| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Em dia de chuva, quem sai de casa despreparado em Curitiba pode contar com uma facilidade que é tradição, seja nas ruas do Centro ou em pontos comerciais com grande fluxo de pessoas. Basta um pequeno sinal de garoa ou tempestade que logo aparecem ambulantes vendedores de guarda-chuva, entoando frases como a clássica “guarda-chuva vai a 10” e impedindo os desavisados de se molharem. Apesar de parecerem surgir como mágica, porém, os vendedores lidam nada mais nada menos do que com as táticas de observação do céu e a rapidez para comprar os produtos na distribuidora e chegar até os pontos de venda.

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“O esquema é já estar pela região de venda. Assim que a gente percebe que a chuva vem vindo, corremos para a distribuidora para comprar os produtos”, explica Antonio de Jesus, de 47 anos, que há cinco trabalha com comércio de rua. No Centro de Curitiba, por exemplo, as distribuidoras estão posicionadas em pontos estratégicos, como na Praça Rui Barbosa ou no Terminal Guadalupe.

Quando as vendas vão bem, também há aqueles que montem pequenos estoques em casa. Mas geralmente, os comerciantes adquirem os produtos conforme o dinheiro vai entrando - a cada 10 vendidos, 10 comprados. Jesus, por exemplo, mora na Região Metropolitana de Curitiba e quando não tem recursos suficientes para guardar alguns exemplares, passa em atacadistas em seu caminho até o Centro da capital. Além disso, conta não acompanhar a previsão do tempo: “Fico de olho no céu, mesmo”.

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O melhor dia para vender o produto, segundo o ambulante, são aqueles em que não há chuva logo pela manhã. “Quando a tempestade vem mais tarde, as pessoas já saíram de casa sem o guarda-chuva e não precisam comprar na rua”, afirma. A margem de lucro, porém, não é das maiores: os ambulantes geralmente pagam R$ 8 por unidade de tamanho grande, e tentam ao máximo vendê-las por R$ 12. Isso porque, com a fama dos guarda-chuvas de serem vendidos a R$ 10, preço de alguns anos atrás, os clientes acabam chorando por um desconto no valor.

 

Conforme o comerciante Carlos Guido Rios, os tempos são outros e não se vende mais guarda-chuva como antes. “Antigamente, há uns dois ou três anos, eu chegava a vender 80 guarda-chuvas por dia. Agora, quando muito, eu vendo mais ou menos 40”, lamenta o ambulante, que está no ramo há oito anos. De acordo com Rios, a queda tem relação com a crise econômica enfrentada pelo país, que faz as pessoas preferirem se molhar a comprar mais sombrinhas do que o necessário. “Antes da crise as pessoas esqueciam o guarda-chuva em casa e compravam outro, e outro, e outro. Hoje tem um só e é melhor se molhar do que pagar por um novo”, observa.

Para Rios, a melhor época para vender os guarda-chuvas é o inverno. “No verão as pessoas não ligam de se molhar, já que a roupa seca rápido”. Quando a venda está baixa, a maioria dos ambulantes acaba migrando para outros produtos, como brinquedos baratos ou bebidas em eventos da cidade.

Além da dificuldade nas vendas, de vez em quando os ambulantes têm de lidar com a fiscalização do comércio, que não é registrado. “Desde o início do mandato do Rafael Greca na prefeitura, a fiscalização tem sido mais dura. Mas por um lado eu concordo, já que os outros comerciantes pagam impostos”, explica Rios. Ainda assim, o vendedor é persistente: “Se algum fiscal toma meus produtos, logo em seguida eu vou na distribuidora comprar mais e continuo o trabalho”.

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Colaborou: Cecília Tümler