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Tanque M3 Stuart e avião P-47 Thunderbolt estão entre as principais peças do Museu do Expedicionário. | Cassiano Rosario/Gazeta do Povo
Tanque M3 Stuart e avião P-47 Thunderbolt estão entre as principais peças do Museu do Expedicionário.| Foto: Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

Algumas atrações do Museu do Expedicionário, no bairro Alto da XV, em Curitiba, estão do lado de fora do prédio. Encravados na praça à frente, um tanque de guerra e um avião roubam a atenção. Não só pelo tamanho, mas principalmente pelo valor histórico que possuem. São dois exemplares que foram fundamentais para a vitória dos países Aliados sobre os do Eixo na Segunda Guerra Mundial.

O carro de combate, de modelo M3 Stuart, foi importante no começo do conflito nas trincheiras europeias. Mais tarde acabou utilizado nas batalhas travadas no Pacífico. O exemplar em exposição esteve em combate, segundo a administração do museu, e somente depois do fim da guerra foi transferido para o Exército Brasileiro. Já o avião, um P-47 Thunderbolt, foi largamente produzido nos Estados Unidos e utilizado como caça na guerra. A aeronave que está na praça, garante o museu, esteve em combate pela Força Aérea Brasileira. Paira, no entanto, uma dúvida sobre se o avião esteve de fato na Itália.

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Por estarem ao ar livre, basta chegar à praça para apreciar as máquinas, que ganham ainda mais valor nesta semana, quando iniciam as comemorações dos 74 anos da Tomada de Monte Castelo, quando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) conquistou a região na Itália que antes era dominada pelos nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial. Antes de visitá-los, conheça um pouco sobre os equipamentos do Museu do Expedicionário.

O tanque Stuart

O M3 Stuart foi concebido nos Estados Unidos no período entre guerras com o conceito de um carro de combate leve, ágil e bastante móvel, com blindagem capaz de resistir a armas de infantaria da época. O armamento era simples, mas suficiente para a época. Quando entrou em combate na Segunda Guerra Mundial, porém, já era um pouco defasado em relação aos carros do Eixo. Mesmo assim foi fabricado em grandes quantidades durante o conflito.

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Os dez primeiros exemplares vieram para o Brasil em 1941. Eram novos e foram comprados a preço de mercado. Mais tarde, a partir de 1943, começaram a chegar os excedentes de guerra, que foram direcionados principalmente para o Nordeste para ajudar na proteção das bases aéreas norte-americanas instaladas na região.

“Os Estados Unidos vendiam os Stuarts a valor de sucata e os que vieram foram enviados para outras partes do país. Eles eram de diversos lotes e alguns estiveram em combate no Pacífico e no Norte da África”, explica o especialista em carros de combate e um dos autores do livro “O Stuart no Brasil - M3/M3A1 e derivados”, Paulo Roberto Bastos Junior.

O exemplar do M3 Stuart exposto no Museu do Expedicionário possivelmente combateu na Segunda Guerra Mundial no Pacífico.Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

No Brasil, os carros não chegaram a ir para combate de fato. Depois da guerra, eram usados para simulações e treinamentos. “Desde os primeiros anos de operação, o Stuart conquistou a simpatia e a preferência dos militares, graças à simplicidade de operação e manutenção e também por sua agilidade e velocidade”, atesta o diretor do Museu do Expedicionário, coronel Said Zendim.

O exemplar que está exposto em frente ao prédio do museu estampa a matrícula EB11-051. Ele é de uma variação do M3 Stuart, o M3A1, com algumas atualizações em relação ao antecessor. O número de série dele é o 7057, mas pouco se sabe sobre por onde andou antes de desembarcar no Brasil. De acordo com Bastos Júnior, esse tanque possivelmente esteve em combate no Pacífico pelo lado dos Aliados e veio como excedente do conflito.

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Quando chegou ao país, foi enviado para o 3.º Regimento de Reconhecimento Mecanizado, em Bagé, no Rio Grande do Sul. Depois fez parte do 9.° Regimento de Cavalaria Blindado, em São Gabriel, no mesmo estado. Por último esteve no 14.º Regimento de Cavalaria Mecanizado - São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Em 2 de dezembro de 1980 foi doado ao Museu do Expedicionário.

Carro de combate rodou por Rio Grande do Sul e Santa Catarina antes de ser doado para o Museu do Expedicionário.Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

O imponente P-47

A estrela do Museu do Expedicionário é o avião P-47 Thunderbolt. A aeronave foi o caça monomotor mais produzido para a Segunda Guerra Mundial e largamente usado pelos Aliados. Era um caça de interceptação para abater outros aviões, mas ele era grande e o armamento pesado. Por isso, no fim do conflito, se revelou um ótimo aviação de ataque ao solo, sendo assim usado pela Força Aérea Brasileira (FAB) na Itália.

O modelo exposto na praça ostenta a pintura A4, avião pilotado pelo então 2.º tenente aviador Alberto Martins Torres na Itália Mas não se trata do próprio, já que ele se acidentou em 1946 no Rio de Janeiro e ficou destruído. A aeronave de fato seria o P-47D-25-RE, matrícula C1, número de série 42-26762, pilotado pelo capitão aviador Fortunato Câmara de Oliveira. No pós-guerra ele foi enviado para a Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e posteriormente transferido para o Centro de Oficiais Especialistas (COE), no Bacacheri, em 1952.

P-47 Thunderbolt sustenta a pintura do avião pilotado pelo 2.º tenente aviador Alberto Martins Torres.Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

Em Curitiba esse avião ganhou a companhia de outro P-47, mas de uma versão mais nova, o P-47D-40-RA, de uma leva que chegou ao Brasil depois da guerra, com número de série 45-49485. Este exemplar seria, na verdade, o que está na praça e não o que esteve em combate na Itália.

“Havia dois P-47 no Bacacheri, um verde e outro prateado. O verde com certeza era veterano de guerra porque todos os P-47 recebidos após o conflito foram pintados com uma tinta prata. Tanto era assim que os verdes eram chamados de italianos porque foram para a guerra. O avião que foi para a praça era prata. Infelizmente ao invés de avaliarem o valor histórico, provavelmente ficaram com a aeronave que estava em melhores condições”, sustenta o pesquisador de P-47, Vicente Vazquez.

Segundo ele, o avião do museu tem algumas características que não coincidem com a versão da aeronave pilotada por Fortunato e que são típicas dos modelos recebidos pelo Brasil no pós-guerra. “As características não batem”, reforça Vazquez.

Entre as diferenças estão a existência do chamado flap de mergulho abaixo das asas e o farol de pouso posicionado próximo à ponta da asa esquerda, que são incompatíveis com os P-47D-25. Além disso, a aeronave tem vários furos sob a asa, que coincidem com pontos de fixação de suportes para foguetes típicos da versão P-47D-40.

Modificações na asa do avião sugerem que ele seria de um modelo que chegou ao Brasil posteriormente à Segunda Guerra Mundial.Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

O diretor do museu refuta essa versão e garante que a aeronave se trata daquela pilotada por Fortunato na Segunda Guerra Mundial. “O P-47 do museu esteve em combate na Itália e se trata do P-47D-25-RE Thunderbolt, que foi entregue ao 1.º Grupo de Aviação de Caça na Itália em 14 de janeiro de 1945”, afirma.

Um ou outro, o avião foi transportado para a praça em 23 de outubro de 1969 por iniciativa do mecânico e ex-integrante do 1.º Grupo de Aviação de Caça na Itália, sargento Eronides João da Cruz, e do brigadeiro Délio Jardim de Matos, na época comandante da COE. Está, assim, prestes a completar 50 anos em exposição.

Manutenção em dia

Tanto o M3 Stuart como o P-47 Thunderbolt passam por manutenções periódicas. Por estarem ao ar livre, recebem trabalhos ao longo do ano para minimizar os danos causados pelas chuvas e a poluição ambiental. A cada três anos os equipamentos sofrem um processo de conservação mais completo.

Segundo o Museu do Expedicionário, tanto o Exército como a Força Aérea cedem pessoal especializado para deixar o avião e o tanque como novos. Em 2018, por exemplo, técnicos da Ala 12, a antiga Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, estiveram no museu para restaurar a pintura do P-47.

Especialistas da Base Aérea de Santa Cruz trabalham na revitalização da pintura da aeronave em 2018.Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

Em 2017, a Legião Paranaense do Expedicionário (LPE) passou ao Exército o imóvel e formalizou a doação do museu. A partir disso, a instituição conseguiu importantes avanços, como o aumento do número de visitas guiadas por dia, adição de placas informativas em inglês, gravação de um vídeo institucional e a presença de uma museóloga para trabalhar diretamente na revitalização do acervo e montagem de exposições temáticas. Além disso, com a apoio de outras instituições, um sistema de alarme de incêndio foi instalado no ano passado.

“Os saldos dessas mudanças têm sido bastante positivos e comprovados pelos resultados de pesquisas de opinião junto aos frequentadores do museu, que no ano de 2018 ultrapassaram a casa dos 31 mil”, comemora o diretor do Museu do Expedicionário, coronel Zendim.

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