar e a população de Curitiba clama por mais segurança”, protesta.
Sem recursos
De acordo com a Secretaria Municipal de Recursos Humanos, a nomeação dos aprovados no concurso realizado em 2015 ainda não foi realizada por falta de condições financeiras para a contratação. “O motivo é o déficit orçamentário previsto para este ano de R$ 2,19 bilhões”, informa a pasta, em nota. O órgão confirma que 106 pessoas foram chamadas no início deste ano para a fase de análise documental. “Dos 106 convocados, 91 foram aprovados na primeira fase e agora farão o exame toxicológico, uma das etapas que antecedem a contratação”.
Porém, os novos “azuis” só poderão proteger os espaços públicos de Curitiba quando a prefeitura tiver recursos para isso. “Encaminhamos para a Câmara Municipal o Plano de Recuperação de Curitiba, que busca sanar as contas da cidade. Nossa prioridade é honrar o pagamento dos salários de todos servidores”, alega.
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