Instalado na Rua XV de Novembro na década de 70, o relógio digital do calçadão de Curitiba permanece ligado até hoje, mas não tem sido uma fonte confiável de informação há pelo menos um ano: por volta do fim de 2017 já não mostrava o horário correto. Mas, apesar de o erro incomodar muitas das pessoas que passam por ali, para várias outras a situação passa despercebida, prova cabal de que o aparelho já não tem a mesma importância de 40 anos atrás.
O equipamento está instalado no trecho entre a Rua Ébano Pereira e a Alameda Doutor Muricy. “Eu nunca reparei que este relógio estava aqui”, confessa a vendedora Priscila Dias, que trabalha em uma loja de joias do calçadão há quatro anos. O motivo da desatenção, segundo ela, é a inutilidade do aparelho diante de relógios de pulso e celulares. Fora o fato de a torre estar ao lado de árvores grandes que chamam mais atenção do que o próprio relógio - ou, no mínimo, o escondem.
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Retrato do estilo arquitetônico da época, o dispositivo da torre preta com números em vermelho fica na mesma quadra do Bondinho da Leitura, outro marco da região central da capital. Mas ao contrário do bonde, que está fechado para reforma, não recebe manutenção há tempos.
Hoje, apesar da grande discrepância entre os números apresentados e o horário real, que chega a ser de cerca de três horas, muitas pessoas temem quanto à confusão que este erro pode causar. “Eu trabalho em frente a ele desde o começo do ano, e volta e meio fico espiando para ver se vieram consertar. Fico apreensiva que alguém distraído se confunda. Parece improvável, mas pode acontecer”, opina a funcionária Nair Maria da Rocha.
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Já para Aline Ribeiro, que frequenta o local há cerca de dez anos, o pior do estado de abandono do relógio é o desperdício dinheiro público gasto com energia elétrica: “Já que instalaram e está ligado, que mantenham. É o mínimo que podem fazer”. O custo de colocação do aparelho, no entanto, não foi da prefeitura nos idos de 70: o monumento foi um presente da Joalheria Boiko, e é considerado um dos primeiros relógios digitais a marcar horas e temperatura na capital.
A perda da importância como ponto de encontro ou mesmo como informativo do horário não é tão relevante na opinião de Daniele Teixeira, funcionária de uma loja de roupas da Rua XV há um ano. De acordo com a vendedora, o dispositivo deveria servir mais como um marco histório e cultural do estilo de Curitiba em outros tempos. “Fora isso, tirar o celular da bolsa enquanto estamos na rua é perigoso. Se pudéssemos contar com o relógio seria mais prático, e acho que logo iria se difundir a notícia de que ele funciona, se fosse o caso”, avalia Daniele.
Mesmo com as reclamações, nenhum dos entrevistados chegou a ligar para o telefone 156, da prefeitura, que recebe esse tipo de notificação. A administração, por sua vez, se posicionou por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) dizendo que irá revisar o aparelho, mas não deu previsão para quando isso deve ocorrer. A manutenção fará parte de uma série de melhorias em equipamentos públicos da região, que teve início com a recuperação do icônico relógio da Praça Osório, que voltou a funcionar em fevereiro de 2017 após quatro anos desativado.
A secretaria afirma também que, apesar de parte da população não notar o relógio digital, ele não deve ser retirado da calçada. Toda a Rua XV de Novembro é tombada como Patrimônio Histórico, impedindo qualquer grande alteração no visual da região.
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