Menos de um ano depois de um grave acidente com um caminhão na BR-376 que vazou produto químico e matou 3 toneladas de peixe, o Rio São João, em Guaratuba, na divisa do Paraná e Santa Catarina, volta a viver o mesmo problema. Desta vez, o vazamento provocado por um caminhão-tanque carregado de óleo industrial que tombou na noite de quarta-feira (13) no km 668 chegou ao leito, deixando a água, antes transparente, na cor verde. O caminhoneiro morreu no acidente e o turismo local já sente o impacto. Apenas dois dias após o acidente, a maioria dos hóspedes das pousadas da região cancelou as reservas.
O óleo industrial atingiu todo o leito de aproximadamente 20 km, causando mais uma interdição do rio. A Defesa Civil de Santa Catarina reforçou nesta sexta-feira (15) o alerta para que as pessoas não entrem e nem consumam a água. Entretanto, o rio já estava interditado desde abril de 2018, quando um acidente entre três caminhões poluiu com 25 mil litros de óleo diesel e 13 mil litros de inseticida a água, condição agora agravada por mais uma contaminação.
As pousadas da região sentem o efeito do novo vazamento. “Tivemos que ligar para os clientes e avisar [das condições do rio]. A maioria cancelou as reservas porque o rio que é o atrativo da região”, comenta Elma Bora, 40 anos, dona de uma pousada.
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Ainda sentindo o efeito do acidente do ano passado, ela prevê mais um período de prejuízo. Somente neste fim de semana, 40 hóspedes cancelaram as reservas ao saber do vazamento de quarta-feira, prejuízo estimado de R$ 7 mil. “Esse vai ser um mês de prejuízo. Semana que vem temos um retiro de igreja aqui e ainda nem sei como vai ser”, lamenta Elma.
A chuva da noite de quinta para sexta ajudou a dissipar o produto químico e a diminuir a cor leitosa e verde da água. Mesmo assim, os moradores temem que os peixes que conseguiram resistir ao vazamento de 2018 não resistam agora. “Acho que a gente só não viu peixe boiando como na vez passada porque ainda não tem peixe. Mas não sei o que pode acontecer com os que estavam começando a voltar. É uma pena mesmo”, lamenta Ademir Dias, 54, dono de outro hotel nas proximidades.
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Na pousada de Dias, a sexta-feira também começou com telefonemas aos clientes. Da mesma forma, a maioria preferiu cancelar reservas e o medo é de que o prejuízo se repita como em 2018. “Tivemos um prejuízo de cerca de R$ 20 mil aquela vez. É complicado. A gente não sabe quanto tempo vai ficar tudo interditado agora e é ruim demais também por causa da natureza”, acrescenta o proprietário.
Interdição de 2018
Mesmo interditado desde o ano passado, os avisos para os banhistas não entrarem no rio e nem consumirem a água foram retirados das duas margens. E, por falta de fiscalização, não foram recolocados. Assim, mesmo com a água imprópria, o fluxo de gente no rio seguiu normalmente ao longo deste período.
“Isso é difícil controlar. O número de pessoas que usa o rio para se banhar é muito grande. Tinha placas grandes, adesivos, mas foram arrancandos. Só que para efeito prático, o rio continua interditado”, justifica o secretário de Saneamento Ambiental da cidade catarinense de Garuva, José Roberto Pakuszewski.
Uma reunião na manhã desta sexta entre autoridades ambientais e representantes das comunidades locais e pousadas vai definiu diretrizes para manter moradores da região e turistas longe do São João. Novas placas foram instaladas no trecho e alertas começaram a ser disparados para meios de comunicação.
Além disso, o grupo estabeleceu 15 pontos de análise diária para os próximos 15 dias. As análises serão feitas desde a Serra do Mar entre Guaratuba e Garuva até o trecho final do curso, na bacia de Guaratuba, onde o rio deságua. “Vamos fazer esse monitoramento e também vistoriar os pontos onde é possível ficar mais material represado. Mas o mais importante é que continua o alerta. É um produto que faz mal e, por isso, o consumo da água e o banho no rio continuam proibidos”, alerta o secretário de Garuva.
Ainda de acordo com a secretária da cidade catarinense, a transportadora responsável pelo caminhão que levava a carga fazer coletas em pontos estratégicos do rio. Já a Quaker, responsável pelo produto químico, informou no encontro que a situação foi tratada como emergência pela empresa e que, apesar de tudo, o risco de contaminação após a diluição do produto na água é baixo.
A reportagem entrou em contato com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e com a secretaria de Meio Ambiente de Guaratuba para saber o que caberá a cada uma das pastas no processo, mas não obteve retorno de nenhum destes órgãos. Em nota na internet, a prefeitura de Guaratuba informa que mantinha equipes no local orientando as famílias da comunidade a não utilizar a água do rio até nova autorização do IAP.
“A utilização das águas poderá causar irritação moderada à pele, reações alérgicas, danos aos órgãos por exposição repetida e prolongada, sendo tóxico também para os organismos aquáticos”, diz o texto. Ainda segundo a prefeitura, a concessionária da BR-376 já estava providenciando as análises da água para posteriormente fazer a cobrança da empresa responsável pela carga.
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